Partida ao meio

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Sons vindo da porta da frente sendo destrancada, passos se aproximando da minha porta em seguida três batidas.
"Querida? Posso entrar?" Minha mãe perguntou. Esperou um pouco e como não respondi, ela entrou.
"Estou entrando" ela disse enquanto passava pela porta.
Tudo desligado, eu no escuro encolhida no meio da cama. Ela deu uma olhada geral, e disse:
" Filha, está tudo bem?" Ela tinha uma expressão  preocupada no rosto.
"Não mãe, não tá nada bem." Eu disse, tirando o rosto do travesseiro e me ajeitando na cama.
"Você sabe que pode falar comigo não é ,o que houve?"
"O Collin aquele babaca, idiota, aquele merda!" Senti as lágrimas quentes rolarem pelo meu rosto.
"Mas ele não estava faltando, ele apareceu?" Ela estava realmente tentando entender o que aconteceu.
"Apareceu e era melhor que tivesse sumido pra sempre!!"
"Filha se acalma e me explica o que está acontecendo"
"Ta bom, vou te contar do início." Disse tentando controlar minha respiração e me recompor.
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Naquele mesmo dia, 8:40 da manhã.
Estava sentada na minha cadeira, pensando em como  começar o trabalho e como faria a apresentação, quando fui arrancada dos meus pensamentos por uma tufão vermelho andando  rápido pela sala. Eu conheço esse cabelo...Collin!
Ele simplesmente sentou no lugar dele e começou a fazer anotações, nem falou comigo, como se nada tivesse acontecido. E de fato não aconteceu por culpa dele. Toda a raiva que estava guardando dele esse tempo todo, explodiu. Como uma panela de pressão eu não aguentava mais, eu tenho que conversar com ele e tem que ser agora. Minhas pernas simplesmente me levarem até a frente da cadeira dele, e minha boca disse as palavras:
"Temos que conversar, agora, por favor"disse olhando seria para ele.
"Garota senta ai, depois a gente conversa. Tenho que fazer esse deve aqui e..." Ele disse num tom de superioridade, que me irritou.
"Levanta e vamos conversar lá fora!" Eu gritei, eu já estava no meu limite. Ele acha que pode simplesmente sumir e o trabalho vai ser feito sozinho? Não mesmo!
" Ihh primeira DR, a gente nunca esquece" algum idiota do Fundão disse e toda a turma riu.
" De novo vocês dois. vão lá pra fora agora!" A professora disse em um  tom, que não deixava espaço para contestamento.
Ele levantou com muito contragosto, e fomos em direção ao pátio. Mas no meio do corredor ele me puxou e disse:
" Garota, viu o que você fez?! Fui expulso de sala por causa de você" Ele disse, com uma expressão clara de raiva.
"Se você tivesse ido quando eu pedi com edução, não teria dado toda essa confusão. E eu tenho nome, é Úrsula. A mesma garota que você marcou de ir fazer o trabalho na terça. Lembra disso?! Acho que não porque você nem se deu o trabalho de avisar que não ia" Disse tudo de uma vez, jorrando as palavras para fora.
" Então,você me tirou de sala, pra falar desse trabalho idiota? Eu tive uma emergência, não tinha o seu número e não tive como avisar. Você acha que eu tenho todo o tempo do mundo igual a você, sua patricinha!" Ele disse aos gritos. Já estava vendo a hora que alguém ia vir ver o que estava acontecendo.
"Quer saber Collin, se você acha que esse é um trabalho idiota, então não faça! Vou fazer sozinha e não preciso de você!"eu já não tinha mais argumentos, e estava cansada de gritar. Então achei que já estava na hora de encerrar o que quer que fosse aquilo.
"OTIMO! AGORA SAI DO MEU PÉ" Ele já estava com o rosto vermelho, e eu? Eu estava em chamas.
Saí batendo pé pelo corredor, fui beber água precisava me acalmar.
Fui no banheiro lavar meu rosto, o banheiro é bem grudado com a secretária. Meus ouvidos despertaram quando ouvi "senhor Collin blake, precisamos conversar." A voz da diretora, em um tom sério. Grudei na porta, e coloquei a orelha para fora.
" Eu sei que a situação na sua casa está difícil, desde o que aconteceu com seus pais. Mas você não pode carregar o mundo nas costas, você precisa de ajuda   e não pode ficar faltando tantas aulas Collin. Eu me preocupo com você." Ela finalizou num tom carinhoso.
