Carta que deixa saudade

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Carta n° 3:

Hoje estive observando o tempo, no escuro de qualquer quarto, é engraçado como parece haver tanto desde que nos conhecemos, enquanto minha infância ainda me é tão recente. A dor da lembrança se assemelha ao vinho, envelhece e seu amargor se torna mais saboroso, mas já vejo que o nímio consumo apenas me enruguesse junto às páginas dessa história maculadas das digitais de meus pensamentos - não é a mesma que vivi. O espelho se faz fenestra de minha mente, anamnese de que viver é diferente de sonhar, os nuances soam inaudíveis. Ah, fosse o silêncio quem me banha, mesmo na palidez de meu rosto a hemorragia revive as cicatrizes de meus remotos pesares.
Já se foram tantos janeiros desde aquela estação, ainda repouso e amanheço na claridão do dia enquanto compasso a noite de olhos abertos. De repente olho aos céus, o cinza avermelhado da capital - seria uma bela paisagem para se observar na varanda em um dia chuvoso, daqueles em que procuramos comer algo assistindo um filme ou ouvindo uma música -, o sol nasce brevemente, talvez tudo tenha passado um tanto rápido para mim. A tinta da caneta me é tão comum, escrevi muito sobre minha alma e o perfume da tinta ressalta em meu fôlego.
É tempo para se acalmar, o café tem um bom sabor na xícara. Não falo mais de medo, o que eu havia escrito vai se deixando levar pelas ondas, como também a solidão tem deixado os quadros a cada vez que seguro sua mão. Quero ouvir teus segredos, me conte algo que contagia, uma boa fantasia para se ter. Eu não conseguiria entender sua partida, seguraria a luva que deixa nua entre os versos naufragados. Um suspiro... Ainda imagino aquela fonte onde nos encontraremos, a esperança de nos sentarmos sem desespero, pairando em tudo o que me ensinou, hoje é a saudade o que me livra do vazio.
Soa como um segredo, um sussurro, mesmo que minha pupila atroe o interno estrépito - tantos eus - clamando pela vida a um sonho... A lágrima derrama a vontade de te ter aqui. Quantas vezes quis escrever e há tempos me impedi, mas se não cessasse eu não seguiria em frente. Agora deixo, em calma, o tempo lhe entregar essas palavras. Se tudo parecer tão distante, só quis te dizer "Saudades".

- Magnus Odin

Carta Aberta Ao Meu (Quase) AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora