Capítulo 11

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          A segunda-feira amanheceu amena e sem ventos que denotassem chuva, tempestade ou algo do tipo

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          A segunda-feira amanheceu amena e sem ventos que denotassem chuva, tempestade ou algo do tipo. Um dia muito bonito, azul, limpo, como um dia de primavera devia ser. Eram onze horas da manhã e a rua estava um pouco mais movimentada do que o normal, principalmente na frente da igreja, afinal, os cidadãos queriam ainda de despedir do Padre Harolds.

          Ainda na sacristia, os dois padres conversavam. O mais velho ainda instruindo o mais jovem até o último minuto possível, explicando a ordem em que deveria arrumar os arquivos quando fosse digitar tudo. Entregou-lhe o molho de chaves depois de ter passado as primeiras horas da manhã marcando-as, cada uma com um pequeno adesivo, esclarecendo de onde cada chave era (porta da frente, porta dos fundos, gavetas das mesas, cadeado da frente).

          Harolds parou um momento e olhou em volta a sala que ocupou por trinta anos com um sentimento estranho no peito. Alívio. Sim, o mais doce alívio. Claro que um pouco temperado com tristeza e nostalgia, mas não deixava de ser um alivio. Depois de tantos anos de serviços prestados, sentia que já havia dado o máximo de si e que agora devia merecidamente descansar. O velho padre não pode controlar a emoção que o acometeu naquele momento.

          Ethan pegou a mala do velho homem com a mão esquerda e com a direita envolveu seu ombro num abraço verdadeiro. Juntos os dois saíram pela porta da sacristia, juntos os dois desceram a escada da igreja e ao ver as pessoas nas ruas para desejar-lhe uma boa viagem, outra vez Harolds se emocionou, escondendo os olhos com um lenço e dando a desculpa de que tinha caído um cisco em seu olho.

          De repente, Harolds pareceu tão humano para Ethan, tão cansado, tão velho. Sua pela acinzentada e enrugada no auge de seus sessenta anos, o cabelo grisalho e ralo e seus óculos de armação de metal fina. Sua calça caqui e sua camisa branca de botões por baixo de um casaco xadrez de lã lhe conferiam um aspecto tão comum, como um simples aposentado, não como o sacerdote que passara a vida inteira tomando conta de uma paróquia. Ao vê-lo assim sem sua armadura, Ethan entendeu uma verdade que há muito havia esquecido: os padres não são nada além de homens.

          Algumas pessoas viram a frente e cumprimentaram o velho homem. Muitas pessoas pediam-lhe uma última benção e só então Ethan compreendeu o quando Harolds havia sido uma figura importante para a comunidade.

          Depois que algumas pessoas já haviam ido embora e só restavam Harolds, Ethan e Monty na calçada em frente a igreja, o velho padre se virou para o jovem com um sorriso.

          ─ Bem, agora devo ir. Meu tempo aqui acabou e minha irmã me espera. ─ Harolds disse com um suspiro.

          ─ Sim. – Ethan disse com a voz um pouco embargada também.

          ─ É, garoto, agora é com você. Seja um bom pastor para essas ovelhas.

          ─ Farei o meu melhor. – ele sorriu meio forçado.

O Padre e a BruxaOnde histórias criam vida. Descubra agora