CAPÍTULO 1

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Alice Svendsen


Com o olhar vago e a mente distante, observo através da janela a ambientação urbana de Los Angeles, estou tão distraída que nem sinto o carro em movimento.
Mal posso acreditar que estou de volta, nem consigo mensurar quão feliz estou com a ideia de que logo, logo poderei abraçar o Arthur, meu querido e insuportável irmão.
Com o coração batendo mais forte que o normal, sinto um misto de ansiedade e nervosismo tomar conta de mim, num movimento involuntário, pela milésima vez, ergo o braço e consulto a hora no pequeno relógio dourado em meu pulso, o mesmo marca 11:57min, um minuto só de diferença desde que olhei a última vez.
É, acho que essa minha volta está mexendo comigo mais do que imaginei, também não é para menos, foi em Los Angeles que nasci, morei a maior parte da minha vida e foi aqui também que vivi os momentos mais intensos, marcantes, especiais e inesquecíveis... alguns momentos não tão bons, ou melhor, péssimos, porém, infelizmente inesquecíveis também.
Apesar de alguns acontecimentos que me marcaram de maneira negativa, eu era feliz aqui, me sentia bem e em casa até que, inesperadamente, tive que ir embora. A Tecgmobile, empresa multinacional da minha família, tem sede aqui em Los Angeles, porém, meu pai resolveu abrir uma filial de grande porte em Nova York. Na época, quando ele nos comunicou que iríamos embora para NYC, pois ele teria que acompanhar de perto o processo de abertura, eu fiquei arrasada. Minha vida estava toda aqui, meus amigos, minha escola, meus planos, até mesmo o Joe, a pessoa que ferrou o meu psicológico durante um ano e três torturantes meses.
Eu implorei para ficar, mas o meu pai e nem a minha mãe permitiram, pois além de serem excessivamente apegados a mim, eu era muito nova para ficar longe dos cuidados deles. Já o Arthur ficou, ele estava terminando a faculdade e já estava trabalhando na sede da empresa, ou seja, ficou cuidando dos negócios. Meu pais ligam para ele todos os dias e sempre que dá, estão por Los Angeles para babar o filhinho mais velho. Apesar da vida corrida, meus pais sempre foram ótimos pais, os melhores do mundo, na verdade.
Eu e o Arthur sempre fomos muito grudados, o mesmo ficou super feliz quando eu disse que estava decidida a voltar para Los Angeles e morar com ele esse ano. Ele me ajudou a convencer o papai e a mamãe a deixarem; falou que seria ótimo eu terminar o último ano da escola no melhor colégio da Califórnia, onde eu estudava antes de ir embora, também entrar para a universidade Stanford, seria a melhor opção.
Bom, isso foi o suficiente para os meus pais deixarem, já que nossa educação sempre foi prioridade para eles.

Enfim, cá estou eu.

***

Ao chegarmos em frente ao grande e luxuoso edifício espelhado em vidro fumê, o Brandon, nosso motorista aqui em Los Angeles, parou o carro. Após tirar o seu cinto de segurança, desceu e, prontamente, abriu a porta para mim e estendeu-me a mão com cordialidade, para me ajudar a sair do veículo.

— Obrigada, Brandon. — Sorri, agradecida.
— Não há de quê, senhorita. – Disse, num tom formal. — Precisa que eu a acompanhe até o apartamento do senhor Svendsen?
— Não, não precisa, obrigada.
— Ok. — Bate a porta traseira. — Sua mala. — Pontua.
Ele abre o porta-malas do carro e puxa minha enorme mala rosa de rodinhas. — Aqui está. — Me entrega o puxador e eu o seguro.
— Obrigada. — Agradeço novamente.

Após me despedir do Brandon, puxando minha mala, caminhei até a portaria do condomínio, me identifiquei, falei em qual apartamento eu desejava ir e aguardei o porteiro interfonar e comunicar ao Arthur sobre a minha presença.
Logo a minha entrada foi liberada e eu segui rumo ao hall até ao elevador. Parando de frente aquelas enormes portas metalizadas, apertei o seta superior e assim que o mesmo chegou, adentrei e solicitei no painel o décimo sétimo andar, melhor dizendo, a cobertura.
Sozinha ali, meus olhos pararam em meu reflexo no espelho à minha frente. Fiquei em silêncio examinando a minha própria imagem enquanto em minha mente parecia passar um tsunami de lembranças. Eu estava me encarando, era eu ali, a mesma que morou aqui em Los Angeles anos atrás, mas não a mesma que saiu daqui naquele verão.
Eu tinha me recuperado. Eu tinha voltado a ser quem eu, eu me reconhecia naquele espelho e isso, de certa forma, me deixa imensamente orgulhosa de mim mesma. Só eu sei o quanto eu mudei para agradar quem não merecia, me diminuir para caber no mundo de alguém que só estava me fazendo esquecer de quem eu era para me transformar em alguém irreconhecível. Mas eu voltei para mim mesma, isso é o que importa.
Ao chegar no andar desejado, as portas do elevador se abriram. Segurei firme no puxador da mala e saí arrastando a mesma comigo caminhando pelo extenso corredor vazio e silencioso até a porta do apê do Arthur. Aproximei-me mais e pude ouvir música tocando em um volume moderado misturado com risos e vozes masculinas.
Elevei minha mão à campainha e toquei a mesma. Aguardei alguns segundos, sem obter resposta, voltei a tocá-la.
Odeio esperar e o Arthur sabe bem disso.

 Bruno Mars - Com amor, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora