Beira d'água

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   Ouviu-se um grande grito, seguido de um estrondoso pulo capaz de levantar litros e mais litros d’água. A beira da piscina já se encontrava encharcada, com água escorrendo para todos os lados entre as pedras do azulejo e o gramado. Dentro da água, Victor se encolheu, numa tentativa de se proteger da onda formada. Pedro emergiu logo em seguida ao impacto, chacoalhando a cabeça ensopada como um cachorro brincalhão. O sorriso estampado na face, verdadeiro e espontâneo, como há muito tempo Léo não via o amigo sorrir. Os olhos vermelhos de tanto a água os irritar, porém o garoto estava longe de largar sua diversão.

   — Quero ver fazer melhor! — desafiou, exaltado demais para quem estava cercado apenas por três pessoas.

   — Ah, é? — Victor alongou o braços e o pescoço, numa encenação de que se preparava. — Só observe, amador. — Saiu da água o mais depressa que conseguiu, tomou distância, o dobro da que Pedro tinha tomado, alinhou o topete desfeito pela água e bufou, certificando-se de que tinha ar suficiente nos pulmões para a realização do feito. Sem titubear, lançou-se de volta para dentro da piscina como se sua vida dependesse daquele mergulho. O barulho do impacto não deixou a desejar, muito menos a quantidade de água que voou pelos ares.

   Do lado da piscina, sentados confortavelmente em elegantes cadeiras de praia, Léo e Sandro buscaram formas de se proteger da chuva. Contudo, a quantidade de água que veio em suas direções não seria barrada por simples mãos na frente do rosto. Mas o banho veio de bom grado na tarde quente; não seria algumas gotas d'água que iriam estragar aquele dia de grandes vitórias.

   O sorriso que Pedro exibia não era visto apenas em seu rosto. Todos estavam bastante felizes, os olhos haviam ganhando um cintilar diferente. E toda aquela felicidade resumia-se em apenas um motivo: o Projeto não era mais um segredo.

   Léo não conseguia acreditar que seu plano tinha dado certo, que sua mãe tinha aceitado lutar frente a frente com Paulo e que ela havia conseguido convencer a todos. Parecia tão arriscado e simplório, mas fora o suficiente para que derrubassem de vez o último alicerce que segurava a pesquisa longe das notícias. Era um belo motivo para se estar feliz e comemorar o máximo que pudessem. Aquele banho de sol na beira da piscina tinha um gosto de revigoração, de dever cumprido.

   — Marquei de ver minha mãe amanhã — Léo contou, com a empolgação de quem marcava o gol do jogo. — Pedi pra ela vir aqui, acho mais seguro.

   Sem tirar os olhos da água, Sandro acenou com a cabeça, apoiando a decisão do amigo. O loiro também observou a água, para onde o amigo tanto olhava.

   — Por que não entra? — questionou Léo, apontando para as águas límpidas, mas atormentadas pela movimentação de Pedro e Victor.

   Sandro mostrou as mãos, a todo momento enluvadas, presas por debaixo do pano espesso.

   — Não sei se minha toxina é solúvel em água — explicou. — Os cientistas não chegaram a me contar sobre esse ponto. Então, não tenho certeza se seria seguro pra eles ficarem na água comigo.

   Ele esboçou um sorriso, porém Léo não foi capaz de fazer o mesmo ao imaginar quantas coisas, de quantos prazeres, Sandro teria largado mão por causa de sua adaptação. O garoto era o único que não tinha a doce possibilidade de esconder totalmente do mundo os seus dons, vivia com a preocupação de não ser imprudente para não ferir ninguém, colada a si como uma segunda sombra. Uma responsabilidade grande demais para um garoto de quinze anos.

   — Esses dois se deram muito bem — analisou Sandro, depois de um tempo, enquanto assistia as peripécias dos dois garotos dentro da piscina. — Nem parece que um é ex-namorado da namorada do outro.

Projeto Gênesis - Exposição Onde histórias criam vida. Descubra agora