Laços de Sangue

1 Perda

O jornal não parava de falar. Os abutres já estavam em cima de toda a podridão e desgraça.

O famoso empresário Cristian Castellamare acaba de sofrer uma grande e irreparável perda. Sua esposa, que acabara de dar à luz aos seus filhos gêmeos, teve um dos bebes sequestrados logo após o parto. Até o momento ninguém sabe de fato o que aconteceu, e os sequestradores ainda não entraram em contato ou pediram qualquer tipo de resgate.
A polícia já não mais suspeita de que seja um crime hediondo, e começa a explorar a possibilidade do crime ter sido passional. Afinal, os sequestradores tiveram a oportunidade de levar os dois bebês, porém levaram apenas um; mais especificadamente, a menina.
Até o presente momento, ninguém da família deu qualquer declaração a impressa, e conhecendo a fama de recluso do empresário, é bem provável que não haja qualquer declaração.

Era horrível, tudo estava sendo muito desesperador. Olhando para Elaine, enquanto tentavam seguir em frente com a perda, vez por outra olhando para seu filho, o pequeno Enzo. Sua esposa era simples, generosa, sempre fora otimista, com um jeito meigo que o encantou logo à primeira vista; e após um breve período namorando, decidiram dar um passo adiante e se casaram. Estavam unidos em matrimônio há dois anos, quando receberam a notícia da gravidez dos gêmeos, um menino e uma menina, aumentando ainda mais a felicidade do casal.

Jamais pensei a fama que obtive com o resultado do trabalho duro de anos, transformando a pequena imobiliária de meu pai, em uma grande empresa dona de inúmeros investimentos, e jamais pensei que isso incomodaria alguém a ponto de cometer tal atrocidade contra mim e minha família. Durante toda a gestação recebemos cartas com ameaças implícitas e explicitas, ligações, mensagens, avisamos a polícia, nos prevenindo e uma investigação foi aberta, até o presente momento, nada tinha acontecido.

Logo pela manhã, Elaine começou a sentir contrações pela manhã, e de imediato fomos para o hospital, e aguardamos pacientemente, até que já quase no início da noite, os gêmeos decidiram vir ao mundo. Havia uma equipe de quatro enfermeiras, minha irmã, uma pediatra e eu. O pequeno Enzo nasceu primeiro, gritando ao mundo que agora fazia parte do mesmo, e em seguida Elizabeth, minha princesinha. Duas enfermeiras saíram levando as crianças para o berçário, após nos mostrarem os gêmeos, mas algo aconteceu: somente Enzo chegou no berçário, e a outra enfermeira desapareceu, levando consigo, Elizabeth.

A polícia foi imediatamente acionada, mas nada foi resolvido, e isso já fazia um mês. Um mês. Um mês do resto de uma vida inteira, que passaríamos longe de nossa princesa, e enquanto olhava minha esposa dormindo ao lado do nosso pequeno Enzo, dividindo a enorme cama king size. Elaine tentava não demonstrar sua tristeza, mas estava visivelmente abalada, e eu mal conseguia encará-la sentindo-me impotente, por não conseguir proteger um dos nossos bens mais preciosos.
Jurara a si mesmo que faria o impossível para resgatar sua menininha e trazê-la de volta para casa, custe o que custar.

***

Ainda lembrava de suas palavras há 17 anos, quando perdera sua doce Elizabeth, um trauma que fez com que Elaine entrasse em depressão pós parto e tentasse se suicidar diversas vezes, até que em um dia foi encontrada morta, eletrocutada na banheira. Enzo chorava trancado em seu quarto, e os empregados da casa estavam de folga, dois anos depois do sequestro. Minha doce Elaine não suportou a perda e sucumbiu aos poucos, fazendo-me criar Enzo com o que restou de minhas forças.

Não erámos uma família feliz, mas vivíamos bem, um apoiava o outro, erámos apenas nós dois contra o mundo, um alimentando no outro a esperança de encontrarem Elizabeth algum dia.