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Sentia meu corpo subitamente cansado, minha cabeça pesada, e meus olhos doíam mais do que eu conseguia assimilar. Senti o macio dos lençóis em minhas mãos, o cheiro de lavanda do amaciante, aos poucos tomei conhecimento de onde estava: minha cama.
Mexi os músculos um a um, devagar, como que testando se estava com tudo no lugar. Fato era que eu estava desorientada, não sabia como ou quando tinha ido parar ali, as memorias das horas anteriores eram um pouco confusas. Num momento eu estava chegando em casa, no outro ouvindo que meu pai poderia estar na cidade, no momento seguinte estava indo ao escritório para pegar um papel, que descobri ser um teste de DNA, onde mostrava quem era o meu pai.
Meu pai.
Cristian.
Meu pai.
Cristian era meu pai.
A informação repetia-se na minha mente, mas sem de fato que eu pudesse assimilar o que ela significava para mim, como uma frase sem sentindo algum, mas que é fundamental para o desencadeamento de alguma coisa.
Senti um nó se formando em minha garganta, automaticamente encolhi o corpo na cama, sentindo, pela primeira vez, os braços que circundavam minha cintura; um gemido me escapou pelos lábios, antes que eu pudesse tomar realmente consciência, sentia algo quente escorrer por meu rosto.
Eu só queria que aquela sensação de confusão instalada em mim parasse.

_ela está bem? – uma voz perguntou parecendo longe, porém perto o suficiente para eu escutá-la com clareza.

_vai ficar! – senti um leve estremecer vindo de um corpo atrás do meu, vindo do dono dos braços que me seguravam com firmeza – ela teve um ataque de nervos, é muita informação para lidar em pouco tempo...

_tem certeza que não devemos leva-la ao hospital? – uma terceira voz perguntou, e eu me toquei de que estava me tornando mais ciente de cada uma delas.

_só se fosse para ela surtar de vez! Ella não gosta de hospitais... – resmungou o dono dos braços que me seguravam.

Subitamente senti um aperto no peito, e uma terrível ansiedade; sendo movida por essa estranha agitação abri meus olhos e me contorci na cama, saindo dos braços quentes que me seguravam. Sentei na cama, sentindo a cabeça rodar, e mãos ansiosas me segurarem novamente.

_hey, Ella, vá com calma! – a voz pediu suavemente, enquanto tentava me fazer deitar novamente. Gemi frustrada e tentei me soltar – tudo bem! – as mãos não me soltaram, porém tive permissão para permanecer sentada.

Olhei ao redor ainda confusa e desnorteada, encontrando meu chefe e seu filho no meio do meu quarto, de pés, encarando-me ansiosos.
Meu chefe... Meu pai...
Passei os olhos por eles, buscando meu pequeno amuleto de conforto, e não o encontrando, tratei de me levantar num pulo, saindo pela porta do quarto quase correndo, enfiei o rosto no quarto da frente, e o encontrei vazio. Corri até a sala ansiosa, ouvindo sua voz vindo dali, e quase caindo por cima de sofá, sorri de alivio, ao me jogar no chão ao lado do meu homenzinho, que prontamente me recebeu com alguns beijinhos no rosto.
O apertei contra mim, sentindo seu cheiro doce de bebê, sua colônia fraquinha masculina e talco. Poderia morrer ali, e seria o paraíso para mim; mas quando seus olhinhos me encararam, refletiam uma singela e ingênua pergunta do porque eu estava assim.
Porque eu estava assim? Tão atordoada...
As pessoas eram más e por causa dessas pessoas más, eu tinha sido tirada da minha família de verdade, tinha sido privada de ter amor, de ter uma vida digna, e fui jogada no inferno, para ser o brinquedo do próprio demônio. Tudo porque as pessoas eram más, gananciosas, inescrupulosas, monstruosas... Mas mesmo passando por tudo isso, e sabendo a origem do meu filho, ao olhá-lo, eu só conseguia agradecer aos céus por tê-lo.
Ouvi vagamente passos se aproximando, mas já conseguia identificar seus donos, e não me sentia tão apreensiva ou ansiosa... Eu só estava ali. Deitada no chão. Com meu filho...

_Ella? – a voz de Hagnar chegou em meus ouvidos soando preocupado, levantei os olhos e o fitei – você está bem? – eu estava bem? Acho que sim... – você apagou faz quase um dia e meio... – relatou calmamente, como que para não me assustar.

_que dia é hoje? – indaguei num sussurro rouco.

_domingo... Já se passou da hora do almoço... – declarou e se aproximou mais, agachando-se brevemente – não está com fome? – eu estava com fome? Sim...

_sim...

_ótimo! Porque não vem comer um pouco? – ofereceu-me sua mão, e a peguei sem relutar.

Levantei aceitando a ajuda de bom grado, e então enxerguei os dois pares de olhos cor de âmbar, me fitando intensamente...

_talvez seja melhor nós irmos embora... – Cristian falou, parecendo inseguro.

_n-não... – neguei veemente – e-eu só preciso de um t-tempo...

_nós voltamos depois! – Enzo concordou com o pai.

_não! – minha voz subiu algumas oitavas, e me agarrei com força no braço de Hagnar, implorando-o para persuadi-los a ficar.

_Ella já passou por um bocado de estresse, fiquem! Por favor! – ele pediu afagando meus braços com carinho.

_tudo bem! – Cristian falou e Enzo apenas concordou.

_vamos comer, sim?! – Hagnar conduziu-me até nossa mesa de jantar, puxou uma cadeira e esperou que eu sentasse. – o que você quer?

O clima estava estranho, um pouco tenso ali. Hagnar parecia estar cauteloso sobre meu estado emocional, receoso de que eu entrasse em choque ou algo do tipo, e bem, Cristian e Enzo pareciam não saber como interagir. Todos, menos Hagnar, estávamos sentados à mesa, este permanecia pronto para me servir.

_pizza? – perguntei na esperança de amenizar o clima. E os três sorriam.

_pizza não é almoço! – Cristian comentou com um sorriso.

_mas já passou da hora do almoço! – enfatizei com um olhar sugestivo, e eles continuaram rindo.

_podemos negociar? – Hagnar indagou com um sorriso brincando em seus lábios – strogonoff de carne, arroz branco, purê de batata com queijo e batata frita... Pela pizza... – ele ergueu uma sobrancelha em desafio.

_é uma proposta tentadora... – fiz-me de difícil, e cruzei as mãos colocando-as em cima da mesa, fazendo minha melhor cara de pensativa.

_é um grande acordo... – Enzo me incentivou entrando na brincadeira.

_a pizza ainda me parece muito tentadora... – murmurei.

_posso arrumar uma fatia de bolo de chocolate... Para somar a proposta... – Hagnar sorriu diabólico, sabendo ter me deixado sem saída.

_touche! – ergui as mãos em rendição – eu fico com o strogonoff!

_uma decisão sabia! – ele concordou indo me servir.

_vocês já comeram? – perguntei a Enzo, que assentiu animado.

_sim! Viemos ver como você estava... – Cristian comentou – não se preocupe...

_dei muito trabalho? – olhei para Hagnar que terminava de me servir.

_não! – respondeu dando de ombros – na verdade você só dormiu, um sono meio agitado! Chamamos um médico para te examinar, e contamos o que aconteceu, ele disse que você teve um ataque de nervos, e o jeito que seu corpo encontrou para lidar com isso, foi se desligando por um tempo!

_então houve um médico... – resmunguei infeliz, e Hagnar virou-se colocando o prato abastado em minha frente, junto com os talheres.

_sim, apenas porque Midorya ficou preocupado quando você apagou, depois de chorar por uns 30 minutos! – respondeu.

_e onde ele está? – indaguei curiosa, iniciando minha refeição.

_ele recebeu uma ligação, algo relacionado ao trabalho, teve que partir imediatamente, mas disse que voltaria em breve para nos visitar, e ver como andam as coisas! – Cristian respondeu tranquilo.

_hum... – murmurei e continuei minha refeição em silencio, saboreando a mesma, deixando meus pensamentos vagarem. Quando já estava quase acabando, resolvi perguntar – eu queria saber como vocês fizeram tudo isso? – fui direta no que queria.

_bom... – Hagnar olhou para Cristian, trocando um olhar cumplice.

_eu iniciei a busca! – Cristian começou – quando vi você, no elevador, pensei que fosse só impressão, mas quando Enzo ficou frente a frente com você... Bem, íamos deixar tudo como estava, caso não achássemos margem para desconfiança, fora os olhos... Mas você foi adotada e surgiram outros fatores que davam indícios de que você podia ser minha filha...

_então você investigou... – ele assentiu, e olhei para Hagnar – como você entra nisso?

_antes de voltar, Pietro, nosso amigo em comum, me informou que estavam revirando seu passado, e bem, eu não ia deixar isso acontecer assim! Então confrontei Cristian, e após entender suas ações, resolvi ajudar! – explicou-me rapidamente – não queríamos mentir, mas não poderíamos te dar uma falsa esperança e depois...

_eu entendi! – o cortei – e como isso envolve Midorya?

_ele foi uma peça extra! Não imaginávamos que fosse aparecer... – Enzo explicou – foi por acaso, mas ele conseguiu ser um facilitador, e assim conseguimos em minutos o exame que estamos esperando há dias...

_então... Somos uma família? – indaguei incerta, e eles me devolveram da mesma forma, e então larguei o resto da comida – quer dizer, olha, eu entendo, se vocês não se sentirem confortáveis com isso... – tentei buscar com exatidão o que eu queria dizer, mas estava complicado – esse negocio de família... – bufei frustrada – as coisas podem continuar como sempre foram... – sugeri.

_não podem! – Cristian falou sério.

_não quero forçar uma convivência em família! – falei rapidamente.

_nós que não queremos forçar você a nada! – Enzo falou quase ao mesmo tempo – nós gostaríamos de fazer parte da sua vida... Mas se isso te incomodar...

_o que? Não! – respirei fundo – espera... – dei um tempo – vocês não se importam? Eu tenho uma vida simples, sou uma pessoa simples, com um filho e um quase noivo...

_você é minha filha, Antonella! – Cristian interrompeu-me – Lorenzo é meu neto, Hagnar é meu genro! Somos uma só família! nós não queremos que você se sinta acuada ou pressionada a fazer isto funcionar, mas passamos anos numa busca incessante, para acharmos o pedaço que faltava no nosso quebra-cabeça! Você é essa peça...

_na verdade, você seria a peça bônus, porque junto com você, vem o Lorenzo! – Enzo brincou nervoso – tipo um chaveirinho...

_vocês vão ter que ser pacientes comigo.. – murmurei com certa timidez – nunca tive uma família... Pessoas que se importassem... – olhei para Hagnar, que encarava-me com a mesma intensidade – Hagnar foi o primeiro que cuidou de mim, depois de anos...

Enzo estendeu-me sua mão em cima da mesa, e eu a seguei, tendo a minha envolvida pela sua. Um toque novo, causando uma reação nova... Amor fraternal...

_estamos aqui agora! – meu recém descoberto irmão falou e apertou de leve a minha mão, transpassando confiança para mim – vamos cuidar de você, Ella!

Aquela promessa aqueceu meu coração de formas inimagináveis, e eu me vi sorrindo para minha nova família.








Hey, Pandinhas Man! Voltei.... O que acharam? Muito agua com açúcar? Aproveitem porque estamos quase no fim, e o negócio vai ficar hard core nos próximos capítulos! Kkkkk comentem e deixem a estrelinha.

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