Prólogo

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Abro meus olhos assustada com o som alto que se faz presente, começando a invadir meus pensamentos e com isso, posso sentir minha pupila dilatar em uma pequena fração de segundos que, na verdade, parecem demorar uma eternidade em meus pensamentos obsoletos.

Não sonhe tanto menina boba. Quase posso ouvir mamãe sussurrar para mim e isso me arranca um pequeno sorriso vergonhoso que novamente me faz despertar dos meus sonhos tão incoerentes.

Caminho até o espelho ouvindo a batida alta da sola dos meus sapatos contra o piso de madeira. Ou seria as batidas fortes do meu coração que estão quase ensurdecendo-me? Mas que loucura!

Encaro a minha imagem e penso em formas impossíveis, e diferentes, em que poderia me tornar diferente na noite de hoje, mas então eu conseguiria chamar tanta atenção quanto meus cabelos quase alaranjados já chamam. É melhor não arriscar.

Você está sendo louca, minha querida!

Pego alguns pequenos grampos para não sorrir de novo e dou um jeito de deixar as mechas presas juntos ao topo da minha cabeça. Infelizmente alguns fios grossos caem escorrendo pelo meu rosto, nos últimos dias eu descobri que essas mechas não eram bonitas ou aceitáveis perante homens que, normalmente, estão presentes, então as deixei de lado. Longe de mim querer soar como uma garota má educada que acabou de chegar correndo.

Um suspiro de desgosto escapa dos meus lábios assustando-me, viro-me rapidamente olhando para todos os lados e as batidas descompassadas se tornam suaves e calmas quando percebo estar sozinha no grande quarto de decoração antiga.

Mais alguns grampos são o suficiente para prender os fios rebeldes e apenas mais alguns minutos são o suficiente para me aprontar, ouvindo a música de melodia suave se tornar ainda mais alta. Encaro-me apenas uma última vez focando minha visão nos meus lábios avermelhados pelo batom tão forte, mas é isso, eu estou irrevogavelmente pronta!

Pronta como o coelho branco com relógio sempre estaria.

Meu coração novamente volta a perturbar-me com batidas aceleradas e errantes enquanto ando pelo salão à procura do homem a qual me indicaram; seus cabelos castanhos são a primeira coisa que noto no meio do salão, depois vejo seu lábio levemente contornado e seu nariz afinado. É como disseram-me, ele é um belo rapaz!

Visto-me do melhor sorriso que possuo e tento andar com naturalidade até ele, mas minha forma natural de agir parece não querer dar o ar da graça e eu sei que, se eu perder a compostura ela irá, ela sempre está vendo cada um dos meus movimentos.

Paro na frente do belo rapaz que tem olhos castanhos como duas pequenas avelãs, seguro meu vestido e me curvo a ele, abaixando minha cabeça. O vestido azul tão cheio de Chiffon se espalha pelo chão como o oceano tomando conta de uma pequena parte do salão.

— Levante-se. — Ordena-me e o faço. — Deixe-me olhar para a senhorita.

Levanto a cabeça sem pressa, apenas obedecendo a sua ordem. Seu olhar se prende ao meu rosto e ele encara-me com cuidado, analisando talvez as poucas sardas em meu rosto ou quem sabe seus olhos estejam apenas analisando meus olhos quase tão escuros quanto uma noite sem estrelas.

— Eu esperava uma garota mais bonita.

— Perdoe-me por não te agradar, senhor. — Digo com a voz calma, nem firme, nem mesmo tão baixa.

— Você ainda pode melhorar isso. Vamos dançar.

Movimento a cabeça concordando. Em um movimento calmo ele tem sua mão em minha cintura, a música alta ainda está tocando pelo salão quando ele começa a me conduzir; apenas nós dois, num grande salão. Seus movimentos são calmos, mas isso não faz com que meu coração se acalme, porém, eu continuo dançando ao seu ritmo.

Ele para num movimento rápido assustando-me, congelo sobre meus pés e abaixo a cabeça rapidamente, sua mão agarra o cordão do meu vestido, a parte que esconde meus seios, e eu lhe encaro com descrença.

— Vamos descobrir se ao menos o seu corpo me agrada. — Sua voz é fria como gelo.

Meu coração não dispara mais, pelo contrário, ele se acalma de forma rápida.

Levanto a cabeça e lhe encaro antes de agarrar seu pulso. Seu olhar é de confusão e isso me faz sorrir e afastar sua mão, dou dois passos para trás sob seu olhar. Sua confusão é maior quando as portas do salão se abrem de forma abrupta e os homens de terno começam a entrar. Vinte homens ao total que começam a nos cerca formando um círculo no qual o nosso lugar é o meio.

Não sei de onde ou de quem vem, mas ouço o primeiro disparo e ele cai na minha frente com a barriga sangrando e um olhar de puro desespero, abaixo-me em sua frente e sorrio quando a barra do meu vestido é suja pelo seu sangue imundo, dando ao meu vestido um tom roxo.

— Mas que pena. Nós nunca iremos descobrir. — Sussurro sorrindo.

NÃO!

Abro meus olhos assustada sentindo o suor formar uma pequena linha desde o meu couro cabeludo até a ponta do meu nariz. Jogo as cobertas para o lado e corro até o banheiro sentindo minhas costas arderem. Droga! Droga! Droga! Maldito sonho!

Entro no boxe do banheiro sem sequer tirar a minha roupa, eu quero apenas aliviar a maldita ardência nas minhas costas. A água que cai é gelada como pequenos cubos de gelo, mas é o suficiente para me acalmar. Entro de cabeça embaixo do chuveiro e enquanto meu corpo se molha por completo sinto o alívio começar a invadir-me.

Apenas um sonho bobo, Anastásia.

Apenas um sonho bobo...

A Menina da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora