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Lizzie

O chefe está furioso, tão furioso que acho que suas orelhas estão soltando fumaça.

- Alguém tem notícias da Olivia? – esbraveja ao entrar na cozinha. – Nós temos um cliente muito exclusivo hoje que veio especialmente para ver o show e a minha cantora não está aqui! Alguém sabe onde ela está?

Uma das garçonetes abre a boca para falar baixinho:

- Ela está passando mal... foi o que disse.

- Irresponsável! E por que ela não avisou a mim? Agora preciso encontrar uma substituta que cante e dance em menos de vinte minutos!

O silêncio toma conta do lugar e ninguém parece ter alguma ideia que possa resolver a situação. Ninguém a não ser eu. Quero tanto estar naquele palco que meu coração acelera, e essa pode ser minha única chance de mostrar para um público de verdade o que sei fazer. 

Se eu não for agora, não irei nunca.

- Eu posso substituir a Olivia. – levanto a mão e saio do meu lugar, escondida no meio dos outros funcionários. – Eu posso cantar por hoje. – Fico na frente do meu chefe. Ele é tão alto que parece poder me devorar.

- Quem é você?

- Lizzie. – digo. – Lizzie Grace.

- Você tem certeza de que pode comandar o show desta noite, Lizzie Grace?

- Tenho. – afirmo.

- Tenho outra alternativa? – pergunta elevando o tom de voz, mas não há respostas. – Parece que hoje é seu dia de sorte.

Não acredito que isso está acontecendo. Não acredito nas palavras que estão sendo ditas para mim por esse homem assustador.

- Mas escute; se você for um estrago no palco, eu juro que demito você antes que possa dizer: por favor, não faça isso. Entendeu?

Assinto com a cabeça, mas ele continua me encarado tão fixamente que sinto necessidade de falar:

- Entendi, senhor.

- Vá se trocar. Rápido. E vocês; voltem ao trabalho! – sai da cozinha e eu corro para o camarim.

Estou empolgada demais com a ansiedade de estar no palco. Se isso for acontecer mais vezes, preciso começar a me acostumar.

No palco, sinto meu coração acelerar dentro do peito. Respiro fundo pela centésima vez e fecho os olhos em uma tentativa fracassada de me acalmar. Esfrego as mãos suadas no vestido prata brilhante e rodado que vai até a altura dos meus joelhos, e começo a movimentar os dedos dos pés que se tornam inquietos dentro do meu All Star cor-de-rosa. Um dos funcionários me entrega um microfone e pergunta se tudo está pronto. O que devo responder? Devo dizer que acho que estou sufocando e prestes a desmaiar ou afirmo com a cabeça de maneira confiante. Decido ir na segunda opção e repito a frase em minha mente; sempre em frente, Lizzie. Sempre em frente.

A cortina sobe, um canhão de luz acende-se sobre mim e a introdução da música que Olivia canta começa. Mas desta vez, sou eu quem está cantando. O primeiro verso da canção sai trêmulo e nervoso, nunca cantei para ninguém além do meu pai e minhas amigas do orfanato quando era criança, e ver todo esse público meio que me aterroriza, porém, lembro de fechar os olhos e tudo se torna mais fácil. Meus pés caminham pelo palco e danço a coreografia como faço às vezes sozinha em meu quarto.

Durante o refrão, estou sorrindo e deixando a letra sair de mim como se tivesse feito isso minha vida inteira, e ao precisar segurar uma nota no ar por alguns segundos, coloco toda minha energia em minha voz. As pessoas estão aplaudindo agora, e abro os olhos para confirmar a mim mesma de que não estou em um sonho.

Termino o número e recebo mais aplausos. Estou flutuando, vivendo o que sempre quis, estou... vendo Ivone, Frederica e Arlete entrando no restaurante e pedindo uma mesa!

Não penso em nada quando saio correndo do palco e vou imediatamente para o camarim. Começo a trocar de roupa em uma velocidade extraordinária que nem calço meus tênis de volta depois de tirá-los para vestir meu jeans surrado, apenas os jogo dentro da bolsa e vou embora pelos fundos sem pensar nas consequências. Depois me entendo com meu chefe, o importante agora é que Ivone não descubra sobre meu segundo emprego.

Nick

A garota que acabou de cantar saiu do palco como se estivesse fugindo de algo aterrorizante e me levanto da cadeira, me apressando para alcançar o dono do restaurante que nos recebeu mais cedo. Ele vai para os bastidores e o sigo sem dar a mínima se pareço o maluco perdendo a cabeça.

- Nick!  - Fleth vem logo atrás. – Para onde está indo?

O homem abre uma porta e vemos um camarim vazio.

Ela sumiu?

- Mas o que deu nessa garota para sair assim? – ele passa a mão pela cabeça quase careta. – Ah, Sr. Colin, o que faz aqui? – ele finalmente me nota.

- Quem era aquela garota? – pergunto.

- Apenas uma funcionária...

- Qual o nome dela?

- Lucy, Lilly... Não lembro. Sr. Colin, você e seu amigo deveriam voltar para sua mesa...

- Ela saiu com tanta pressa que deixou o tênis pra trás. – me aproximo do sapato cor-de-rosa no chão. – Ela vai estar aqui amanhã?

- Não. Só trabalha aqui aos fins de semana. Ela nem faz os shows, só estava substituindo nossa cantora. – explica e pego o tênis.

- Nick, para de maluquice, vamos voltar lá pra fora – Fleth põe a mão em meu ombro.

- Não é maluquice, Fleth. – o encaro. – Achei a garota talentosa, agora só preciso encontra-la.

Fico olhando para o All Star em minhas mãos e dou um sorriso.

Que voz ela tem.

Cinderela, eu? ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora