É nas horas das nossas perdas, que finalmente descobrimos que não estamos preparados para nada nesse mundo. Não há treinamento ou procedimento em qualquer lugar do globo que te prepare para o choque de perder alguém ou alguma coisa.
Quando entrei para a marinha norte americana, eu sabia o que me esperava, e o meu treinamento de CEO havia me preparado para aquilo, então não foi nenhum bicho de sete cabeças. Eu sabia o que tinha que fazer em cada situação, nenhum aspecto ficava desemparado de solução.
Claro que durante minhas incursões e idas para casa, conhecer Ella, fez com que minha percepção de risco ficasse mais aguçada, deixando-me de algum modo mais letal. Quando dei por mim, estava extremamente cuidadoso e agressivo, com uma precisão assustadora até mesmo para meus companheiros de equipe; as promoções vieram e as condecorações enfeitaram meu uniforme, mas enquanto eu estava em ação, só conseguia imaginar o que aquela pobre menina de olhos dourados estaria fazendo, ou se seu filho já teria nascido, ou como ela reagiria se soubesse da minha morte? Alias, será que ela chegaria a saber? Ou para ela, eu simplesmente desapareceria em missão e ficaria por isso mesmo.
De uma coisa eu tinha certeza: queria vê-la novamente. De alguma forma fazer parte de sua vida, ajuda-la. Não que eu tivesse qualquer responsabilidade, mas... Eu queria ter. Com ela. Como meus companheiros feridos, ela era uma lutadora, um soldado que tinha sido ferido e estava tentando continuar na guerra, e eu poderia ajuda-la, protege-la, não deixar que se machucasse mais.
Quando fiz minha ultima incursão eu sabia que estava pronto para voltar para ela. Antonella. Que nome belo, algo perto do italiano, enquanto o meu nome gritava “viking” como ela mesma dizia.
Lembro-me das circunstancias em que a encontrei com meu pequeno Lorenzo, em meio a uma crise alérgica. Não era o que eu esperava, mas já estava travando minha nova batalha. Não a deixaria tão facilmente, nunca mais, por ninguém!
Ficaria ali, como pai, amigo, irmão, o que ela precisasse. Não precisava ser seu amante. Era capaz de me contentar em amá-la sem tê-la, em apenas estar perto.
De algum modo as palavras sempre escorriam por minha boca, coisas bonitas, eu pensava, promessas de amor, ela ouvia, e acreditava.
Ajuda-la com Cristian e Enzo foi a parte mais simples da coisa toda. Eles não eram más pessoas e acima de tudo, eram família, mesmo em dois, eles eram família; E isso era algo que eu respeitava. Obviamente ter uma lunática que arquitetou toda a desgraça de Cristian sequestrando meu Lorenzo, não estava nos nossos planos, e o meu primeiro choque, foi ficar sem saber o que fazer com Ella imersa em puro desespero.
Decidi ir com Cristian e Midorya, porque no meio do campo de batalha, eu sabia como agir, afinal, eu ainda era um soldado lutando minhas próprias batalhas; Porém Enzo era o verdadeiro Herói por ter ficado ao lado de Ella, quando ela mais precisou.
Dia após dia, decidi me preparar para qualquer escolha que Ella fizesse: me escolhesse como amante, como amigo, como irmão. Para mim não importava, iria respeitar e aceitar sua escolha.
Então Cristian teve a brilhante ideia de que eu deveria pedi-la em casamento durante sua festa de aniversario. Segundo ele, ela não recusaria pois apenas eu não via o quanto ela me amava. Eu via, mas não queria tomar aquilo como verdade absoluta e forçar meu amor nela. Então ele expôs sua brilhante ideia, e me deixou pensativo. Claro, a vida de um CEO tem suas responsabilidades e por infelicidade do destino, coincindio justamente com os dias anteriores ao aniversario de Ella.
Quase não nos víamos, mal tínhamos tempo de nos falar, quando eu chegava, Ella e Lorenzo já estavam dormindo, quando eu saia, eles ainda dormiam. Cristian chegou a comentar que Antonella estava meio estranha, talvez um pouco aérea e sem o semblante feliz de sempre, mas não cheguei a pensar no motivo real, ou no que se passava pela cabecinha dela.
