A Lua dos Subjugados

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Quando caminho sob esta terra, caminho sozinho.
Sobre ela, com os chinelos apertados, sobro.
O que resta pra mim se não os restos?
Os olhos brilham as luzes dos outros, chorar é proibido ou emprestado.
Cheguei à conclusão, por soma de semelhanças, que posso ser um tipo de lua.
Minha órbita, porém, se dá com os pés no chão – a ironia é clara.
Ao vê-la daqui, sinto, vagamente, um novo medo.
Acredito que ela tenha medo do escuro.
Tenho medo dela.
Ela tem medo do escuro.
Copio, copio.
Ao vê-la daqui, grande quando cai a noite, sinto, de súbito, a solidão.
Longe de todas as outras estrelas, longe dos planetas, longe até do que está perto.
As proporções são inúteis também, não a deixam menos sozinha.
Não me deixam menos sozinho.
Enxergo a lua, no espelho, quando encaixo os meus olhos nos dela
e não vejo vida.
Se for eu mesmo, pelo acaso dos traços, um tipo de lua, gostaria que o sol parasse de nascer. 

— naoperina

Carta Aberta Ao Meu (Quase) AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora