CAPÍTULO 3

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Alice

Hoje é domingo. O Arthur inventou de fazer um churrasco na nossa casa de praia em Malibu, só para os amigos mais íntimos mesmo. Ele me deixou à vontade para convidar alguns amigos meus, mas eu só chamei o Olly, afinal, ele é o único amigo que eu tenho desde que o Joe me afastou de todas as minhas amizades.
O Olly agradeceu pelo convite e disse que adoraria ir, mas infelizmente não dá, pois hoje é aniversário da avó dele e a família vai se reunir para comemorar.
Queria muito que ele fosse, amo a companhia do meu amigo, mas entendo perfeitamente o lado dele, família em primeiro lugar.
Ontem, o Arthur havia comprado carnes, petiscos, aspargos, milho, cervejas, bebidas, refrigerantes, sucos e frutas para fazer drinks. Ele levou tudo ontem mesmo lá para Malibu, depois que saiu do mercado.
Hoje acordamos bem cedinho, tomamos um banho rápido e nem tomamos café, arrumamos a mochila com apenas coisas que iremos precisar para passar o dia lá e saímos de casa torcendo para pegar o trânsito moderado, pois o final de semana sempre o movimento é mais intenso.
Nossa casa fica na praia de Zuma, se o trânsito não estiver intenso, chegaremos lá entre cinquenta a cinquenta e cinco minutos. Não vejo a hora de entrar no mar, dar um mergulho, pegar um solzinho gostoso e ouvir o barulho das ondas batendo nas pedras feito poesia sonora.
Já vivi muitos momentos especiais em Malibu, hoje retorno ao meu segundo lar para lavar a alma e matar a saudade desse lugar lindo onde recarrego as minhas energias.

***


Chegamos em Malibu por volta das sete.
Ao abrirmos a porta da frente, singelamente, sinto alguns fios do meu cabelo serem acariciados pelo vento brando que adentra pelas enormes janelas de vidros e paira deliciosamente pela ampla sala.
A nossa casa é bem grande e luxuosa. Meus olhos passeiam pelas paredes lisas na cor branca que encontram-se em perfeita harmonia com o pendente de cristal no teto; pelas janelas e portas de vidro transparente que nos possibilita apreciar a bela vista do mar lá do lado de fora; pela enorme televisão implantada na parede central de frente ao aconchegante sofá branco tomado por almofadas; pela mesinha de centro de madeira rustica com tampão de vidro e pelos quadros de pinturas as abstratas, me fazendo notar que nada mudou desde que vim aqui da última vez.
A minha atenção é desviada da decoração da casa quando ouço a voz da Tracy vindo da cozinha.
Todas as vezes que marcamos de vir para cá, a Tracy vem um dia antes para deixar tudo assim limpinho e organizado.
Deixei a minha mochila no sofá e fui até a cozinha falar com a minha mãezinha postiça, ela estava concentrada preparando a comida quando entrei na cozinha.
— Hummm... Sinto cheiro de Croûton. — Falei de olhos fechados inalando aquele cheirinho delicioso saindo do forno.
Na mesma hora, a Tra virou-se surpresa e abriu um sorriso ao me ver.
— Minha Alice... — Limpou as mão no pano de prato.
— Estava com saudade de mim? — Fui até ela e a abracei forte.
— Você não sabe o quanto. — Respondeu, com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu também estava morrendo de saudade sua, Tra.
Eu amo tanto a Tracy, ela nunca foi apenas uma funcionária, pelo contrário, é como se ela fosse da família. Ela que sempre cuidou de mim e do Arthur, foi tipo uma mãe para a gente e nos ama como filhos.
Meus pais sempre deram total autoridade a ela para corrigir a gente quando necessário, mas ela sempre passou a mão na nossa cabeça.
Quando fomos para Nova York, o Arthur mudou-se para o atual apartamento dele, e a Tra foi trabalhar lá no apê dele a pedido da minha mãe, pois ela sabe que na ausência dela, ninguém cuida tão bem dos filhos dela como a Tracy.
— Como você está, minha menina? — Perguntou, desfizemos o abraço.
— Estou bem. E você? E o tio Joseph? Como estão?
— Estamos bem. — Sorriu.
— Que bom, Tra. — Sorri... — Você vai passar a tarde com a gente?
— Não, infelizmente não vai dar. Eu já havia marcado com o Joseph para visitarmos a família dele hoje à tarde. Só vou terminar de fazer esse Croûton, temperar essa carne aqui e vou embora.
— Entendo... — Peguei um camarão que estava decorando o grits e enfiei na boca. — Bom, vou subir para colocar meu celular para carregar... — Depositei um beijo na bochecha dela. — Te amo muito, sabia?
— Também te amo muito, minha menina. — Sorriu.
Terminei de falar com a Tra, peguei outro camarão, enfiei na boca e saí da cozinha.
Ao chegar na sala, encontrei o Arthur sem camisa, apenas de bermuda tactel deitado no sofá enquanto mexia no celular.
— Os meninos vão vir que horas? — Perguntei e peguei minha mochila que estava ao lado dele.
— Eles acabaram de enviar mensagem avisando que já estão chegando.
— Que bom! Tomara que cheguem logo mesmo. — Falei enquanto consultava o horário na tela do meu celular. — Vou subir, daqui a pouco eu desço.
— Tranquilo. — Respondeu.
Subi para o meu quarto, joguei minha mochila na cama e peguei meu carregador dentro dela.
Depois de conectar o carregador na tomada e no celular, eu sentei na cama e fiquei mexendo um pouco. Havia várias mensagens do Joe falando que já sabia que eu estava em Los Angeles, pedindo para me encontrar e dizendo que me ama. Nem abrir as mensagens dele, ignorei tudo e respondi apenas as mensagens do meu pai e da minha mãe.
Sinceramente, se eu pudesse voltar no tempo, eu teria escutado meus pais e jamais teria me envolvido com o Joe contra a vontade deles.
A minha desobediência me fez pagar um preço muito caro, preço esse que pago até hoje.
Terminei de falar com meus pais por mensagem, deixei o celular carregando, peguei meu biquíni preto dentro da bolsa, vesti, troquei o piercing do umbigo por um menor, passei protetor solar, soltei o cabelo que estava em um coque, peguei uma toalha, pendurei no ombro e desci para tomar um banho de piscina.
Nada melhor que se refrescar nesse calor.
Desci as escadas e quando cheguei na sala, encontrei os meninos reunidos, exceto o Miguel, ele não tinha vindo. Todos estavam apenas de bermuda , chinelo e com latinha de cerveja na mão.
Um bando de cachaceiros, nem comeram nada ainda e já estão bebendo.
— Bom dia! — Falei animada, parando perto deles.
Afinal, como não se animar com uma visão maravilhosa dessa? Um mais gostoso que outro.
— Opaaa! Bom dia, galega. — Phil falou me analisando. — Que saúde, em? — Completou me fazendo sorrir com seu comentário.
— Caralho... — Ouço o Eric falar baixinho, me olhando.
— Eu com uma galega dessa não queria mais nada na vida, juro. — Comentou Kam.
— Com todo respeito, Alice, parabéns! Sem dúvidas, você é a oitava maravilha do mundo. — Disse Ryan.
— Vão tomar no cu de vocês, viados ...— Arthur falou irritado. — E você vai vestir uma roupa, sua otária.
— Me deixa, Arthur. — Dei as costas e saí.
Ótimo saber que os amigos do Arthur me acham tão interessante assim, ou seja, o interesse é recíproco... Vai fazer fila e vem um de cada vez... brincadeira!...ou não.
Deixei a toalha na espreguiçadeira e entrei na piscina, sentindo pouco a pouco aquela água gostosa em contato com a minha pele.
Fiquei ali me deliciando daquela água maravilhosa e daquele solzinho gostoso, só aproveitando e evitando pensar em qualquer coisa que tirasse a minha paz. Fechei os olhos curtindo o momento.
— Gostosa demais... — Ouvi uma voz masculina e na mesma hora abri os olhos, encontrando o Eric parado na beira da piscina me encarando. — A água... — Completou e sorriu.
— Sim, realmente está deliciosa... — Sorri. — Vem, entra.
— Não tem como recusar um pedido seu. — Sorriu e abriu o botão da bermuda tactel que estava usando.
Após tirar a bermuda e ficar apenas de sunga, ele entrou na piscina e veio para perto de mim.
Ficamos nós dois ali banhando enquanto conversávamos.
O Eric me contou que ele e o irmão são nascidos em Honolulu, Havaí, mas que optaram em morar em Los Angeles pelas oportunidades que são maiores, mas que sempre visitam o Havaí, pois tem familiares lá.
Ele também me contou que tem mais quatro irmãs, que o pai dele é uma pessoa incrível e parece muito com o Bruno, e que infelizmente a mãe deles já faleceu. A tristeza na voz dele ao falar da morte da mãe é perceptível, por mais que ele não quisesse demonstrar, deu para notar o quanto ele ficou abatido ao tocar no assunto.
— Poxa! Que barra, em? Mas imagino que onde ela estiver, ela se enche de orgulho do filho maravilhoso que ela tem.
— Espero que sim. — Forçou um sorriso.
Não aguentei vê-lo cabisbaixo, impensadamente, o abracei tentando demonstrar de alguma forma o meu carinho por ele e ele sorriu em meio ao abraço.
O Eric além de gato é um cara muito legal e admirável. Gosto muito dele.
Agora, me responde, custava o tal do Bruno ter a mesma personalidade do irmão? Não custava, né?!
Voltamos a conversar, mas agora sobre outras coisas. O papo estava tão bom e descontraído que nem percebemos quando o Bruno chegou de mãos dadas com a namorada e se aproximou da piscina.
— E aí, Eric. — Cumprimentou o Eric, interrompendo a nossa conversa.
— Olha só quem chegou... — Eric falou animado. — E aí, mano! E aí, Jennifer? Como vai?
— Vou bem. — Ela respondeu seca e me encarando.
Deu vontade de perguntar o que essa otária perdeu me olhando, mas fiquei na minha.
O que essa garota aparenta ter de insuportável, tem de linda.
Ela é um pouco mais alta que o Bruno, tem um corpo bem bonito, pele branquinha, olhos verdes, cabelo liso, castanho e um pouco abaixo do ombro, possui um rosto bem marcante, uma tatuagem delicada de ramo de folhas no antebraço e uma frase pequenininha em árabe no pulso.
Estava usando um short jeans, uma cropped branco ombro a ombro, chinelo branco, óculos escuros, alguns acessórios discretos e cabelo solto.
Ela é linda pra caramba, não nego.
O Bruno também estava lindo em uma bermuda preta, camisa amarela estampada, óculos escuro, um colar dourado com um pingente da cruz, relógio dourado e chinelo preto da Gucci.
Os dois combinam direitinho... tanto na beleza quanto na antipatia.
— Vamos entrar, Peter, esse sol está me irritando e eu preciso gravar storys, ainda não apareci no insta hoje. — Ela falou.
— Vamos. — Concordou. — Bom, vou lá dentro falar com os caras. — Informou ao Eric.
— Tranquilo, bro.
Eles deram as costas e saíram de mãos dadas.
— Ele não falou contigo por causa da Jeniffer, ela é muito ciumenta. — Eric tenta justificar o fato do Bruno ter ignorado completamente a minha presença e não ter me dado nem um " bom dia".
— Eric, na boa, o seu irmão está me fazendo um favor em não falar comigo.
— O que houve?
— Nada, apenas não vou com a cara dele desde a primeira vez que tive o azar de conhecê-lo.
— Olha, não estou querendo fazer você simpatizar com ele à força e nem é porque ele é meu irmão, mas o Bruno é um cara bem legal, deve estar havendo algum mal-entendido entre vocês.
— Não é mal-entendido, é ranço à primeira vista. — Falei e ele deu risada.
Encerramos o assunto, pois ele notou que eu realmente não vou com a cara do irmão dele e nem eu queria ficar falando mal do irmão dele pra ele. Continuamos nosso banho de piscina por mais alguns minutos e depois resolvemos entrar para beber algo.
Saímos da piscina, o Eric vestiu a bermuda, eu espremi o cabelo para tirar o excesso de água, enrolei a toalha envolta da cintura e seguimos para dentro de casa. Assim que entramos, fomos surpreendidos por uma verdadeira bagunça, no som tocava bem alto a música "Titanium", do David Guetta, os meninos conversando e gargalhando enquanto bebiam cerveja e comiam petiscos. Já a tal da Jennifer estava mais afastada falando sozinha com a câmera do celular, obviamente, gravando storys.
O Eric se juntou a eles e eu subi para o meu quarto.
Tirei meu celular do carregador e segui para o banheiro. Joguei a toalha molhada e o biquíni no cesto, entrei no box, liguei o chuveiro no morno e iniciei meu banho.
Ao término do banho, retornei para o quarto, vesti um vestido soltinho de alcinha, passei desodorante, perfume e hidratante, penteei meu cabelo e o deixei solto, peguei meu celular e desci novamente.
Encontrei a sala vazia, mas o som nas alturas e uma barulheira vindo lá de fora, os cachaceiros estavam todos na piscina.
Fui até a cozinha, abri a geladeira, peguei um refrigerante em lata e quando eu ia fechando a porta da geladeira, o Bruno entrou na cozinha.
— Deixa aberta. — Se referiu a porta, mas fiz de conta que nem ouvir e fechei.
— Porra! Qual é seu problema, garota?
Ignorei completamente ele e saí abrindo minha latinha.
Não vou com a cara dele e não faço a mínima questão de forçar simpatia.
Fui saindo para a área da piscina e o Ryan vinha entrando, acabamos nos esbarrando.
— Opaaa! — Segurou em minha cintura e sorriu.
Puta que pariu! Que pegada. Que sorriso. Que homem.
Estou há tanto tempo na seca que qualquer toque masculino a Larissinha dá logo sinal de vida.
— Desculpa... — Falo.
— Tranquilo, galega. — Piscou e saiu.
Ô desgramado gostoso.
Fui até a espreguiçadeira próximo à piscina, me sentei e fiquei ali observando os meninos dentro d'água, bebendo, cantando a letra da música toda errada e rindo feitos uns loucos. A cachaça antes de matar, ela humilha.
Pior que não é nem meio dia ainda e esses seres já estão virados.
— Ai, galega, eu só queria ser essa latinha. — Kam falou ao me ver virando a latinha de refrigerante na boca.
— Você queria era o meu pau nessa sua boquinha. — Arthur rebate e eu dou risada.
Eu estava tão de boa ali rindo das patacoadas dos meninos, quando o insuportável do Bruno se aproximou e sentou-se na outra espreguiçadeira ao meu lado.
Poxa, por que a minha alegria e paz dura tão pouco? Na moral, tanto lugar para ele sentar e ele vem logo pra perto de mim... cara, a casa do caralho é logo ali, custa ele ir pra lá?
Ignorei a presença dele e ele a minha, continuei observando os meninos e ele ficou mexendo no celular.
— Arthur, me empresta o seu carregador. — Ele fala depois de um tempo.
— Poxa, cara, eu nem trouxe, esqueci. Mas o de Alice é o mesmo que o meu, ela te empresta. — Arthur grita da piscina.
— Não empresto não! — Me manifesto logo. — Estou usando. — Minto.
— UÉ... — Ele fala com ironia encarando o celular em meu colo. — Está usando ou não quer emprestar?
— Segunda opção! — Sou curta e grossa.
— Você não tem nada a ver com o Arthur, sabia? Ele é tão gente boa e você é tão antipática.
— Sério? — Indago com ironia. — Pois, eu digo o mesmo referente a você e o Eric. — Me levanto e saio.
É impossível ficar perto desse cara, até a respiração dele me incomoda.