Cansado da rotina que apenas nos separava, e ansioso demais para esperar, decidi marcar um jantar e colocar as coisas no seu lugar. Eu estava fugindo disso como um garotinho assustado, porque no fundo queria que ela me escolhesse como seu amante; No entanto, caso ela me rejeitasse, a rotina corrida, amenizaria a dor inicial da “separação”.
Só que as coisas não passaram nem perto de se ajeitar durante o jantar. A distancia entre nós, a tinha deixado insegura e com duvidas, o que a fez criar teorias absurdas de que eu tinha outra pessoa ou de que deixaria ela e Lorenzo. E como a cereja do bolo da desgraça todas, falei as palavras erradas no momento errado, criando a reação mais errada e clichê de todo o universo: ela sair correndo.
Respirei fundo num milésimo de segundo; Vendo o quanto a falta de informação e dialogo podiam foder com as coisas, decidido a por tudo em águas claras, levantei-me e corri atrás de Ella.
Me senti num daqueles filmes de merda, em que o mocinho vê a mocinha sofrer um acidente e não pode fazer absolutamente nada, porque naquele exato segundo, as leis da física parecem foder com tudo, e ninguém se move na velocidade adequada. Eu sabia que estava correndo o mais rápido que podia, e ainda sim, não adiantou de nada.
O dono do SUV que a atropelou não prestou socorro, mas num olhar, gravei a placa do carro e em algumas horas, ele teria o que merecia. Agachei-me ao lado do corpo de Ella e a avaliei, não haviam fraturas expostas, levantei sua blusa olhando costas e costelas, havia o inicio de uma hemorragia próximo a costela, escoriações de leve pelo corpo, cotovelos, mãos, joelhos, mas o que me alarmou foi o sangue escorrendo pelo nariz.
Minha avaliação levou exatos 48 segundos. A ligação para o socorro, exatos 2 minutos, devido a incompetência e lerdeza da atendente. Minha ligação para um amigo rastrear a placa do maldito SUV durou apenas 40 segundos. A ambulância levou quase 6 minutos para chegar, dada a influencia que usei para acelerar o maldito processo de resgate. Meu pedido de reforço, precisou de apenas um toque.
As pessoas tentaram se amontoar e tirar fotos. Tirei meu blazer e escondi o rosto de Antonella.
_qualquer um que tirar qualquer foto dela, estará sujeito a ser processado e receberá uma intimação judicial pela manhã! – declarei duro, fazendo as pessoas se afastarem – cada um de vocês terá o celular rastreado e eu vou garantir que qualquer um que tente uma gracinha, vá passar no mínimo alguns meses na penitenciaria estadual!
Minha equipe tática chegou, todos de preto, encapuzados, armados e cercando o perímetro, as pessoas ficaram em pânico e tentaram correr, mas cada uma teve seu celular inspecionado antes de poder ir. A equipe escoltou a ambulância, onde os paramédicos prestavam os primeiros socorros; enquanto eu seguia atrás de carro.
_ligar para Cristian! – acionei o contato do mesmo e esperei que ele atendesse.
_e então? Foi um sim? – atendeu todo animado.
_vista suas calças que deu tudo errado! – rebati cansado – Cristian, tudo que nós poderíamos pensar que poderia, apenas uma hipótese ridícula de dar errado, deu errado!
_quanto azar! – resmungou – o que houve?
_Ella estava pensando que eu tinha outra pessoa, e pior, que eu deixaria ela e Lorenzo! Como se isso fosse possível de acontecer! – declarei indignado com a possibilidade.
_então era isso que se passava na cabecinha dela... – murmurou.
_nós meio que discutimos, e ela perguntou se tinha estragado tudo, e eu disse que sim! Puta merda, eu nem sei como disse aquilo, foi um impulso maníaco, ou sei lá o que! – cuspi as palavras esmurrando o volante – ela saiu correndo e um SUV atropelou ela.
_parei de acompanhar do “ela saiu correndo e foi atropelada”... – ele repetiu.
_estamos indo pro hospital Cristian! San Angelo, estávamos quase chegando! – suspirei derrotado.
_ja chego ai! – desligou.
Quando demos entrada no hospital, dispensei toda a equipe e requisitei apenas 3 seguranças para monitorar qualquer movimento suspeito. Cristian chegou em seguida.
_deixei Enzo cuidando de Lorenzo! – informou – como ela esta?
_estou aguardando a avaliação do médico, eles estão fazendo uma bateria de exames! – respondi automaticamente.
_mas que porcaria! – resmungou – como isso foi acontecer? Quer dizer, qual a probabilidade disso acontecer? Por acaso estamos em uma novela mexicana? Ou um livro de romance clichê?
_isso foi culpa minha! – suspirei – se eu tivesse sido claro desde o inicio, mas não! O covarde aqui tinha que ir empurrando as coisas com a barriga! Jamais teríamos chegado a esse ponto!
_não foi culpa de ninguém! – rebateu – não vamos tornar isso ainda mais dramático do que já está!
Minutos depois recebemos o diagnostico do médico. O mais importante: ela não ia morrer. Dores faziam parte, já que tinham bastante escoriações, a hemorragia foi contida, nada grave, uma costela trincada apenas, e o sangue no nariz fora devido a uma veia que estourou com o impacto. Sem coágulos, nódulos, vácuos ou qualquer coisa enviada direto do inferno para matar alguém. Fora o susto, estava tudo bem.
Cristian voltou para casa, e eu fiquei com Antonella. Ele traria Lorenzo pela manhã, afinal, Ella iria querer ver o filho assim que acordasse. Só que eu não estava tê-la acordada antes do amanhecer.
_você deveria estar descansando! – alertei quando ela teimou em sentar na cama – e deveria ficar deitada.
_tudo doi! – resmungou fazendo careta.
_é o que acontece quando somos atropelados! – rebati – tudo doi! Agora deite-se!
_eu estraguei tudo, não foi? – levantei da poltrona e fui para o seu lado.
_não vamos entrar no mérito de quem estragou o que! A falta de informação e o dialogo foram os responsáveis! Agora deite-se!
_Hagnar... Eu sinto muito... – desculpou-se com a voz embargada.
_pelo amor dos anjos, Antonella, se você vai chorar, pelo menos, deite-se! – implorei empurrando-a pelo ombro até deitá-la na cama – fique deitada, esta bem?
_eu sou tão idiota...
_eu sou o adulto responsável dessa relação! – argumentei, e passei a mão no bolso – sou eu quem toma as decisões por aqui, se a culpa é de alguém, ela é minha! E não se fala mais nisso! – tirei a pequena caixinha que estava guardando há dias, com o anel que havia escolhido para Ella a dedo – esta vendo isso? – mostrei-lhe a joia, fazendo seus olhos transbordarem – é seu!
Peguei a delicada joia e a coloquei em seu dedo anelar, e joguei a caixinha no lixo, fazendo uma cesta de 3 pontos.
_vai ficar ai até ganhar o outro, no dia do casamento! Vamos nos casar e esta decidido! – decretei e ela sorriu.
_e se eu não quiser casar? – indagou com meio sorriso.
_você não quer casar comigo? – perguntei.
_quero! – respondeu tentando enxugar as lagrimas, sem sucesso.
_como eu disse, vai casar comigo sim! – beijei sua testa – só me prometa uma coisa...
_o que?
_não saia mais correndo ou se jogando na frente de carros! Por favor! – pedi num lamento fingido.
_acho que posso cumprir essa promessa sem problemas! – brincou.
Horas depois***
“Dono de SUV se entrega a policia, após ter seu carro explodido e a calçada de sua casa pichada durante a noite. Ele alegou ter atropelado uma pessoa e não ter prestado socorro!”
_explodiram um carro... – Antonella comentou vendo o noticiário na TV, enquanto tomava café – será que mais alguém foi atropelado? Esta vendo Hagnar, não sou a única que fica se “jogando” na frente dos carros! – brincou.
_lembre-se da sua promessa! – enfatizei – e eu acho que ainda foi pouco... – peguei o celular e mandei mensagem para um amigo “garanta que ele seja bem recepcionado na cadeia durante toda sua estadia!” – por mim, podia explodir a casa!
_ainda bem que você não tem poder para isso! – rebateu e eu apenas a encarei sorrindo – não é? – encarou-me duvidosa – Hagnar...
_eu não explodi a casa! – me defendi, deixando-a boquiaberta – foi só o carro! – falei por fim.
Kkkkkk só o carro tá pandinhas! Em breve eu volto.... kkkkk pra tu KyaraMesquita
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Laços de Sangue
Genel KurguSeparados por nada além do ódio e da ambição de alguém que vivia para seus própria interesses. O desejo obsessivo e destruidor por poder, causou assim uma ferida profunda na alma do empresário Cristian Castellamare. Com o sequestro de um dos filhos...