13º - j u n h o

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Meu mundo estava de cabeça pra baixo. Em um momento eu estava na minha festa, namorando, curtindo com minha família e num outro eu estava em um chão duro, com cheiro de xixi de rato, um lugar que eu não sabia onde ficava.

Minhas pernas, braços, boca estava atado com fortes cordas que machucavam gradativamente o meu corpo. Eu não tinha como me livrar daquele pesadelo.

Eu imaginara que iria receber comida de um dos capangas que apenas jogariam o prato frio em meu colo e iam embora. Mas isso não tinha acontecido.

Tentei pensar em um jeito de sair, mas parecia uma missão impossível, todas as janelas estavam trancadas, a porta quebrada estava na mesma situação.

Eu fiquei refletindo como minha família deveria estar. Uma filha sequestrada, outro preso... Eu estou derrotada, não queria estar aqui. Na verdade minhas expectativas eram estar dormindo ou dançando, mas olha a realidade em que estamos.

- Sua comida já vem. -Um dos capangas avisou.

"Nem queria mesmo." Eu sussurrei, mas ele conseguiu ouvir.

O grandalhão veio até a mim e segurou minha cabeça, murmurou algo que não consegui ouvir, pois o mesmo jogou minha cabeça contra parede, me fazendo ver tudo girar em borrões.

- O que você acha que está fazendo?-Uma voz gritou de raiva ao fundo.

- Nada senhor... - Ele mentiu na cara dura para a tal pessoa.

- Você acha que eu sou otário?- um homem de idade apareceu e perguntou e o capanga negou - Pois é. Não é para bater nela. Só se for de extrema resistência da sua parte, né minha linda? - o cara que não me era estranho falando pegando meu queixo.

- Você... - eu murmurei. - Você não me é estranho. Eu te conheço de algum lugar.

- Que bom que você se lembra de mim. - ele chegou mais perto. Estremeci com a grande proximidade dele e senti seu bafo quente, com cheiro de álcool, em minha orelha. - Eu sou o pai do filho que seu irmão matou.

- Você é o pai de Carlos. - eu falei arregalando os olhos e abrindo a boca em exclamação.

- Olha. Você sabe mesmo quem eu sou. - ele falou, girando no quarto. - Você e seu irmão estão arruinados. Vocês vão receber tudo o que eu passei em dobro.

- Britten?

- Seu irmão está aqui também, sabia? - ele puxou meus cabelos, me fazendo olha-lo. - Vocês podem se falar, mas só porque ele me prometeu uma coisa muito boa.

Ele saiu sem antes puxar mais um pouco meu cabelo para trás e Britten apareceu com cordas nas mãos, sendo segurado pelos capangas que se juntaram a nós e ficaram dentro do quarto.

- Bom... Persuadir alguém é tão bom, huh? - Britten falou quando terminaram de jogar ele ao meu lado.

- Faz quantos meses que você não toma banho? - pergunto quando ele se senta ao meu lado e beija minha testa.

- Não tanto quanto você, Mila.

- O que faz aqui, Britten?

- Vim ver você. Ver se te machucaram mais. - Ele me observou a procura de algo.

- Só bati minha cabeça mesmo. Não se preocupe não foi muita coisa.

- Tentarei. Você acha que conseguiríamos sair daqui sem uma bala atravessada em nosso corpo?

- Acho que sim. Eles vão nos encontrar. Eles precisam nos encontrar.

- Eles precisam. - Britten encostou a cabeça na minha.

- Não toca. Tá doendo.

- Vai ficar de galo, hein maninha?

- Não vai não só tá doen... - Fui interrompida pela chegada de dois capangas que carregaram meu irmão para o seu quarto aos gritos.

- O tempo de você acabou. - o que estava no quarto falou fechando a porta.

Minutos depois, a ficha realmente caiu e lágrimas queriam descer, mas não consegui segurar por tanto tempo. Elas caíram e pingavam nas minhas mãos, quentes. Juntei minhas pernas e as abracei, sentindo meu corpo sacolejar e a memória da minha família vindo em minha mente. Meu irmão se esforça para fazer da situação a mais engraçada possível, ele tenta, mas só consegue piorar. Não posso culpa-lo, só quer melhorar o que estamos passando.

Choro pela situação que nós estamos, me sinto inútil por não conseguir fazer nada.

Eu me sinto usada pela Paula, e pelo pai de Carlos. Eu fui usada. Ainda estou sendo, pelo que parece.

Meu reservatório de água chega ao fim, mas a dor de cabeça não. Doí como o inferno, eu tento controlar as escassas lágrimas e me concentro em fazer a dor passar por meio de mágica, já que não estou vendo remédio muito menos médico do meu lado.

Infelizmente, sem sucesso e a minha próxima etapa é dormir.

Encosto a cabeça na parede, fecho os olhos e conto carneirinhos. Meu sono logo chega e já me vejo longe daquele momento, daquela hora, daquela situação horrorosa.

Antes de cair em sono profundo, escuto alguns gritos e sussurros na porta. Pareciam que queriam esconder algo de mim. Não tenho certeza, mas era a Paula e meu irmão falando.

O que será que foi agora?

O Amor Que Nos SepareOnde histórias criam vida. Descubra agora