19º - m a r ç o

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Quando a apresentação acabou, senti meu corpo amolecer e ficar mais leve. Bernardo se atrapalhou um pouco nas falas, mas de resto tudo foi ótimo. Os slides ficaram perfeitos, imagens esclarecedoras e textos pequenos para melhor explicação. O cartaz nem se fala, não ficou do jeito que eu tinha imaginado, mas ficou lindo de todo jeito.

O diretor avisou que ia repassar suas anotações para o professor, e o próprio iria avaliar e mandar nossas notas. Fiquei um pouco receosa no começo, mas nosso trabalho foi ótimo e acho que não tem do que reclamar.

O grupo do trabalho não se desfez, pelo ao contrário, se juntou a mim e Vitória. Não era só nós duas, tínhamos Paula, Bernardo - na maioria do tempo - e por muita bajulação, Gabriel.

Eu ainda estava muito preocupada com a relação de todos ali, um popular, Bernardo. Uma geek, Paula. Uma maluca, Vitória. Um estilista, Gabriel. E uma... Normal. Eu.

Ah, vá.

No final de todas as aulas, eu fui para a coordenação de esportes. Pelo menos eu esperava encontrar alguém lá, mas estava tudo fechada. Nem a tal da Lia estava lá. Deveria, provavelmente, estar saindo da aula agora, já eu saí que nem uma maluca com medo de perder o teste.

- Desculpa, desculpa, desculpa. - Lia chegou, baforada, prendendo os cabelos curtos em um rabo de cavalo. Ela levou a mão ao peito e respirou devagar.

Eu ri do seu jeito espontâneo e perguntei se estava bem.

- Acho que eu estou. - Ela olhou para mim com os olhos perdidos. - Quer sentar um pouco? Eu espero.

Ela assentiu violentamente a cabeça e se sentou no chão do corredor.

- Já que estamos aqui, me fale um pouco do seu currículo senhorita. - Ela brincou.

- Eu sempre gostei de fazer ginástica, ela sempre me motivou a acordar cedo e ir malhar.

Ela riu e pediu para eu continuar.

- Fiz seis anos de ballet, só que era muito calmo. Não era meu tipo. Depois eu fui para a ginástica e ali eu me encontrei. Nos primeiros anos eu não dava a mínima, mas quando eu vi que poderia ganhar algo a mais com o esporte, treinei mais do que devia.

Acordava cedo, corria, malhava e treinava. Todos os dias antes de começar a estudar de manhã. Eu já havia reclamado de dores na coluna e nas articulações... - dei uma pausa para poder respirar.

Ela continuou atenta e focada nas minhas palavras.

- Mas eu não ligava.

- E piorou.

- E piorou. - Mordi um pouco da minha bochecha em nervoso. - Minha mãe me levou ao medico e ele perguntou como era minha rotina e eu falei tudo isso que eu falei a você. O único problema que eu não falei e que não fazia era o alongamento e as compensações.

Ela esbugalhou os olhos, surpresa.

- Meu Deus... - ela sussurrou e eu balancei a cabeça em descontentamento.

- Foi... O médico pediu para que eu pudesse dar uma pausa nos treinos e nas aulas para que minha coluna pudesse se estabilizar novamente, mas como meu corpo já estava acostumado com esse tipo de rotina, eu perguntei se haveria algum problema quando retornasse a fazer os exercícios.

"Você não terá a mesma flexibilidade de antes, já que você vai parar por algum tempo. Isso será um progresso, dia a dia você vai acostumando ele novamente, mas com os alongamentos."

- Meu mundo desabou. Eu não me via sem fazer nenhum exercício. Perguntei a ele se poderia fazer algum tipo de exercício para que meu corpo não perdesse a elasticidade. Ele disse que poderia fazer Pilates, mas uma vez por semana.

Lia botou a mão na boca, ainda surpresa com todas as informações.

- Faz um ano que voltei ao GR, mas quero voltar para o time. Fazer treinos toda a semana. Quero voltar a ter a responsabilidade com o esporte. Quero voltar a treinar, se você puder ajudar...Eu agradeceria!

Ela anuiu e se levantou. Começou a caminhar para o lado oposto da coordenação, indo em direção a quadra.

- Você já está no time. - Ela falou de repente. Do nada.

Eu estaquei onde eu estava. Eu nem havia feito um movimento e já estava no time. Era tão simples assim?

- Estou? - Falei, com a voz embargada de emoção.

- Está, mas preciso ver alguns passo seus. Você já tem algum solo padrão?

- Tenho. - Falei, já tirando meu moletom e pondo na arquibancada.

- Então pronto. Faça-o e eu avaliarei em qual time você vai ficar.

- Existe quantos times?

- Três. Kids, Juniors, Teens. E a equipe. Quatro.

Minha boca, por vontade própria, se abriu.

Ela riu e mandou começar.

Comecei. Fiz movimentos simples, mas difícil. A cada passo eu botava na minha mente. Faça o seu melhor. Aquilo é algo em que sempre sonhei, sempre acreditei, e algo que quero levar pra minha vida.

O GR abriu portas para mim. O esporte abriu portas pra mim. Quais portas? A de ser saudável, ter a elasticidade e algumas medalhas, talvez?

A ginástica rítmica é a felicidade para mim, os passos era asas que eu me libertava a cada movimento que dava. É o momento que sinto leve. Um sentimento de certeza e leveza. Alegria também. São os mesmo sentimentos que eu sinto toda vez que me ajoelho e converso com Jesus.

Quando terminei senti meus olhos pesarem, meu corpo todo doía, minhas pernas, meus braços, tudo. Mas valeu a pena. Abri devagar meus olhos e vi uma Lia emocionada. Ela batia palmas e andava até a mim. Segurando meu casaco e minha mochila.

- Temos treinos 3 vezes por semana, todas as semanas. Nos feriados não temos, mas as vezes necessita e o fazemos. - ela revirou os olhos, em desgosto. - Vou te botar no grupo que temos.

Assenti e fomos conversando sobre os treinos até o portão. Lia não aparentava ser quem era. Ela tinha cara de ser fresquinha, mas na verdade, ela é muito engraçada, só precisava de intimidade para faze-la acostumar com sua pessoa. Como eu!

O Amor Que Nos SepareOnde histórias criam vida. Descubra agora