Exausta. Não consigo pensar em nenhuma outra palavra que defina melhor o que eu estou passando nos últimos dias. Não tenho vontade nenhuma de continuar.
Eu estou exausta.
Talvez eu esteja sendo dramática. Talvez não seja só por este trabalho perdido. Não. Eu já passei por coisas piores.
Eu estou acumulando os problemas, até virar uma enorme e pesada bola de neve. E uma hora essa bola de neve precisa quebrar. E eu já tentei tanto, que em algum momento eu só... parei. Eu desisti
Mas restava uma fagulha de esperança em mim. Uma última fagulha. E ela se apagou no momento que eu saí por aquela porta, no dia da entrevista.
Fiquei os últimos três dias sentada em frente ao velho sofá amarelo grudada a um pote enorme de sorvete de chocolate.
Às vezes Lizzy me consolava, do seu próprio jeito, ou Mike falava alguma coisa para ver se eu me empolgava, ou ao menos me mostrava interessada, e nada.
Max não apareceu em momento nenhum, e talvez isso tenha colaborado com o meu estado, pois isso me magoou. Doeu de um jeito que eu não fazia ideia que iria.
♥️
No quarto dia, não fiz questão de ir ao quarto, dormi no sofá mesmo. Estava sonhando com uma deliciosa e gigante torta que estava se... clap. Como assim "clap"?
Isso não fazia parte do meu sonho.
Clap, clap, clap, clap.
O barulho se intensifica. A minha torta desapareceu, e parece que eu estou prestes a acordar.
Quando abro os olhos, uma Lizzy muito brava está me encarando. Ela está batendo palmas, o que explica o barulho intrometido no meu sonho.
- Finalmente, Bela Adormecida! - Ela fala, claramente irritada.
Aceno com a mão. Estou sonolenta demais para falar qualquer coisa.
- Olha aqui, Lexie, o negócio é o seguinte... - Faz uma pausa dramática, antes de continuar. Lá vem. - Eu não aguento mais ver você sentada nesse sofá. Você perdeu o trabalho é isso é uma merda, e eu sei que a sua vida também está ruim no momento, mas ficar comendo sorvete não vai adiantar NADA. E daí que você não aguenta mais? Supera. Todo mundo tem problemas, e todo mundo vive com eles todo santo dia, então por que com você é diferente? Eu te prometo que uma hora tudo isso vai ficar melhor, e você vai ficar bem, mas para isso você tem que se mover. Então meche a sua bunda para fora daí, vai tomar um banho e lide com isso.
Uau.
Seu discurso foi grosso e nem um pouco doce, mas de alguma forma me fez abrir os olhos. Me fez querer obedecê-lo.
Eu não falei nada, apenas me levantei, e fui em direção ao banheiro. Quando me olhei no espelho, senti vergonha. Eu estava um horror. A palavra "fracassada" estava escrita na minha testa.
Aquela pessoa não era eu.
Tomei finalmente um banho e me vesti com uma roupa nova. A roupa que eu usei no meu último aniversário. O último que eu comemorei com meus pais. E seria o último para sempre.
Mas não deixo isso me abalar. Me arrumo e até passo um pouco de maquiagem, depois volto para a sala. Lizzy me olha e seu rosto brilha de satisfação, dever cumprido.
- No fim das contas você não estava errada, afinal. - falei, indo em sua direção para um abraço.
Depois ela me avisou que tinha que sair, e pediu que eu tomasse cuidado, qualquer coisa.
Quando a porta bateu eu já sabia o que fazer a seguir: ligar para Max.
Eu não aguentava mais me sentir assim. Dane-se aquela conversa toda que eu tinha dito de que eu não preciso dele ao meu lado. Eu preciso. Demais.
E isso essa saudade, esse sentimento de que eu estou incompleta, está me consumindo por dentro.
Alexa: Tá aí???
Alexa: Max, eu preciso falar com você. Vem logo.
Mandei a mensagem nervosa. Tinha repensado tantas vezes o que escrever, mas no fim pus apenas isso. Não queria deixar ele assustado ou coisa do tipo. O celular vibra.
Max: Oi. Tá tudo bem?
Alexa: Você vem?
Max: Eu... O que houve?
Alexa: Eu preciso de você.
Max: Achei que você sabia se virar muito bem sozinha.
Consegui imaginar um sorriso surgindo no canto da boca dele. Ele sabia mesmo como me irritar. O celular vibra novamente.
Max: Estou indo.
Ao ler, começo a saltitar. A solidão já estava me matando, não sei quanto tempo mais eu iria conseguir me manter sã.
♥️
A campainha toca, eu paro o que eu estou fazendo imediatamente, e vou correndo atender. Abro a porta, e quando me deparo com ele, tenho uma reação espontânea de me jogar em seus braços e o abraça-lo.
Ele parece surpreso com o ato, mas não o julgo, eu estou surpresa também. Não fazia a mínima ideia de que iria fazer aquilo, mas quando faço, uma sensação de alívio surge. Não fazia ideia do quanto eu estava precisando disso.
- Oi... - Diz Max, tentando esconder um sorriso. - Soube do trabalho, me desculpa.
- Tá tudo bem, não é nada de mais. - Minto.
- Queria poder ter vindo antes, mas aconteceram umas coisas e... - Ele está prestes a falar, e por um momento eu acredito que vá, mas ele hesita.
- Eu sei, você não quer me misturar com sua vida pessoal. - Digo, dando um longo suspiro.
Ele assinte, com os olhos cheios de dor. Mas é o certo a fazer, não é? Não devemos ter uma relação à fundo.
Mas então porque isso parece tão errado?
Sempre achamos que conhecemos o futuro, mesmo que por um segundo, ele muda. Às vezes o futuro muda rapidamente e completamente. E ficamos com a escolha do que fazer. Podemos ficar com medo dele, pensando que o pior vai acontecer.
Ou vamos em frente para o desconhecido, acreditando que ele será brilhante.
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On Fire
Teen FictionAlexa Astley (Lexie) viveu no circo a vida inteira, destinada a ser uma artista lá. Mas isso não é - e nunca foi - o que ela quer. No seu aniversário de 20 anos, Lexie resolve recomeçar a sua vida, sair do circo e finalmente se mudar do minúsculo t...