Capítulo 6;

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Aurora

Depois que eu deixei Ray entrar, fiquei confusa, uma mistura de raiva e felicidade tomou conta de mim, mas não deixei ninguém perceber esses sentimentos, a última coisa que quero é estragar a noite de todos. Enquanto todo mundo estava na sala, coloquei mais ração para o Thomaz e chequei se estava tudo certo com ele na cama. Quando voltei para a sala, fui bombardeada de perguntas ao meu respeito, mas a que mais chocou todos foi o meu hobby de tocar instrumentos de corda e cantar. Lisha foi a que mais insistiu pra eu cantar alguma coisa, mas faz muito tempo que não faço, então não acho uma boa ideia, e peço para ela parar de insistir, e escolher um bom filme de terror para assistirmos, enquanto eu iria ligar para pedir a pizza.

Imaginando que iria demorar para a pizza chegar, pedi para o atendente fazer o possível pro pedido não demorar tanto, mesmo sabendo que eles ignoram e detestam pedidos desse tipo, mas o que eu poderia fazer, não queria decepcionar meus convidados. Para a minha surpresa depois de uma meia hora, ouço a campainha tocar, imaginando que seja a pizza, pedi para a Lisha atender, enquanto iria pegar os refrigerantes na cozinha. Não querendo pagar de adolescente decente e correto, mas eu não gosto de beber alcoólicos, e pelo que eu percebi da vibe da galera aqui, o único que curte bebida alcoólica é o Ray, mas como ele não foi convidado, não teve o aviso que poderia trazer a bebida que quiser.

Quando estou voltando para a sala, ouço um grito, largo tudo pelo chão e corro em direção ao som, chego na sala ao mesmo tempo que Jack, e Lisha está desesperada com um cara a segurando, sem pensar muito taco a primeira coisa que vejo na minha frente na direção dela e do ser que a segura, corro e tento pegar meu canivete escondido na cintura, pra justamente conseguir agir rápido em situações desse tipo. Quando o objeto os acerta, ele a solta com a distração, me aproveito disso e pulo em sua direção, esfaqueando a sua coxa.

Percebo tudo que realmente aconteceu quando o escuto gritando e reconheço tanto a face sendo iluminada e sem o capuz, tanto a voz não tão grave e nem tão aguda. Sinto uma sensação horrível de diversos sentimentos opostos, assustada com tudo que aconteceu, feliz por nunca ter sido nada grave, culpada por ter machucado feio uma pessoa, feliz por não paralisar e talvez evitar uma tragédia em uma possível situação real. Com o choque só fiquei deitada olhando para a cima, pensando em tudo que aconteceu, enquanto Lisha me levanta e tenta me fazer voltar pra realidade, e Jack pega Ray e o leva para o meu quarto.

Me recupero, e subo as escadas seguindo-os, com o Ray fingindo que está tudo bem segurando o lugar da ferida pra estancar mais rápido o sangue, pra nossa sorte não foi em algum lugar grave da coxa que a lâmina pegou, e também, não foi um corte profundo como pareceu que iria ser. Peço para Jack o deixar na minha cama.

_Desculpa pelo corte. – Digo limpado o ferimento com álcool e observando ele fazer uma cara engraçada por conta do ardor.

_Você deve ter tido um passado tenso, ou assistir filme de terror demais para ter uma reação tão rápida assim.

­_A primeira opção, mas não quero falar disso, passado é passado, e pronto, terminei, podemos voltar. – Digo passando o remédio e finalizando com a gaze e o esparadrapo.

_Tenho certeza que vai curar logo, já que tive um tratamento de primeira, com a melhor enfermeira. – Ele diz com uma cara de idiota, tentando me conquistar.

Não vou mentir, quase me pegou, porém não quero criar laços forte por ninguém, mesmo não acreditando nisso de verdade, pois tudo que eu queria era poder abraçar alguém forte e desabafar sobre como eu me sinto, sobre a morte da minha mãe, as mudanças constante de humor do meu pai, o fato que ele nunca esteve presente de verdade, e como é complicado estar sempre sozinha e ter um único amigo que faz tudo por mim, mas não poder demonstrar o suficiente o quanto ele é importante pra mim, pois eu tenho medo de algo de ruim acontecer com ele da mesma maneira que aconteceu com a minha tia, que inclusive... sinto muita falta, e foi por minha culpa que ela morreu naquele dia... não posso mais permitir que ninguém se aprofunde de mais na minha vida.

_Se você acha... inclusive, sua namorada deve estar furiosa que você está comigo aqui, e não aproveitando a noite com ela. – Falo mudando de assunto e tentando faze-lo lembrar que ele namora.

_Terminamos, algo que nem deveria ter começado. – Fala sério olhando fixo para um canto da parede.

_Bem eu vou tomar um banho, se me der licença, pode descer e comer e continuar assistindo com os outros lá em baixo, logo eu desço. –Me levanto enquanto vou em direção a porta do meu banheiro.

Quando sou surpreendida com uma puxada pela cintura e um beijo reconfortante roubado por ele, antes que aquilo piore, o empurro e quando faço isso, olho em direção a porta do meu quarto e vejo Jack observando a cena com uma cara de incomodado. O que não é de se estranhar, já que dei vários sinais claros que não queria aquilo, mesmo no fundo querendo. Eu só o empurro dando um suspiro, e vou para o banheiro e me tranco.

Depois do banho, desço, e Lisha está dormindo no sofá, mesmo ainda sendo só uma da manhã, peço ajuda para o Jack para levar ela para o quarto de hospedes. Imagino que com uma já tendo apagado, a nossa noite termina por aí, então oriento Jack e Ray, para o quarto do meu pai, e falo para eles dividirem a cama de casal, como sempre Ray nunca perde a oportunidade de me incomodar, dessa vez tentando se auto convidar para a minha cama, recebe outra recusa.

_eu ainda vou conquistar você – sussurra em meu ouvido, mas dou ombros e vou para o meu quarto, descansar.

Assim que deito, caio no sono.

"Estou caminhando na floresta, ao lado de minha tia, ela parece de mal humor, resmungando algo que não entendo, continuo andando ao lado dela, quando olho para frente vejo uma silhueta, que me deixa feliz em ver, e me faz correr em sua direção e o abraço o mais forte possível, a única sensação é de paz e conforto.

Mas isso logo acaba com ele se desmanchado em meus braços e eu estou correndo ensanguentada pela floresta, tudo ao meu redor escurece e derrete voltando para o vazio escuro, onde a solidão é inevitável"

Acordo com o coração acelerado, e assim e abro os olhos, vejo a mesma figura sinistra que vi na floresta quando estava indo para a escola de manhã, acariciando meu rosto de maneira gentil. Estranho o fato de não sentir medo, mas fecho os olhos imaginando que aquilo deve ser outro sonho estranho. Quando abro os olhos novamente, nada, ninguém, e nem rastros, sozinha, sempre só.

_Acordada a essa hora? – Pergunta Ray parado na porta.

_Não estou conseguindo dormir, mas isso não é da sua conta. – Falo tentando afasta-lo, mas parece que nada que faça vai fazê-lo desistir, nem a história do meu suposto namorado.

_Eu sei, mas eu sou curioso, e sabe uma coisa que está me deixando ainda mais curioso? Por que seu namorado não veio hoje? E por que parece que você não se importou com isso? – Reviro os olhos assim que ele me faz essa serie de perguntas que mesmo eu não querendo irei responder com a verdade.

_Ele não existe. – Apenas digo isso.

_Eu já imaginava, mas ele pode existir, se você me der uma chance...

Com essa fala eu sou pega de surpresa com um beijo, mas dessa vez eu não paro e nem tento me fazer de durona, apenas aceito e aproveito enquanto for durar isso. Tenho certeza que não vai durar muito, mas é aquilo, que seja eterno enquanto dure. Quando o beijo acaba, o abraço e peço para dormimos juntos, pelo menos por essa noite, talvez com a companhia dele eu não tenha mais tantos pesadelos.

Aurora;  A filha da Escuridão  [revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora