Carta n° 2:
Não é fácil te escrever, assim como não é nada fácil sentir o que sinto a cada vez que penso em ti, a cada vez que pronuncio o seu nome, a cada vez que me lembro do seu olhar, tão enigmático, tão inacessível. Me pergunto que tipo de amor é este, em que dedicamos nosso sentimento mais puro a quem não é capaz de nos corresponder, ou sequer nos notar.
Enquanto escrevo, sinto um nó se formar na minha garganta, sinto meu peito apertar, e até uma ou outra lágrima rolar. Me envergonho de mim mesma, por estar neste estado, estagnada, perplexa, incapaz de me mover, enquanto você segue muito bem a sua vida sem a minha companhia, e, do lado de cá, me sinto morrer aos poucos, perdida neste enorme vão da sua ausência.
Li outro dia que Deus não coloca em nosso coração um sonho maior do que podemos alcançar... Mas por que você, meu sonho mais genuíno, se faz tão inalcançável a mim? Por que é tudo tão difícil? Por que não podemos ser, de fato? Por que não consigo me livrar deste sentimento, tão denso aqui dentro, mas tão vazio de plenitude?
Eu amo você. Amo cada parte do seu ser. Amo suas qualidades tantas, e até os seus defeitos infímos. Sim. Eu amo muito você. E você sabe bem disso... E até seus amigos sabem, quiçá sua família... Sou a grande trouxa na sua história. Sou sempre o vulto, a sombra, a outra. Vez em quando sou o seu ombro amigo, outras vezes sua colega. Quando tenho sorte, recebo suas generosas migalhas. Mas o fato é que, na maioria das vezes, eu não sou nada. Dói saber que nunca serei.
Você tem sua vida, seus amigos, sua rotina, seus amores. Te vejo com outra pessoa e meu mundo desaba sob meus pés, vejo seus dedos entrelaçados à outra mão, e cá estou, novamente neste vão. Me pergunto onde está essa tal sorte do destino, queria saber qual acaso me levaria até você... Se é que isso seria possível. Se é que este sonho é passível de realização. No fundo, eu sinto que não. Mas preciso alimentar esse resquício de esperança. Preciso disso, sabe... pra viver, pra seguir. Sigo assim, neste apego a uma ilusão.
Mas não lhe escrevo para cobrar nada. Amor não se pede, sei bem. Não posso lhe exigir correspondência, ou sequer alguma mínima retribuição de sua parte. Por isso, esta carta não é um pedido, nem tampouco um apelo. É apenas mais uma vã declaração deste amor tão presente em mim. É apenas mais uma materialização, de fácil alcance a ti, de toda a imensidão que você despertou aqui dentro, sem querer. Mas aconteceu. Me tomou, dominou, derrubou. Hoje sou este desastre imperceptível... Guardo meu amor próprio no armário, e tento te oferecer o que existe de melhor em mim. Sobre o que sinto lhe garanto que é real, é sincero, é genuíno, é incondicional. É amor não correspondido, é amor descartado, é amor de doer a alma, é amor de perder o tino, é amor de se perder... Mas, acima de tudo isso, acredite, é amor.
— Bruna Testi.
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Carta Aberta Ao Meu (Quase) Amor
PoesiaAmores não correspondidos ou apenas poemas aleatórios que transbordam em seu coração.