~Capítulo 6~

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13 de Abril, 2010

Minha mãe ainda estava dormindo quando eu acordei, então pulei por cima dela para poder sair da cama. O dia estava frio. Eu amo frio.

Julius, um dos palhaços, estava fumando atrás da barraca da minha família. Seus olhos estavam cansados, como se ele tivesse ficado acordado a noite inteira. Provavelmente bebendo. Quando ele me vê, sorri e eu recuo um pouco, devido a sua reputação. Ele deve achar que só por eu ter 12 anos eu sou inocente, e que eu não sei que no seu corpo existe só álcool e fumaça. Não entendo muito bem por que ele fica se destruindo, se ele sabe que aquilo faz mal. Minha mãe diz que ele não consegue parar, mas eu não consigo entender de qualquer jeito.

Eu volto para dentro para por um par de botas. Começo a pular em poças que a chuva recém caída deixou, sem medo, e com a certeza de que se eu cair, alguém irá me socorrer. Afinal, somos uma família, não somos?

Meu objetivo era simples: pular em todas as poças de água que encontrasse pela frente. Esse era o meu plano para um dia "perfeito" e inesquecível.

Até aquele momento da minha vida, meus pais tinham testado praticamente todas as coisas que eu poderia fazer no circo, e agora era a vez deles me aguentarem. Nunca tinha sentido prazer em alguma coisa relacionada ao circo. Talvez fosse pela minha enorme curiosidade, afinal, eu nunca tinha visto o mundo, a não ser pela tela da televisão, ou a janela da vanzinha que transporta os artistas do circo. Ou talvez fosse apenas o destino falando que aqui é o meu lugar.

- Então você é uma apresentadora agora? - Me viro para ver quem é, mesmo reconhecendo aquela voz de longe: Jason.

Jason Drake é filho do homem que apresentava o espetáculo junto com os meus pais. Ele é apenas 2 anos mais velho que eu, mas na nossa idade, isso faz uma diferença enorme. Confesso que sempre tive uma quedinha por ele.

- Fazer o que né... - Respondo, fingindo uma voz cansada.

Ele sorri, e balança a cabeça para retirar a franja do rosto. Eu coro. Ele fica uma gracinha quando faz isso.

Nós somos melhores amigos desde que eu me entendo por gente, mas existe alguma coisa diferente nele. Algo que faz eu me sentir especial. Mas também é algo perigoso, como se ele pudesse controlar a minha mente. Enfim... eu gosto dele. Talvez seja pelo fato de ele ser um dos únicos garotos que eu conheço, e o que cheira melhor, ou porque ele me trata bem, mesmo com todas as outras pessoas me julgando por eu aparentemente não ter talento em nada que me propõem.

Sim, eu sei, eu sou apenas uma criança. Mas fazer o que? Nunca me tratam como tal.

- Então... Como você tá? - Ele pergunta, me tirando do transe. - Eu sei que isso tudo é meio chato pra você, mas não imagina o quão sortuda você é. Tanta gente gostaria de ter a chance de, tão cedo, fazer isso. - Ele ruboriza, o que faz eu repetir o mesmo ato. - Espero que um dia você perceba isso.

Eu até entendo o que ele quer dizer. Realmente existem muitos jovens com uma veia artística e com certeza muito talento, querendo estar no meu lugar, trabalhando com o que ama. Mas eu não tenho uma veia artística, e definitivamente não tenho um talento ou um dom.

- Mas eu só sinto que isso não é para mim, sabe? Essa coisa de se apresentar em frente a uma platéia e ganhar aplausos e... - começo a ter calafrios só de pensar na possibilidade. Deve ser horrível ter todos os olhos em você, centenas de pessoas observando cada passo que você der, cada erro.

Ele se despede, nós conversamos mais um pouco, e eu volto para o trailer da minha família. Hoje é o dia.

A cada passo que eu dou, me sinto como uma ovelha indo para o matadouro.

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