CAPÍTULO 4

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Alice

Apesar de não estar nada animada para ir ao colégio, levantei um pouco antes do despertador tocar e fui direto para o banheiro.
Imóvel debaixo do chuveiro, sinto a água morna cair no topo da minha cabeça e escorrer sobre meu corpo coberto pelo aromático sabonete de lavanda. Estou aqui, mas minha mente está no Joe. Penso em como ele vai reagir ao me reencontrar e como eu vou reagir ao reencontrar alguém que eu tanto desejei ter ao meu lado e hoje só quero distância total.
Esses pensamentos são perturbadores e fazem meu coração acelerar num início de ansiedade que preciso tentar controlar, então respirei fundo querendo dispensar meus pensamentos e concentro-me em meu banho, finalizando o mesmo e desligando o chuveiro. Vesti o roupão e saí do banheiro secando o cabelo com a toalha. Ao chegar no quarto, fui surpreendida com o meu celular tocando, caminhei até a cama, joguei o edredom para o lado a procura do bendito celular e ao encontrá-lo aninhado entre os lençóis, o peguei e vi na tela que era a minha mãe, logo atendi.

— Bom dia, mãezinha.
— Bom dia, meu amor. Como você está? — Pergunta.
— Bem e a senhora?
— Bem. E seu irmão? Cadê ele? Por que ele não atende as minhas ligações? — O seu tom de voz saiu extremamente sério.
— O Arthur ainda está dormindo, mãe.
— Hoje ele não tem que estar na empresa mais cedo hoje? — Perguntou mesmo sabendo a resposta.
— Sim. Mas...é questão de breve minutos ele acordar e se aprontar. — Tentei melhorar a situação do Arthur.
— Quando ele acordar, mande ele me ligar. Agora vou desligar, estou no trabalho. Tenha um ótimo dia e uma boa aula! Depois a mamãe te liga.
— Ok! Te amo! — Soltei um beijo para que ela ouvisse.
— Também te amo. — Retribuiu o beijo.

