~ Capítulo 18 ~

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Todos nos lembramos das histórias de nossa infância; o sapato que serve na cinderela, o sapo que vira príncipe, a Bela Adormecida acorda com um beijo do seu verdadeiro amor. Era uma vez... e viveram felizes para sempre.

Contos de fada, coisas dos sonhos. O problema é que, contos de fadas não viram realidade.

São as outras histórias, as que começam com tempestades em noites sombrias e terminam de formas indescritíveis...  são sempre os pesadelos que parecem se tornar realidade.  A pessoa que inventou a frase "E viveram felizes para sempre " estava mentindo, sinto ser a pessoa a te falar isto.

As histórias que contamos são coisas dos sonhos. Contos de fadas não se tornam realidade. A realidade é muito mais agitada. Muito mais turva. Muito mais assustadora. A realidade é muito mais interessante do que viver feliz para sempre.

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Sinceramente, eu não sei o que eu estou sentindo ao entrar. Não é necessariamente medo, mas definitivamente não é felicidade.

Por dentro, Saint Olga não parece nada com o que eu imaginava. Ok, o lugar não é nem um pouco aconchegante, mas pelo menos tem uma aparência limpa e não é muito assustador assim. E definitivamente não tem fantasmas com almas torturadas rondando por aí.

Mas mesmo assim, aquela sensação ruim não saía de mim.

Talvez pelos policiais que estavam passando a mão pelo meu corpo inteiro - e eu tenho quase certeza que um deles repetiu o trajeto sem necessidade - para me revistar.

Ou talvez tenha sido pelo que eu vim fazer aqui. Mas eu quero fazer isso. Eu realmente quero. Eu sei que isso ajudaria bastante na investigação - Max me fez entender isto, de tanto que ele repete - , e a cada dia que passa, o meu desejo de acabar com tudo isso aumenta. Eu não vejo a hora de tudo se resolver. Talvez assim os meus pesadelos tenham um fim também. E quem sabe eu não precise mais me sentir culpada por ficar junto a Max. Q-quero dizer, eu não estou pensando nessa possibilidade. Claro que não.

Mas é claro, eu sei que os danos causados são permanentes e vão me assombrar a vida inteira.

- Senhorita Astley? - Diz o policial carrancudo ao meu lado, me acordando dos meus pensamentos. - Os seus pertences, por favor.

Ele fala, me apontando um balcão, onde a recepcionista parece me olhar como se estivesse no fim do seu expediente e eu só estivesse adiando tudo. Dou tudo para ele, que joga indelicadamente em cima do local.

Outros policiais me levam até um quarto inteiramente branco, com um vídeo na frente. Sinto meu estômago se revirar e um alívio me consome, quando eu sinto a mão de Max sobre a minha cintura.

- Você vai ficar bem. - Ele sussurra no meu ouvido, e recua para perto das outras pessoas com uniforme idêntico ao seu.

Nós trocamos sorrisos, e eu finalmente entro. Fico feliz que tenhamos feito as pazes.

Me sento na cadeira virada a mesa - também branca - , onde suponho que será o "interrogatório". Só que onde deveria estar uma pessoa, não tem nada.

Vejo uma cadeira de rodas ser arrastada para a minha frente, e agradeço por estar sentada neste momento, pois temo que eu poderia me desequilibrar e desmaiar.

- O-o-olá. - Minha voz quase não sai, e minhas pernas estão bambas. Julius MacCarty está mais aterrorizante do que em todos os meus piores pensamentos.

Metade de seu corpo e rosto estão inteiramente queimados, e ele está pálido como uma alma penada. Sua expressão está vazia, como se não existisse nada ali e ele está com os olhos fixos na parede atrás de mim.

- O-oi. - Tento novamente, e apesar de trêmula, a minha voz sai em alto e bom som. E mesmo assim ele não responde.

Me viro para procurar ajuda, mas a detetive Clinton faz um sinal para eu continuar. Vou a primeira pergunta.

- Onde v-você estava no momento em q-q-que tudo aconteceu?

Nenhum som sequer.

- Você sabe quem foi que c-c-causou o incêndio?

A sua boca se abre, e por um momento acho que ele vai falar. Mas, novamente, nada acontece.

Respiro fundo, e tento novamente, temendo a resposta que eu posso obter.

- Existe mais algum sobrevivente? - Desta vez a minha voz sai inteira, e eu vejo os seus olhos se mexerem, e seu corpo se aproximar da minha direção, fazendo eu recuar e lembrar de algumas coisas indesejadas.

- Ah, menina tola, você não vê? - Ergo as sobrancelhas, expressando dúvida. Estou suando tanto, que preciso secar a palma de minhas mãos da calça. - Ele não vai parar até o momento em que todos lá sejam apenas pó. Fico surpreso de você não ter ido junto. - Meu coração acelera. - Talvez.. Ele tenha planos.

Tento não me desesperar.

- Q-q-quem é "ele"? - tento perguntar, e tirar o foco de onde a conversa estava indo, mas ele me ignora.

- Todos sempre falavam de você como "a menina prodígio", ou falando "essa garota ainda vai longe"... mal sabiam eles que você não passa de uma covarde.- Essa palavra me atinge como a bola de um canhão. Nesse momento, as lágrimas já inundaram o meu rosto, e eu não me importo mais. - A verdade é que... A culpa é sua.

Quando ele fala isso, meu cérebro para de funcionar. O desespero me consume e eu saio correndo daquele quartinho minúsculo e claustrofóbico em direção aos braços de Max.

Eu não fico necessariamente em paz, mas as sensações diminuem.

- Você não está mais sozinha, ok? - Ele sussurra e eu assinto, provavelmente manchando a sua roupa inteira com meu choro. - Eu estou aqui agora.

- P-promete que não vai sair? - Pergunto. - Promete que vai ficar para sempre?

- Para sempre. - Ele diz, me afundando em seus braços.

Ficamos assim por uns 5 minutos, até que alguém tosse, e cai a minha ficha: nós temos uma plateia.

Eu me esqueci completamente da equipe policial que estava lá.

Empurro ele, e me afasto. Percebo que ele teve a mesma ideia.

- Esse tecido é bom... É algodão? - Falo, tentando disfarçar.

Não sei se enganou eles, mas não custa tentar.

- Não, é... hum... - Max começa a falar, e fica encarando a sua farda azul molhada. -Eu posso procurar saber e depois... Eu te aviso...

Eu já percebi que ele não consegue trabalhar direito enquanto está constrangido. Ele não consegue esconder.

Estamos ambos com uma cor de um vermelho quase roxo.

Faço o melhor que eu poderia nesta situação: sair dali imediatamente.

On FireOnde histórias criam vida. Descubra agora