" Eu não preciso de alguém se metendo na minha família, agindo como se entendesse o que estamos passando, quando na verdade não entende. Então não, eu não preciso de ajuda. E já vou recuperar as aulas perdidas, então não precisa se preocupar comigo. Obrigado," Ele começou a falar em um tom forte, como uma leoa defendendo os filhotes. E terminou com uma voz mais terma e calma.
"Se você diz. Mas você sabe que só quero o melhor para você, eu me importo muito com você e a sua família. Se precisar de ajuda. Com qualquer coisa, pode me avisar." Escutei um suspiro forte, alguns passos e:
"Tudo bem, fico agradecido pela sua ajuda. Até mais" e a porta bateu num estronda, não um estrondo forte. Um estrondo para marcar algo, para marcar o momento que eu me senti o pior ser humano do mundo.
Esse tempo todo ele envolvido com problemas de família, deve ser algo muito sério para ele faltar assim e a diretora se importar com ele. É compreensível que ele esteja sem cabeça para fazer o trabalho, vou falar com ele e dizer que posso por o nome dele no trabalho. Tentar ajudar, dar algum alívio, quem sabe nós até fazemos as pazes?
Na hora da saída, vi que ele estava saindo da escola. E fui falar com ele:
"Ei, podemos conversar?" Eu disse num tom calmo.
"Não tenho nada pra conversar com você garota."ele disse na defensiva.
" Eu acho que pra você não estar com tempo de fazer o trabalho, seu problema deve ser um dos grandes. Então eu posso fazer o trabalho e por o seu nome." Eu sei o que é passar por problemas em casa, é que qualquer ajuda ou apoio é ótimo nesses momentos.
Mas não, assim que ele assimilou as palavras que eu disse. A expressão dele era como se alguém tivesse dado um tapa com toda a força no rosto dele.
"O que você sabe garota? O que você sabe da minha vida?!" Ele perguntou com desespero.
"Nada, eu estava no banheiro e ouvi a direita falar que sua situação estava difícil em casa. E pensei que podia te ajudar." Falei da forma mais calma possível.
"Então quer dizer que você também fica ouvindo atrás das portas? Eu não preciso da sua pena. Pode ficar com seu trabalho!" Ele vociferou contra mim.
"Quer saber se você não quer ajudar, eu vou embora." No mesmo momento que eu virei as costas eu senti a mão dele segurar meu pulso, sua mão forte e firme, contra minha pele que pulsava.
"Você não vai virar as costas pra mim, eu estou falando com você..." Eu tentei me soltar, mas ele era mais forte.
"Você é uma garota mimada e infantil que escuta atrás das portas. Que me conheceu agora, e acha que já sabe tudo sobre mim. Para de se meter na minha vida e vai cuidar da sua." Eu estava nervosa, ninguém nunca gritou comigo daquele jeito, eu só queria sair de lá. minha reação foi puxar meu pulso, no mesmo momento que ele apertou meu pulso. Assim minha pulseira de pequenos plnetas partiu ao meio ( foto na capa), a pulseira que meu pai meu deu. Minha vista ficou embaçada. As lágrimas se derramando pelo meu rosto. Só lembro de pegar as metades da pulseira e sair correndo, enquanto ele ainda gritava no corredor.
" É só pagar para concertar, ou comprar outro, sua mimada de merda!"
"Não tem outra pulseira igual a essa, quem fez pode não existir mais." Eu disse recuperando o fôlego.
"Para de graça garota, chorando por causa de uma pulseira." Ele disse dando risada.
"Você é um monstro Collin. Vá se fuder!"
Virei as costas e andei, andei, andei. Quando dei por mim já estava em casa é só me joguei na minha cama. Até que minha mãe chegou e me tirou do transe, eu ainda estava com a roupa da escola e com as metades da pulseira na mão. Meu pulso estava doendo, e minha mão também, desde que peguei a pulseira do chão não parei de segura-la com força.
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"Querida, vai tomar um banho, tirar esse uniforme. Eu vou fazer nosso jantar e ver um filme. Me dê a pulseira e amanhã quando voltar do trabalho ela vai estar concertada." Ela disse me abraçando.
Então eu levantei, me despi, encarei meus olhos inchados no espelho.
Abri o chuveiro e deixei que minhas lágrimas se misturassem com as gotas d'água. Na esperança de que minha dor também descesse ralo abaixo, junto com a água.









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