Finalizei a ligação, deixei o celular em cima da penteadeira e fui até o closet em busca de algo para vestir.
Optei por uma saia estudantil plissada xadrez rosa cintura alta, uma blusa social branca manga longa com uma regata modal de tricô rosa por cima e calcei um mocassim branco tratorado da Prada. De acessórios coloquei apenas um brinco ponto de luz de ouro branco com diamante e uma singela tiara feita de turmalina rosa. Penteei o cabelo deixando o mesmo solto, fiz uma maquiagem básica, passei desodorante e perfume, peguei o celular e fui no quarto do Arthur para acordá-lo.
Cheguei lá, abri a porta e dei de cara com ele já acordado sentado na cama mexendo no celular e com a cara nada boa.
— Vish... Pelo jeito já falou com a mamãe.
— Já sim.
— O que ela disse?
— Não é da sua conta... — Jogou um travesseiro em mim e levantou-se.
— Idiota! — Joguei o travesseiro de volta nele.
— Seu pai. — Revidou. — Vai tomar café e vê se não demora, pois preciso te deixar no colégio e ir mais cedo para o trabalho. — Falou, entrando no banheiro.
— M.i.l.a.g.r.e! — Falei pausadamente. — Você acordando cedo? Pelo visto, a ligação da mamãe fez efeito. — Quis apenas provocá-lo, pois ele sempre acorda cedo, e recebi em troca um: " Vai se arrombar!", vindo do banheiro.
Ignorei o Arthur e desci para tomar café.
Ao chegar na cozinha, encontrei a Tracy terminando de pôr a mesa do café da manhã.
— Bom dia, Tra. — Depositei um beijo na bochecha dela.
— Bom dia, minha princesa. — Sorriu. — Fiz ovos mexidos do jeitinho que você gosta.
— Hummm... deve está uma delícia. — Puxei a cadeira e sentei-me à mesa.
Coloquei um pouco de café e leite numa xícara, passei geleia no croissant e iniciei meu desjejum.
A mesa estava farta, havia: panquecas, waffle, bolos, pães, biscoitos, ovos mexidos, bacon, queijo, presunto, geleias, manteiga de amendoim, sucos, café, frutas, mousse e muito mais.
Apesar de amar a comida da Tra, eu não consegui comer quase nada, o nervosismo e a ansiedade por saber que daqui a alguns minutos estarei cara a cara com o Joe, me fez perder totalmente o apetite. O pouco que me forcei a comer foi para evitar levar sermão da Tra.
Eu já ia levantando da mesa quando o Arthur chegou e sentou-se para tomar café, pedi licença e retirei-me.
Passei pela sala, joguei o celular no sofá e subi para o meu quarto. Fui direto para o banheiro, escovei os dentes, usei enxaguante bucal, enxuguei a boca e quando voltei para o quarto, passei batom, peguei minha mochila e desci novamente.
Ao me ver chegar na sala, o Arthur pegou a chave do carro e o celular dele que estava sobre a mesinha de centro e saímos de casa.
Pedimos o elevador que logo chegou e nos deixou no térreo, seguimos até a garagem do condomínio, nos aproximamos do segundo carro do Arthur, ele abriu a porta do carro para que eu pudesse entrar, entrei, sentei no carona e enquanto eu colocava o cinto de segurança, ele também entrou e pôs o seu cinto.
— Droga! Esqueci o meu celular. — Falei ao lembrar que havia deixado o mesmo no sofá.
— Que porra, Alice, por que não verifica tudo antes de sair de casa? Já falei que tenho que estar mais cedo na empresa hoje. Lerdeza da porra. — Se irrita.
— Puxei a você... — Retruquei. — Vou lá buscar. — Completei já tirando o cinto de segurança.
— Vai logo e vê se não demora.
Abri a porta do carro, desci do mesmo e fui quase correndo até o bloco A.
Pedi o elevador e quando o mesmo chegou no andar desejado e suas portas se abriram, saí dele apressada e fui até o apartamento. Abri a porta, entrei, peguei meu celular que estava sobre o sofá, saí novamente e fechei a porta em seguida.
O meu celular vibrou avisando que havia chegado mensagem, era do Olly.
Enquanto eu lia, andei apressada até ao elevador e acabei me esbarrando em alguém que havia saído do mesmo.
— Desculpa...
— "Desculpa" uma porra! Olha por onde anda, patricinha mimada do caralho.
Levanto meu olhar e dou de cara com o idiota do Bruno.
Ele estava lindo dentro de um moletom azul marinho com detalhes vermelho e branco, calça moletom também azul marinho, tênis branco, boné branco com os números 'XXIV" estampado, alguns anéis nos dedos e duas correntinhas douradas no pescoço, uma delas com um pingente de cruz.
O que tem de lindo, tem de idiota.
— Olha como você fala comigo, seu idiota. — Esbravejo com raiva da maneira que ele acabou de me tratar. — Eu já pedi desculpa, não quer aceita? Foda-se! — Completo.
— Eu não preciso de suas desculpas, garota mimada... — Agachou-se para pegar alguns papéis que caíram de sua mão.
Ele carregava uma mochila preta nas costas e na mão uma pasta com alguns papéis que caíram juntamente com um pendrive. O observo agachado catando os papéis no chão, e noto que neles há notas musicais e no topo das folhas nomes em negrito, como se fosse nomes de músicas. — Da próxima vez, preste atenção por onde anda. Lembre-se que você está em Los Angeles, não no seu world pink. — Vocifera ao levantar-se.
— Presta você atenção por onde anda, babaca. — Rebati, virei as costas e saí.
Encontrar esse imbecil logo cedo deve ser sinal de que o meu dia será péssimo.
Peguei o elevador e quando o mesmo chegou ao térreo, saí e caminhei rápido até a garagem do condomínio. Fui até ao carro do Arthur, entrei no mesmo e me sentei no carona.
— Que demora da porra. — Reclama.
— Ah, me deixa, Arthur. — Falei já estressada com que havia acontecido agora a pouco.
Após eu ter colocado o cinto de segurança, ele ligou o carro, ligou o ar condicionado e o som colocando: "New Rules", da Dua Lipa, para tocar.
O Arthur dirigia com sua atenção voltada totalmente para o volante e eu observava todo o caminho através da janela do carro enquanto pensava em como agir quando chegar no colégio e reencontrar o Joe.
Eu estava nervosa, não vou negar.
Minha mão gelou e meu coração disparou quando o Arthur parou o carro em frente ao enorme portão do colégio.
— Está tudo bem? — Provavelmente, ele notou o meu nervosismo.
Umidifiquei os lábios com a língua, desviei os olhos para baixo e balancei a cabeça positivamente.
— Não parece.
— Só estou um pouco nervosa por hoje ser o meu primeiro dia de aula. — Respondo baixinho.
— Achei que você ficaria tranquila, afinal, você estudou vários anos aqui, já conhece geral e sempre foi mega popular.
— É...verdade. acho que estou nervosa à toa. — Desconverso.
— Tá precisando de algo?
— Não.
— Ok, então. Se eu não puder vir te buscar, peço para um dos meninos vir.
Assenti e ele me abraçou, em seguida depositou um beijo em minha testa.
Após me despedir do Arthur, peguei minha mochila, desci do carro e caminhei em passos lentos até o portão do colégio.
Minhas mãos tremiam, meu coração estava acelerado, eu estava suando frio e minhas pernas pareciam endurecer. Mas eu sou maior que essa pressão interior que me atormenta, sou Alice Svendsen, preciso mentalizar isso. Respirei fundo e entrei. Havia muita gente na área externa conversando, rindo, outros ouvindo músicas em seus fones de ouvidos, mas no momento que me viram, parecia que todos paravam para me observar, não vou mentir, amo isso. Caminhei lindamente pelos extensos corredores que estavam cheios de pessoas conversando e podia ouvir nitidamente os cochichos e sussurros com meu nome. Sim, mores, a maioral voltou.
Parei no meu armário, tirei meus materiais didáticos de dentro dele, fechei novamente e continuei meu percurso até que passei pela Scarlett e seu grupinho. Olha só... meu fã clube todo reunido. Joguei meus lindos e longos cabelos loiros e continuei andando. Elas se consideram minhas inimigas, mas as considero apenas um fã clube.
Quando finalmente cheguei na sala, fui para a primeira cadeira da terceira fileira e sentei-me.
A galera da sala me olhava, mas muitos disfarçavam ou pelo menos tentavam
Sério que a Scarllet ainda quer competir comigo? Quem sabe ela um dia chegue aos meus lindos pés, né? Duvido muito isso acontecer? Duvido. Mas deixa a iludida sonhar, pois loira, olhos azuis, linda, gostosa, inteligente, bilionária e hiperpoliglota aqui só eu, querida.
Peguei o meu celular dentro da mochila e fiquei mexendo no Instagram até que o Olly chegou e já foi puxando o celular da minha mão.
— Bom dia pra você também, mona. — Fui irônica, estendendo a mão para que ele devolvesse o meu celular.
— Bom dia! — Entregou o meu celular e sentou-se na cadeira ao meu lado. — Quem é esse gatinho conversando contigo pelo direct?
— É o Simon, um amigo de New York.
— Muito gato.
— E hétero. — Acabei com qualquer esperança dele.
— Que desperdício. — Falou balançando a cabeça negativamente. — Ah, só para lembrar: seu único amigo sou eu, tá? Então, deixe de fuleiragem. — Reclama enciumado. — Chegou que horas? — Pergunta.
— Faz mais ou menos uns cinco minutos. — Respondi, lendo a mensagem que o Simon enviou.
— E aí, já teve o azar de ver o traste do gostoso do Joe? Se não teve, vai ter agora... olha para a porta.
Olhei na direção da porta e na mesma hora, o meu coração acelerou ao ver o Joe. Imediatamente, seu olhar encontrou o meu, fazendo o meu coração bater mais acelerado, minhas mãos tremerem de maneira absurda e um nó se formar em minha garganta.
— Ei, fica calma. — Olly sussurra e acaricia a minha mão. — O melhor que você pode fazer é ignorar a existência dele. — Me orientou.
Eu não conseguia falar nada, quebrei o contato visual com o Joe e encarei o chão.
Ele tem um domínio sobre o meu emocional que não consigo evitar, ele consegue ferrar com o meu psicológico em questão de segundos.
O Joe continua lindo, porém, continua também com sua pose de playboy e com aquele olhar frio que me dá medo.
Ele é capitão do time de futebol do colégio e permanece sendo centro das atenções.
Todos querem andar com ele, todas as meninas sonham em namorar ou pelo menos ficar com ele. Nunca na história desse colégio existiu ou existirá alguém tão popular quanto o Joe e eu.
Tentei ignorar a presença dele e mesmo não estando nada bem, tentei demonstrar o contrário.
Agradeci mentalmente quando o professor Charles, de história, entrou na sala roubando a atenção de todos para ele e deu início à aula.
Durante toda aula, eu sentia o olhar do Joe sobre mim e isso me causava muito desconforto.

