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Cheguei ao local combinado, ainda sem saber como reagir ao ver Max. Sei que a partir de agora, demos um ponto final nos beijos e amassos, e nas agarrações no elevador; na sala; na cozinha e... Humm... Voltando para o que importa: nós ainda podemos continuar amigos, né? Quer dizer, amigos não se beijam.
Não sei se eu já estou psicológicamente pronta para falar com ele normalmente, mas eu preciso estar.
Olho para frente, e sinto o meu corpo se arrepiar com aquele local tenebroso. O hospital psiquiátrico de Saint Olga é mais assustador ainda visto de perto, e eu estou cada vez mais próxima a ele.
Uma vez a minha mãe contou-me uma história sobre esse lugar. Uma história sobre como se terminam vidas sem cor. Depois disso, jurei nunca pisar naquele chão.
E aqui estou eu.
Respiro fundo e sinto uma rajada forte de vento me atingir, e uma mão quentinha e calorosa tocar meus ombros. Sinto meu coração pular do peito.
- Alexa? - Aquela voz acaricia a minha alma e acalma os meus pensamentos. Me viro e dou de cara com Max.
Tento ficar com uma postura rígida, mas ela se desfaz rapidamente, diferente da dele, que continua séria.
- O-oi - Droga! Eu estou transparecendo o meu nervosismo. Foca, Lexie, Foca. - Por que eu estou aqui?
Não entendo o porquê, mas ele me parece confuso.
- Acharam um sobrevivente, Lexie! - Minha boca se abre involuntariamente formando um O. - Quero dizer, senhorita Astley.
Reviro os olhos com a formalidade dele, mas tento não demonstrar que fiquei chateada.
- Quem? - pergunto, secamente.
- Um palhaço, Julius MacCarty. - sinto meus pelos se eriçarem e o meu corpo inteiro congelar. - Ele tem queimaduras graves, e apresenta estresse pós traumático.
Julius MacCarty era a pessoa que eu menos gostaria de ver nesse momento. Julius era um palhaço fumante, conhecido por assediar pessoas antes e depois dos espetáculos. Para completar, ele tinha desentendimentos com o meu pai e outros artistas constantemente. Mas como não existiam provas para nada, ele nunca foi punido.
Me lembro e acho que sempre irei, do dia em que ele se aproximou de mim, apertou minha bunda e sussurrou em meu ouvido: "Espera só você crescer para ver o que eu faço com você". Saí correndo desesperadamente e pedi aos meus pais para eu não precisar falar com ele novamente nunca mais, e assim foi feito. Nunca contei a ninguém sobre esta história. E não planejo relembrá-la.
- Caramba, parabéns pelo grande progresso na investigação! Bom, se você não se importa, eu já vou indo, tchau! - Tento escapar do seu olhar confuso, e saio correndo em direção a saída do local, até que a mesma mão que me tocou minutos atrás agarra meu braço gentilmente.
- Tá tudo bem com você? - Me viro para ele, e sua expressão está genuinamente preocupada, o que eu acho fofo, e por um minuto, me faz esquecer de tudo que aconteceu. Até que ele limpa a garganta e continua a falar, quebrando o encanto. - Você tem que estar perfeitamente saudável, se for nos ajudar a interrogar o sobrevivente.
Olho para ele, como se acabasse de contar uma piada. Isso é sequer permitido pela lei? Acho que ele percebe a minha expressão incrédula, pois completa:
- Quero dizer... Você não é obrigada a fazer isso, mas espero que entenda que ajudaria bastante na investigação. - Diz ele, esperançoso.
Mas eu não vou cair nos seus encantos e seu charme. Não desta vez.
- Sinto muito desapontar, mas eu não vou fazer isso. - Estou me virando para tentar sair, mas novamente ele me toca.
- Alexa, por favor, considere. Isto realmente iria ajudar bastante no caso. Ele pode saber de coisas novas. Talvez ele saiba até quem é o culpado. - Ele está sério, e eu sustento o olhar. - Eu te imploro, pense um pouco.
Estou imóvel. Ele me larga, mas mesmo que eu quisesse, acho que não conseguiria sair. Mas eu não vou fazer isso desta vez.
- Engraçado que você só sabe falar "a investigação isso", "a investigação aquilo". Se vocês querem tanto interrogar esse cara, então façam vocês mesmos, caramba! - Vejo surpresa em seu rosto e me irrito um pouquinho. Mas eu não o culpo. Também não sabia que eu era capaz de falar assim.
Ele suspira pesarosamente, e por um momento, acho que ele irá desistir de tentar me fazer mudar de opinião. Que tola.
- Lexie, me desculpa. Por favor, não leve toda esta situação para o lado pessoal, porque eu estou me esforçando bastante para manter uma postura séria. - Ele está me falando que eu sou engraçada? Porque das dezenas de coisas que eu poderia fazer no circo, palhaço foi sempre a que menos indicaram para mim. Como se lesse meus pensamentos, respondeu. - N-não porque você é hilária. Quero dizer... Você tem um ótimo senso de humor, mas não é por isso.
Ok, agora eu estou realmente confusa.
- O que eu quero dizer é: Desculpa, Lexie. Todos estes dias eu fiquei pensando em inúmeras coisas para falar, e muitos jeitos diferentes de pedir o seu perdão, mas nada disso seria tão verdadeiro quanto um simples "Me desculpe". - Ele dá uma pausa, que eu aproveito para assimilar o que está acontecendo.
- Ok.
É, eu sei que "ok" não é uma coisa muito boa para se dizer nesse momento, mas não é como se eu estivesse em condições de conseguir falar alguma coisa com mais letras.
- Então... Você vai falar com ele...? - Pergunta Max, confuso.
- Aham.
Sinto ele saltitando de alegria internamente, e ele abre um enorme e radiante sorriso. Pode ser coisa da minha cabeça, mas eu juro que, depois disso, o céu - acinzentado, até então - ficou mais azul.
Me viro para o Hospital Psiquiátrico de Saint Olga, e o analiso uma última vez, antes de entrar.
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On Fire
Teen FictionAlexa Astley (Lexie) viveu no circo a vida inteira, destinada a ser uma artista lá. Mas isso não é - e nunca foi - o que ela quer. No seu aniversário de 20 anos, Lexie resolve recomeçar a sua vida, sair do circo e finalmente se mudar do minúsculo t...