CAPÍTULO 13

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Alice


19h45min, segunda-feira

Eu nunca fui o tipo de pessoa que se importa com que os outros pensam a meu respeito, porém, pela primeira vez isso está acontecendo. Estou muito incomodada com as coisas que estão passando pela cabeça do Bruno em relação a mim e com a distância que ele vem buscando manter entre nós dois desde que chegamos em casa.
Por incrível que pareça, as coisas estavam fluindo entre a gente e finalmente dando certo, bom, não me refiro a " relacionamento", até porque só ficamos uma única vez, digo em relação a nos darmos bem, sabe? Finalmente depois de algumas alfinetadas e pirraças de ambas as partes, estávamos começando a nos acertar e parecia que uma amizade bacana e leve ia surgir, nenhum vínculo forte, apenas duas pessoas que conversaram e se entenderam. Sem falar na transa que rolou entre a gente e no nível de intimidade que tive com ele hoje pela manhã, que foi algo tão natural e gostoso. Mas é aquilo: " Quando as coisas estão indo bem demais, sempre acontece algo para estragar", e dessa vez não foi diferente. Dá para acreditar que o infeliz do Joe forçou a barra e me beijou em frente ao colégio hoje? Claro que dá. Uma atitude ridícula dessa vindo de um idiota como ele não surpreende ninguém. E para completar a porra toda, o Bruno que estava dentro do carro do outro lado da rua viu tudo e agora está achando que eu namoro.
Claro que eu tratei de me explicar para ele, afinal, ninguém merece ficar com uma pessoa achando que ela é solteira e no outro dia descobrir que estava enganado. O problema é que o Bruno não acreditou em mim e continua achando que eu namoro, mas não vou ficar me justificando para alguém que persiste em invalidar a minha palavra, se ele não quer acreditar em mim, problema dele, a minha parte eu fiz que foi falar a verdade.
Mas é isso, o gato simplesmente ligou o foda-se e está agindo como se eu não existisse, enquanto estive na sala assistindo, ele ficou no quarto dele e evitou qualquer contato comigo.
Já decidi que não vou mais ficar aqui, sei que devo estar atrapalhando e também sei que não está sendo confortável para ele essa convivência forçada comigo, por isso voltarei hoje mesmo para o apê do Arthur, que agora é a minha casa também.
O Arthur deixou a chave com o Bruno antes de viajar, irei pedir a chave a ele e vou meter o pé daqui. Uma noite sozinha não faz mal, amanhã o meu maninho estará de volta e tudo voltará ao normal.
Deixei o meu celular carregando em cima da cama e fui até o quarto do Bruno, onde dei de cara com a porta fechada.
O Bruno é o tipo de pessoa que quando não está legal, se isola e evita contato. Ele não é do tipo que desconta seu estresse, raiva ou frustração nas pessoas, eu queria ser assim, mas basta eu estar com fome para ficar insuportável ao ponto de mandar a primeira pessoa que aparecer na minha frente se fuder.
Receosa, criei coragem e bati na porta.
— Entra, Alice. — Em resposta breve, sua voz rouca e firme ecoa de dentro do quarto.
O timbre da voz do Bruno é meio rouco e gostoso de ouvir, mais gostoso ainda é quando ele sussurra... na verdade, ele é todo gostoso.
Pus a mão na maçaneta, girando-a e abri a porta devagar, dando de cara com ele de costas na janela.
— O que você quer aqui no meu quarto? — Perguntou, ainda de costas.
— Vim pedir a chave do apartamento do Arthur. — Disparo, e na mesma hora ele vira-se para mim, me encarando.
— Para que você quer a chave de lá? — Ergueu a mão que estava com um cigarro queimando entre os dedos, levando o mesmo aos lábios.
O observo levar o cigarro à boca e fumar com uma expressão séria enquanto me encara esperando a minha resposta, quase enfeitiçada com tamanha beleza e sensualidade, lembro de respondê-lo.
— Vou dormir lá hoje. Não estou mais à vontade aqui, na verdade, nunca estive.
Ele afastou o cigarro da boca e umedeceu os lábios com a língua.
— A chave do apartamento do Arthur não está comigo. — Mentiu na cara dura, olhando em meus olhos.
Eu sei que a chave de lá do apê está com ele, eu vi quando o Arthur entregou a ele antes de viajar.
— Está sim. Eu vi quando o Arthur te entregou.
— Está delirando, é? Ou está vendo coisa? — Indagou com ironia, deu mais duas longas baforadas no cigarro e jogou a bituca no cinzeiro que estava em cima da mesinha de cabeceira.
— Bruno, eu não estou com paciência para as suas ironias. Você vai me dar a chave ou não?
— Já falei que a chave não está comigo, tá surda? — Sustentou a mentira no maior cinismo.
— Ok! Já que você não vai me dar a chave, eu vou ligar para o Arthur e pedir para ele deixar eu dormir na casa do Olly, mas aqui eu não fico.
— Você pode até pedir, mas ele deixar? — Sorriu no deboche. — Isso aí são outros quinhentos, minha querida.
— Claro que ele vai deixar, meu filho. O Olly é o meu amigo de infância, meus pais consideram ele como filho e os pais dele me consideram da mesma maneira, sem falar que o Arthur gosta dele pra caramba.
— Então, liga e pede. Quero só ver a resposta do Arthur.
— Vou ligar mesmo. Acha que tô blefando, é? Não estou não, meu querido. — Falei: " meu querido" no mesmo deboche que ele me chamou de " minha querida".
Dei as costas e quando fui abrir a porta, ele passou na minha frente, girou a chave na maçaneta trancando a porta e guardou a chave no bolso.
— Você é idiota, é? Abre essa porra, imbecil. — Esbravejo, irritada.
— Nossa... o pinscher ataca novamente. — Me zoa. — Olha a boca, pinscher raivoso. — Me puxou pela cintura colando nossos corpos.
— Meu filho, o único pinchers que estou vendo aqui é você, inclusive número zero. E outra, a boca é minha. — Rebato, cara a cara com seus olhos castanhos feiticeiros e sua boquinha linda.
— Ah é? Mas quem beija é quem, hein? — Sussurrou  sorrindo, alternando seu olhar entre meus olhos e minha boca.

 Bruno Mars - Com amor, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora