5 Sonhando Acordada

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Quase não estava acreditando no que tinha acontecido, na realidade eu não conseguia acreditar e era por isso mesmo, que espremida naquele ônibus lotado, eu segurava como podia o contrato em minhas mãos, agarrando-me a ele, para realmente acreditar que eu tinha acabado de ser contrata, e não por um setor qualquer, ou por um funcionário qualquer, o próprio CEO da empresa, me contratou. Quase uma hora depois o ônibus esvaziou mais e eu pude sentar, ainda esperaria mais uma hora para chegar ao ponto perto de minha casa.

Nada fazia sentido, e parecia que eu ia acordar de um sonho. Tinha sido extremamente fácil, e nada na minha vida nunca foi fácil, e mal conseguia acreditar. Minhas mãos tremiam, e meus olhos varriam o contrato de cima a baixo, incrédulos. Quando dei por mim, já estava quase chegando na minha parada, sinalizei para parar, e desci, andando em passos vacilantes para casa.

A ficha ainda não tinha caído. Peguei as chaves na bolsa e abri a porta, encontrando minha pequenina casa parcialmente arrumada, as janelas abertas, e Dinda com Lorenzo sonolento no colo.

_então? – perguntou esperançosa – conseguiu a vaga de jovem aprendiz?

_não... – murmurei colocando minha bolsa na mesa e ela me olhou compreensivamente – mas consegui um emprego! – revelei.

_um emprego? – indagou surpresa – isso é maravilhoso!

_sim... – respondi pegando meu filho nos braços e o apertando contra meu corpo – um emprego, para dar tudo do bom e do melhor para você meu amor! – falei para meu bebê, que se aninhou em meu colo, manhoso – veja, Dinda! – entreguei a ela o contrato.

_é um emprego excelente! – comentou – plano de saúde, plano odontológico, cartão alimentação, vale transporte... Hey, menina, você já leu essa clausula aqui em baixo?

_de dormir na casa do CEO? – perguntei e ela confirmou – sim! Algumas noites terei de ir para lá, mas levarei Lorenzo comigo!

_o seu chefe não vai se importar?

_tomara que não! Jamais passei uma noite sem meu filho, e ele pareceu ser bem compreensivo, quando contei a ele que tenho um! – falei – ficamos presos no elevador por causa de um treinamento de emergência lá da empresa!

_espera, você ficou presa com seu chefe? – perguntou perplexa.

_sim! Quase morri de vergonha depois... Ela não parecia um CEO, estava mais para um estagiário ou algo do tipo... Mas ele na verdade era o CEO, e graças a Deus, se comoveu com minha história e me deu um emprego! – comemorei sentindo a ficha cair aos pouquinhos – eu começo depois de amanhã! Só preciso acertar os horários, pois segunda começam as aulas de Lorenzo na creche! Meu homenzinho já está com 1 ano e meio, e precisa estudar!

_aquela creche é muito cara! – ponderou e eu suspirei, de fato, era extremamente cara.

_creio que com esse salário, vai dar pra pagar tudo tranquilamente! – falei – vou dar meu sangue para permanecer neste emprego!

_é o melhor que você faz... – sorriu me encorajando – eu preciso ir, fiz almôndegas para o almoço, e tem lasanha no forno! – Dinda abraçou-me e beijou a cabeça de Lorenzo – até mais tarde!

_até mais Dinda, obrigada por tudo! – falei tentando expressar minha gratidão.

Andei com Lorenzo até a sala, e sentei-me ajeitando-o em meu colo, para o amamentar, e logo ele estava mamando com vontade. Iria amamentar meu filho até os 3 anos e meio, essa bobagem de amamentar até dois anos era coisa da mídia, o leite materno era o ideal para a criança nos primeiros anos de vida, e se possível, as mães deveriam amamentar seus filhos o máximo possível, antes de retirar totalmente o leite materno e introduzir alimentos. Meu bebê era um pequeno dragão, mamava, mas só ficava satisfeito após comer sua comidinha. Hoje daria a ele pedacinhos de frutas cortadas, juntamente com uma sopa de legumes mais grossa que o normal e o deixaria se lambusar com sua comida favorita: almôndegas.
Enquanto mamava, meu anjinho me fitava com aqueles olhos cor de mel, inocentes e brilhantes, fazendo-me amá-lo ainda mais. Não suportaria se ele fosse como o pai, ou se levasse quaisquer resquícios daquele DNA imundo; estremeci com a lembrança, e mesmo sem querer minha memória voltou ao dia que contei a ele que estava gravida, e que ele ao saber que eu não abortaria, espancou-me gritando que tiraria aquela coisa de mim, por bem ou por mal, de um jeito ou de outro, só lembro de acordar no hospital toda entubada, inchada, quebrada e com dores, sem sentir um centímetro do meu corpo. Estremeci aterrorizada e solucei.
Minhas lagrimas caíram sobre Lorenzo que incomodado, agitou-se, trazendo-me de volta ao meu presente, sem aquele fantasma me assombrando, sem agressões, sem dor... Somente eu e meu filho.

_desculpe, meu amor! – falei limpando dele minhas lagrimas – não queria molhar você! – ele continuou olhando-me, sem parar o que estava fazendo – você é tão lindo... É a razão da minha vida...

Ele olhava-me tão profundamente, que parecia me entender perfeitamente. Eu o amava mais do que minha própria vida, e faria qualquer coisa por ele, sem hesitar. Daria a ele tudo do bom e do melhor, não importasse o quanto isso me custaria, por meu filho, iria do céu ao inferno. Quando o pequeno dragão se deu por satisfeito, começou a mordiscar o biquinho do peito, deixando-o dolorido.

_ai meu anjo, não faça isso, mais tarde você vai querer de novo! – ralhei mordendo suas bochechas gordinhas e gostosas – vamos tomar banho, ficar limpinho e comer! – ele sorriu animado e agitou-se em meu colo, ficando de pé – mamãe vai pegar você...

O coloquei no chão e ele gritou gargalhando, enquanto corria com suas perninhas curtas, e eu ia atrás. O peguei e o levei para o chuveiro em minhas costas, para lhe dar um banho rápido, e só depois que ele estava arrumadinho, sentado no chão vendo anime, que tomei um banho ainda mais rápido, para não deixa-lo sozinho muito tempo. Assim que me vesti, fui para sala e o chamei.

_vamos comer amor! – ele ignorou a televisão e levantou-se vindo em minha direção – comer para crescer e ficar fortinho meu amor!

_fotinho! – repetiu enquanto eu o colocava em sua cadeirinha.

_Dinda fez nosso almoço, como sempre! – falei puxando um assunto qualquer – mas podemos sair para tomar sorvete mais tarde!

_sovete! – repetiu animado.

Lorenzo era quase um super dotado, ele aprendia as coisas muito rápido, observava as pessoas e as imitava em poucos minutos. Obviamente ele ainda não falava com clareza, mas também não tinha as mesmas dificuldades que as outras crianças, na mesma idade dele, tinham. Ele ainda não conseguia falar palavras com “R” ou compostas, mas já falava o básico. Meu menino era um gênio, fora o que a pedagoga disse, ao avalia-lo; a creche era cara, mas daria uma boa base inicial nos estudos para ele, aproveitando cada segundo de sua genialidade.
Servi a sopa do meu bebê, que prontamente começou a comer sozinho, tinha algumas dificuldades, mas já comia com colheres normais e sozinho. Ficava irritado quando tentavam dar comida na boca dele. Sentei-me ao seu lado e comi em silencio, observando-o, terminar a sopa e atacar as almôndegas com vontade, esmagando-as na mão e comendo junto com alguns dos seus dedinhos, e eu só sabia olhar boba para meu filho.
Senti um aperto no peito ao constatar que ele estava crescendo rápido, que logo faria perguntas, e que para algumas perguntas eu não tinha resposta, e que para outras, eu jamais daria as respostas. Tratei de afastar esses pensamentos depressivos, e focar no novo emprego.
Essa era minha chance de dar uma guinada na minha vida. E eu não desperdiçaria ela de maneira nenhuma. Por mim e por Lorenzo, eu faria as coisas darem certo.





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