Desculpas

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Fiz o trabalho durante o final de semana. Não ficou ótimo, eu não conseguia nem pensar direito. Me admiro de ter conseguido fazer algo.
O fim de semana passou voando, terminei meu livro, atualizei uma série. E quando eu pisquei já era segunda-feira, não me sentia nem um pouco preparada pra pôr os pés na escola de novo. Mas eu vou, e vou entrar de cabeça erguida.
Assim que me aproximei, percebi que a Lara estava a minha espera no portão.
"Caiu da cama amiga?" Ela disse me dando dois beijinhos.
"Mas não é esse o horário da entrada? 7 horas?" Eu disse, meio zonza.
"Úrsula o seu horário e 15 minutos depois do horário, hahaha. Vamos concordar né" ela disse entre risadinhas. É admirável o bom humor da Lara a essa hora da manhã, meu humor demora umas 2 horas pra normalizar depois que eu acordo.
"Atah, hahaha. Como você está engraçada hoje." Eu disse fazendo uma careta.
"Nossa, não precisa falar assim. Ta tudo bem?"
"Depois de sexta? Eu vou apresentar um mega trabalho sem me sentir preparada e ainda vou ter que olhar pra cara daquele babaca."
"É as coisas ficaram um pouco tensas na sexta, dava pra ouvir a discussão de vocês do refeitório." Ela disse com uma cara de espanto engraçada, tentando me fazer rir. O que eu ia fazer, mas assim que alguém parou do meu lado, e eu percebi que esse alguém era o Collin, meu corpo todo enrijeceu na hora.
"Pelo visto não foi só a Úrsula que caiu da cama hoje, né" ela disse, porque ele veio de dentro da escola o que significa que ele já estava lá dentro. E ele realmente só chegava em cima do horário, igual a mim...
Não, eu me recuso não tenho nada em comum com aquele bruto, grosso.
"Bom dia meninas. Úrsula, posso conversar com você?" Ele disse olhando pra mim. Senti minhas veias pulsarem.
"Não temos nada pra conversar." Eu disse, já me virando para entrar. Fui em direção ao banheiro. Não acredito, esse garoto é muito cara de pau. Ele fala o que quer pra mim e depois quer que eu converse com ele. Pois, ele está bem enganado.
"Ei Úrsula?" Era a Lara, conferindo se eu estava no banheiro.
"Aqui!"
"Você não vai conversar com ele?"
"Você ouviu o que aquele garoto disse pra mim, todos ouviram. Você acha que eu ainda tenho que conversar com ele Lara?" Eu disse esbaforida.
"Você não precisa conversar com ele, pelo menos escuta o que ele tem pra dizer. Dá uma chance pra ele, ele é um garoto legal, já te disse. Só está passando por uma má fase. Vai, por mim."ela disse fazendo algo com o rosto, que se aproxima da coisa mais fofa que eu já vi.
Então minhas pernas já estavam me levando a encontro dele no pátio, de novo...
"Ei" ele disse, parecia surpreso de estar eu estar ali, eu não disse nada apenas me sentei um pouco afastada dele.
"Tudo bem, eu que tenho que falar mesmo. Úrsula eu quero pedir desculpa pelo jeito que eu te tratei, eu nunca fiz isso com ninguém. Eu só estava e estou muito estressado em relação a uns problemas meus e acabei descontando em você. Mas isso não é motivo para te destratar como eu fiz, desde o primeiro dia de aula. Eu não te conheço, e não poderia ter te chamado do que chamei. Você não parece ser metida, muito menos patricinha. Você foi generosa comigo tentou me ajudar e eu literalmente te ataquei, arrebentei sua pulseira e..." Ele estava se embolando nas próprias palavras, deu pra perceber que ele não é acostumado a pedir desculpas. Não porque, ele era insolente e não se desculpava pelos erros. Simplesmente por parecer ser uma pessoa boa, que não maltrata a ninguém. Ele estava falando em um tom tão puro e verdadeiro. Que não tive como não acreditar.
"Tudo bem, minha mãe botou no concerto..." Eu disse olhando pro chão, só de lembrar da imagem da minha pulseira arrebatada no chão, já sufocava meu peito.
"É que tem muito valor sentimental e..." Eu comecei a gaguejar.
"Eu entendo, entendo de verdade. Eu peço desculpa, por todas as grosserias que fiz com você. Isso não se faz, você não merecia ouvir aquelas coisas. Você me perdoa?" Ele estendeu uma mão e abriu um sorriso meio tímido.
"Acho... Que eu posso... Posso tentar." E apertei a mão dele, uma mão quente e macia. Então ele abriu um sorriso sincero, como se tivesse tirado um peso dos ombros. O que ele fez comigo, de fato o incomodou era visível.
"E sobre o trabalho, ele não é um trabalho idiota pra mim. É importante, conversei com a professora e ela estendeu o prazo. Mas, se você não quiser fazer comigo eu entendo completamente."
"Vamos fazer, vamos fazer isso juntos." Os olhos dele brilharam como se não acreditasse nas palavras que sairam da minha boca.
"Jura? Quanto mais cedo melhor, hoje a professora de educação física não vai poder vir então podemos ir embora no intervalo e fazer na sua casa. Podemos?" Ele disse com um sorriso iluminado.
"Sim, eu só vou avisar minha mãe. Mas podemos sim." Eu disse meio receosa, sozinha em casa com o Collin, eu ainda não confiava nele tanto assim, na verdade o odiava a 10 minutos atrás. Eu tinha muito o que explicar pra minha mãe, quanto antes melhor.
"Então... Eu vou ali, ligar pra minha mãe. Nos vemos na sala?" Eu tinha a sensação de que ele ia sumir com o vento.
"Sim, até"ele disse fazendo um aceno de cabeça.
Liguei para minha mãe e contei toda a conversa, ela achou muito legal ele pedir desculpas. Ele errou, mas percebeu o erro e se redimiu. Ela disse que isso era raro nos jovens de hoje em dia, e que podíamos fazer o trabalho lá em casa sim.
As horas voaram e quando percebi, já estava na hora do intervalo. E eu perdi o Colin de vista, já me bateu um arrependimento. Mas não deu tempo, porque ele apareceu do meu lado, andando e disse:
"Vamos bem juntinhos, assim eu não fujo de você." Ele disse num tom irônico.vendo minha careta ele disse:
"Você nunca relaxa não?" Meio difícil relaxar, perto da pessoa que te deixa mais tensa.
"Claro que relaxo, só quero chegar logo em casa." Eu disse tentando disfarçar.
Chegamos rápido ao ponto, o ônibus não demorou a passar. Estava vazio, ele sentou no banco atrás de mim, e fomos em silêncio, o ônibus foi enchendo as poucos. Aproveite pra ler um pouco no caminho, sai de um transe quando senti Collin sentando do meu lado, e quando levantei a cabeça o ônibus já estava cheio e barulhento.
" Não consegue ficar ficar longe de mim né?" Eu disse dando risada.
"Claro, claro" ele disse olhando em volta. O que me fez olhar também, e percebi que uns caras mal encarados estavam me secando sem pudor. E foi quando eu juntei todos os pontos. Os caras subiram no ônibus, Collin pulou pro meu lado, pra que aquele cara estranho não sentasse do meu lado. Ele estava me protegendo, me protegendo? Talvez ele não me odeie tanto assim. Sem perceber, estava sorrindo pra ele a muito tempo, estávamos ombro a ombro. Ele virou e disse:
"Só não olha muito, pra não apaixonar." E soltou aquela gargalhada forte e gostosa dele que eu acompanhei sem perceber.


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