***

A sirene tocou, indicando o final da última aula.
A maioria da galera organizou os seus materiais dentro da bolsa e saiu em multidão de dentro sala restando apenas eu e mais três pessoas que ainda copiavam o assunto que estava no quadro, entre essas três estava o Joe.
Após terminar de copiar todo o assunto, guardei os meus materiais na mochila, peguei meus livros e o notebook, levantei e quando eu ia saindo, o Joe segurou em meu braço.
— Quero conversar com você.
Infelizmente, as outras duas pessoas já haviam saído e agora só estava nós dois ali.
— Não tenho nada para conversar com você. — Tentei fazer com que ele soltasse o meu braço, mas ele o apertou ainda mais.
— Você está me machucando. — Continuei fazendo com que ele soltasse o meu braço, pois realmente ele estava me machucando, mas não consegui.
— Eu não quero te machucar, só preciso que você aceite conversar comigo. — Insiste.
— Eu não vou conversar com você, Joe. Me solta, por favor.
Ele soltou meu braço, mas logo segurou em meu rosto com as duas mãos e tentou me beijar, mas eu mordi o seu lábio inferior.
— Para com isso! — Espalmo minha mão em seu peito e tento o afastar de mim.
— Olha pra mim, Alice... — Apertou forte minha mandíbula me fazendo olhar em seus olhos. — Se você acha que eu vou desistir de você, está muito enganada. Já te falei, ou você é minha ou não será de mais ninguém. — Cospe as palavras friamente contra o meu rosto, olhando diretamente em meus olhos. — Está me entendendo?
— Quem você acha que é para está me ameaçando dessa maneira? — Repondo, sem temer a sua reação.
— Não é ameaça, é um aviso. — Soltou meu rosto. — E o aviso está dado. — Me deu um selinho e saiu.
Doente! Filho da puta infeliz!
Limpei bruscamente meus lábios com as costas da mão e saí rapidamente dali, indo de encontrar o Olly que me esperava no portão do colégio.
— Até que enfim! Pensei que ia morar lá... espera... — Os olhos dele foram logo para o meu braço. — O que foi isso em seu braço e no seu rosto? Por que está vermelho? Foi o Joe? Ele fez isso? — Perguntou preocupado.
Não respondi, a resposta era óbvia.
— Filho da puta! Ele vai ver só... — Esbravejou furioso e pronto para ir atrás do Joe, mas eu o segurei pelo braço, o impedindo.
— Deixa lá, amigo, por favor. —Suplico.
— Isso não pode ficar assim, precisamos ao menos falar com o senhor Carlson, ele é o diretor, vai saber tomar uma atitude.
— Não, Olly, não quero contar nada disso para ninguém. Por favor, entenda. — Choramingo.
— Não, eu não entendo, mas respeito a sua decisão. — Ele me abraça e eu sinto uma enorme vontade de chorar, mas seguro as lágrimas.
Fiz o Olly desistir de ir atrás do Joe e de falar com o senhor Carlson, também procurei me acalmar. Eu estou farta disso tudo, farta das ameaças do Joe e farta dele me machucando, porém, ainda não posso enfrentar ele.
O Olly e eu resolvemos ir em uma sorveteria que fica em frente ao colégio. Chegando lá, ficamos batendo papo enquanto o Arthur não chegava para me buscar.
Conforme o tempo ia passando, a vermelhidão do rosto ia diminuindo, mas a do braço permaneceu pelo fato dele ter apertado muito forte e minha pele ser bem branquinha.
Terminamos o sorvete e na mesma hora, o Kameron chegou para me buscar.
Após eu entrar no carro e sentar no carona, o Kam esperou eu colocar o cinto de segurança e deu partida em direção ao apartamento.
Ele dirigia atento após ter me explicado que o Arthur não pôde sair do trabalho para vir me buscar e ligou para ele perguntando se podia fazer esse favor.
Depois de alguns minutos, chegamos no condomínio.
O Kam estacionou o carro, descemos do mesmo e caminhamos até o nosso bloco, pedimos o elevador e logo o mesmo chegou.
Enquanto o elevador subia fiquei mexendo no celular, mas não deixei de perceber que o Kam me encarava sério.
— Alice? — Quebrou o silêncio que estava ali.
— Oi. — Respondi.
— O que foi isso em seu braço?
— É...Foi... na aula de química... fomos para o laboratório, daí, devo ter encostado em algo que tenho alergia. — Menti.
O Kam pareceu acreditar na minha resposta.
— Tá bem feio isso aí, hein?
— Verdade. Depois passo algo.
Chegamos no nosso andar, as portas do elevador se abriram, saímos, eu caminhei para o apê do Arthur o Kam para o apê dele.
Ao entrar em casa, joguei minha mochila ali mesmo no chão da sala, em seguida, joguei-me no sofá.
Fiquei ali alguns instantes deitada, até que a Tracy me chamou para comer cheesecake com molho de morango. Lavei as mãos, sentei-me à mesa e ela serviu-me com uma deliciosa fatia.
Depois de um tempo comendo enquanto conversava com ela que estava lavando a louça, subi para o meu quarto para assistir a minha aula online do curso de italiano e francês. 

 Bruno Mars - Com amor, AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora