All The Stars

180

Gosto de metal quente na minha boca, sangue. Sinto o chão frio contra minhas costas que arqueiam enquanto busco ar entre soluços.
- Você havia prometido que aquela era a última vez.

Minha voz sai rouca e fraca, me sinto um lixo.

- ‎Fazer o que se você é uma inútil, e que cada vez que eu olhe pra você dá vontade de te bater - ele diz com um sorriso cínico, pois sabe que sairá impune. -melhor você ir embora, cansei da sua cara.

Ela passa os olhos por mim durante um segundo, no chão, humilhada e marcada. Marcada por ele.

Junto todas as minhas forças e me levanto. Saio da casa dele, cambaleando pela rua. Ele, meu namorado que deveria amar, cuidar de mim e todas as outras coisas de filme. Mas ele faz exatamente o contrario, as vezes parece que quer me matar.

‎No caminho de casa me faço a pergunta -"por que ainda estou com ele ? Amor ? Medo ?"- É a pergunta nãos sai da minha cabeça o caminho todo porém eu sei a resposta, ela está gravada nos meus ossos.

Porque ele é tudo que eu tenho, o único que eu tenho.‎

E ele me tem, tem minha alma, meu amor, meu corpo e todo meu medo.

‎☆☆☆☆☆☆☆☆☆

Finalmente chego em casa, minha mãe e minha avó ainda estão dormindo.
Ainda bem, não quero que elas me vejam assim.
Entro no meu quarto silenciosamente, e dou de cara com o espelho que fica atrás da porta. A menina que ele mostra me assusta. Com curvas, um lindo cabelo comprido e belos hematomas para todo lado. Arranhões e roxos por toda minha extensão.

‎- Ainda bem que não está inchando , seria muito mais difícil esconder com a Maquiagem.

Penso em voz alta enquanto me aproximo para ver melhor o circulo escuro perfeito em volta do meu olho esquerdo.

Hoje é domingo e irei a uma festa de uma amiga. Só pra me sentir tão vazia lá quanto meu coração agora, um prazer temporário que quando acaba parece que minha vida também acabou mas fazer o que? Melhor temporário do que nenhum , não é?

☆☆☆☆☆☆

Acordo com o alarme tocando, o quarto está escuro como sempre. Abro janela para entrar luz, mas ainda está de madrugada. Olho para fora e o céu parece uma grande bola cinza de poeira, bem no final um risco de luz, o sol. O dia está se arrastando para começar.

Desço as escadas, abro a geladeira. Vou preparar o café da manhã da minha mãe e ajudar minha avó a tomar banho. Tenho que fazer tudo rápido ou não vai sobrar tempo para me maquiar.

Quando estou passando os ovos mexidos da panela para o prato, sinto o sol queimar minhas costas. Agora o dia vai começar. Espero que esse sol não derreta minha maquiagem, será que passei de mais? ou de menos? mas e daí, acho que mesmo se eu fosse com dois olhos roxos ninguém se importaria.

Chegando a escola para as aulas extra. Escolho meu sorriso mais falso, respiro fundo e entro.

"Hora do show".

Como sempre minhas amigas me esperam na porta, com cara de tédio. Ao me ver seus lábios formam um falso sorriso, como sempre. Mas não gosto dele, não sinto nada nele.

- Oi meninas, beijinhos.

Eu digo enquanto dou beijinhos no ar, uma coisa idiota que fazemos sempre.

- ‎Oi, Anaaaa- Todas elas me chamam de Ana por mais que meu nome seja Luciana. Dizem que meu nome não é legal o suficiente.- Aí sua Maquiagem tá linda hoje, sua pele está ótima.