***

Apesar de passar em um piscar de olhos, a manhã foi bem bacana.
Tomamos banho de piscina, brincamos de karaokê e de beer pong, tiramos fotos, comemos petiscos e os meninos beberam pra caramba, enquanto eu só bebi duas garrafinhas de Smirnoff.
Por volta das onze e meia da manhã, o Arthur e Eric foram assar a carne pro almoço e eu e o Kam organizamos a mesa.
Depois de tudo pronto, fomos comer.
A Tracy havia preparado um verdadeiro banquete para acompanhar o churrasco.
Fiz um belo prato com carne assada, grits com camarão, aspargos, salada e Croûton, ainda uma Coca-Cola bem gelada para acompanhar.
Comi tanto que fiquei empanzinada, ao contrário da namorada do Bruno que não comeu quase nada, colocou apenas salada, um aspargo e dois míseros pedacinhos de carne no prato acompanhado de suco natural e sem açúcar.
Depois do almoço os meninos foram tirar um cochilo para passar um pouco o efeito do álcool e lá pelas três da tarde eles acordaram e fomos dar uma breve volta na praia.
Foi maravilhoso estar em contato com o mar, ficar parada em frente aquela imensidão azul observando as ondas quebrando, sentindo o vento tocar o rosto e bagunçar o cabelo, ouvir o barulho das águas e me sentir em casa.
Foi tão gostoso entrar no mar e sentir aquela água geladinha tocar minha pele, mergulhar e sentir a alma sendo lavada.
Encerramos o fim de semana de maneira tranquila.
Os meninos também aproveitaram bastante o mar, ao contrário da namorada do Bruno ficou o tempo inteiro gravando storys e tirando fotos, ele que lute, pois ela não deixa ele em paz, toda hora pede para ele tirar foto dela. Nos momentos que ele ficou sozinho, ele aproveitou bastante o mar como um bom havaiano, outros momentos, ficava no canto dele fumando, não vi ele beber, porém, fuma parecendo uma caipora.
Voltamos de Malibu às sete horas da noite. O Bruno veio dirigindo o carro do Eric, que foi carro que os meninos foram para lá, a Jeniffer veio dirigindo o carro do Bruno, e o carro do Arthur ficou na nossa casa em Malibu. Teve que ser assim porque somente a Jeniffer e o Bruno não beberam, ou seja, os únicos aptos a dirigir.
Assim que chegamos em casa, fui logo tratando de tomar um bom banho, lavei o cabelo, sequei com o secador, vesti um baby-doll confortável e caí na cama morta de cansada.
Amanhã é segunda-feira, dia de voltar à rotina e ter o desprazer de reencontrar o Joe.

 Bruno Mars - Com amor, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora