Fica

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Point of view Dayane

Já estava anoitecendo quando resolvemos ir embora do shopping. Miguel havia aproveitado muito e quando digo aproveitar, quero dizer que me fez sair com várias sacolas de brinquedos novos e roupas. Claro que no início tentei convencê-lo a não levar nada, mas ele era esperto e sabia bem como me fazer dizer sim. "Meus brinquedos e roupas usadas estão em bom estado, mamãe, então quero doar para as crianças que não tem. O que um dia serviu para mim e me fez feliz está na hora de fazer outra criança feliz". Juro por Deus que se eu não fosse mãe dele, não acreditaria se alguém me dissesse que ele tinha quatro anos.

Depois da conversa que tive com Carol, o clima entre a gente mudou. Conseguimos dar boas risadas e relembrar momentos bons que vivemos juntas, era como se de repente eu tivesse esquecido tudo que passei quando ela foi embora, até porque agora eu sabia que não foi por não me amar e sim por me amar demais. Agora estávamos no meu carro, prontas para irmos embora. Enquanto eu dirigia, ela permanecia sentada no banco de trás com Miguel dormindo nos seus braços.

— Você é a coisinha mais linda do mundo. Como pode? — falou baixinho, creio que ela não queria que eu escutasse. — Eu amo você, Miguel. — vi pelo retrovisor ela acariciar os cachos dele, que gemeu e agarrou o pescoço dela. Mas não foi isso o que mais me chamou atenção e sim o que ele falou com a voz de choro.

— Mamãe! — percebi o rosto dela perder a cor, mas resolvi não falar nada. Apenas parei o carro no sinal.

— É a tia Carol, meu amor.

— Estou com medo, mamãe. Ele vai me pegar.

— Quem vai te pegar?

— O Coringa. — ele respondeu de olhos fechados e Carol sorriu.

Não tenha medo, pare de chorar. Me dê a mão, venha cá, vou proteger-te de todo mal, não há razão pra chorar. — Carol cantarolou baixinho e senti um arrepio percorrer meu corpo, no mesmo instante em que Miguel se acalmou novamente.

— Chegamos. — falei assim que estacionei em frente ao prédio onde ela morava.

— Obrigada. — agradeceu. — Digo, pelo dia de hoje e por me trazer em casa.

— Obrigada você por não recusar. — fui sincera.

— Tenha uma boa noite, Day. — ela abriu a porta, saindo do carro com meu filho nos braços. Franzi o cenho ao ver que ela começou a se afastar. Abaixei o vidro.

— Carol? — chamei.

— Oi? — parou de andar e se virou para mim.

— Não está esquecendo algo? — franziu o cenho e continuou me olhando com confusão nos olhos. — O Miguel, Carol. Para onde você está o levando?

— OUCH! — falou alto. — O Miguel. Eu... ai que merda! — se atrapalhou e comecei a rir, abrindo a porta do carro e saindo do mesmo.

— Que tipo de pessoa esquece que está com uma criança nos braços?

— Às vezes me acontece. Mas juro que é a primeira vez que me acontece com uma criança. Eu só... esqueci. Que vergonha! — ruborizou e eu gargalhei.

— Bom, você tem duas opções agora. — ergui dois dedos. — Você pode me entregar meu filho e vou embora ou você pode me convidar para subir.

— Gostei da segunda opção. — fez um sinal com a cabeça para eu segui-la.

— É melhor eu carregar ele, está quase do seu tamanho.

***

Quatro andares depois, estávamos dentro do apartamento dela. Ele não parecia muito grande, porém era confortável e muito bem organizado. Coloquei Miguel deitado no sofá e olhei ao meu redor, enquanto ela voltava da cozinha com dois copos de suco. Me aproximei da mesinha de centro e me surpreendi ao ver um porta-retrato com nossa foto.

Um Bebê Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora