Quando sai do elevador em meu andar, só tinha em mente os olhos daquela menina. Sua história comoveu-me e não pareceu ser uma desculpa esfarrapada qualquer para tentar se vitimar, ela nem pareceu me conhecer, e tratou-me como um igual seu, e reconheci a sinceridade de suas palavras. Iria me dar ao luxo de garantir uma vaga de emprego para ela, nunca passei fome, meu pai trabalhou duro para nos dar tudo do bom e do melhor, e ela estava fazendo o mesmo por seu filho. Daria uma chance dela mostrar seu valor. Fui para minha sala, resolver alguns assuntos pendentes, mas logo consegui me livrar da papelada e ligar para Antony, o chamando. Logo o mesmo batia na porta, pedindo permissão para entrar.
_Tony, tenho uma tarefa para você! – falei levantando-me – nos meios dos candidatos às vagas de jovem aprendiz, há uma moça, cabelos cor de mel, olhos iguais aos meus, seu nome é Antonella!
_sei quem é! Uma bela e educada moça! – acrescentou.
_envie as informações dela ao RH, direto para Keito, peça a ele que formule um contrato de trabalho para ela urgente, diga para que ele pare o que está fazendo e faça isso, é de urgência máxima! A moça é emancipada e precisa de um emprego, lhe darei uma oportunidade! Ela será aspirante a minha AP! – ele ergueu uma sobrancelha e sorriu maroto.
_quando você inventou essa função? – perguntou brincalhão e sorrimos.
_há uns minutos... Ela trabalhará com você! Mas como você é meus olhos e ouvidos nessa empresa, nem sempre pode estar ao meu lado, então ela servirá perfeitamente para o cargo! Farei os horários dela de acordo com os meus! – ele apenas deu de ombros – ensine-a tudo que ela precisa saber!
_certo! – afirmou sorrindo – mais alguma coisa?
_não diga nada a ela, irei pessoalmente dar a boa nova! – declarei sorrindo travesso – a encontrei no elevador, e ficamos presos, durante o treinamento!
_desculpe, Cris, esqueci de te avisar! – desculpou-se sem graça.
_esqueça isso! – dei de ombros – agora vamos, você precisa terminar as entrevistas e eu tenho uma ligação para fazer!
_é claro! – concordou.
Ele voltou as entrevistas, e eu liguei para Enzo, para saber como estava o tour, não tinha como ir até eles e mostrar-lhes pessoalmente a empresa, o papel de CEO ocupava muito meu tempo, mas me dava algumas regalias, como por exemplo oferecer um emprego num cargo inventado a menos de uma hora para alguém que precisava de um emprego. Sorri satisfeito comigo mesmo, e desci até o andar onde estavam os candidatos.
Assim que sai do elevador, andei distraído para a recepção, quando acabei trombando em alguém, que derrubou o celular no chão, e a julgar pelo ruído, devo ter dado prejuízo a pessoa.
_desculpe... – falou a pessoa, agachando-se e pegando o celular.
_oh, não, eu que devo me desculpar! – falei sem graça, e quando a pessoa levantou, reconheci Antonella – perda total? – indaguei olhando para o seu celular, o qual ela logo guardou, provavelmente escondendo o dano.
_não! – respondeu simplesmente.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, um jovem loiro dobrou o corredor, trajando roupas sociais, e parecia estar procurando alguém.
_ei olhos claros, o entrevistador acabou de chamar você! – anunciou ao ver Antonella, que ficou extremamente pálida.
_você está bem? – perguntei preocupado com sua palidez extrema. Só então perguntei-me se ela tinha feito alguma refeição antes de vir para cá – Antonella! – chamei-a.
_estou... Preciso ir... – falou soando um pouco aérea.
_eu acompanho você! – ela apenas afirmou e começou a andar, parecia um pouco cabisbaixa, comparado ao seu estado de espirito no elevador.
Haviam muitos jovens ali, e a maioria deles iria ser aceito, pois estávamos com bastantes vagas disponíveis. Todos ali, me reconheceram de imediato, e ficaram em silencio, enquanto eu fingia os avaliar, mas na verdade tava só fazendo cara de mal mesmo.
_Sr. Mason! – o chamei fazendo minha melhor voz grossa, e logo Tony surgiu olhando-me com uma sobrancelha erguida, e um sorriso ameaçando surgir – esses são os candidatos? – perguntei olhando ao redor, e meu secretario resolveu entrar na brincadeira.
_sim, Senhor Castellamare! – respondeu formalmente – jovens, este é Cristian Matteo Castellamare, CEO da Casttle! – apresentou-me com toda pompa, deixando os jovens ainda mais impactados do que já estavam.
Por um momento temi que Antonella desmaiasse ao meu lado, pois ela foi de pálida, para fantasmagórica, enquanto seus olhos se arregalavam em minha direção, confirmando minha suspeita de que ela sequer sonhava com quem eu era.
_gostaria que a senhorita... – fingi esquecer o nome dela, mas fitei-a diretamente, e Tony prontamente o “revelou” a mim.
_Antonella Fitzpatrick! – fingiu auxiliar-me, o sem vergonha, amava quando eu fazia isso para atemorizar os novatos.
_que a senhorita Fitzpatrick fosse encaminhada ao último andar! – declarei – irei entrevista-la pessoalmente em meu escritório! – pisquei para Tony e virei-me já iniciando meu retorno ao escritório. Dobrei o corredor e sufoquei o riso, entrei no elevador e fui para o meu andar, espera-la no escritório.
Assim que entrei, recebi por fax o contrato dela, o revisei, e no momento em que eu acabei de revisá-lo, ela bateu na porta, pedindo permissão para entrar, e eu a concedi, vendo-a entrar visivelmente acuada com a situação, mas mantendo-se firme como podia.
_ola Antonella... – a cumprimentei sorrindo como no elevador.
_Senhor Castellamare... – respondeu formalmente fazendo-me rir, e deixando-a ainda mais acuada.
_ora, deixe disso! Sente! – pedi, e ela assim o fez – você realmente não sabia quem eu era, não é mesmo?
_não senhor! – respondeu sem graça – tinha uma vaga ideia de que o CEO dessa empresa chamava-se Cristian... Mas jamais imaginei...
_o destino está soprando os ventos ao seu favor, hoje! – pisquei para ela, fazendo com que me fitasse confusa – você não vai ganhar a vaga de jovem aprendiz...
_oh... – exclamou e sua expressão de decepção incomodou-me profundamente.
_vou lhe dar um emprego! – anunciei direto, ansioso para me livrar daquele sentimento ruim. Ela olhou-me chocada – você aceita?
_é pegadinha? – perguntou incrédula.
_não! Por mais que eu goste de trollar os outros... Você precisa de um emprego, um salário para complementar sua renda... Ou estava mentido? – indaguei e ela franziu o cenho.
_claro que não menti! – rebateu rapidamente.
_ótimo! Aceita a vaga?
_aceito! – respondeu firme – a vaga é de que mesmo? – perguntou esboçando um sorriso inseguro.
_você será minha AP, e trabalhara com Antony, que é meu secretário! – sua boca formou-se em um pequeno “o” – seus horários serão os meus horários, quando eu não estiver aqui, você também não estará!
_isso é certo? – perguntou – não estou reclamando, só que parece meio absurdo... Você me dar um cargo assim... Há pessoas mais qualificadas que eu para tal... Se me desse uma vaga em qualquer outro setor, já estava bom para mim!
_sim, eu sei! – concordei com seu pensamento humilde – mas estou te dando uma chance de ouro, então seja inteligente e agarre ela! Não cheguei onde cheguei, tomando decisões precipitadas! Estou lhe oferecendo um cargo bom, com um trabalho relativamente leve, horários flexíveis e um salário excelente! – declarei – é a sua chance...
_não vou desperdiça-la! – respondeu firme – obrigada, senhor... – a interrompi.
_Cristian! Apenas, Cristian! – falei – esse é o seu contrato, você leva pra casa, lê, e assina as duas vias! Amanhã deve trazer seus documentos pessoais, carteira de trabalho, etc., para a confecção do seu crachá e início imediato na quarta-feira! – joguei todas as informações de uma vez, enquanto ela olhava o contrato em suas mãos – e continue estuando para o vestibular, a empresa tem um programa para nosso funcionários que fazem faculdade, investimos pesado na qualificação da nossa mão de obra! Estou lhe dando a oportunidade de crescer a garantir uma vida boa para Lorenzo! – citei o nome de seu filho, apenas para motivá-la ainda mais, e consegui perfeitamente.
_lhe serei eternamente grata! – eu me levantei e ela em seguida, e estendi minha mão para Antonella, que a apertou com firmeza – se for só isso, preciso ir, Lorenzo deve estar para acordar!
_eu te acompanho... – a acompanhei até a porta, mas quando abri a mesma, demos de cara com Enzo, que ficou a poucos centímetros de Antonella, encarando-a diretamente.
Estremeci dos pés à cabeça, ao notar algumas semelhanças entre eles, e principalmente os olhos. Ela limpou a garganta e desviou o olhar.
_Antonella, esse é meu filho, Enzo! – apresentei – Enzo, essa é a mais nova funcionaria da Casttle!
_parabéns... – meu filho falou parecendo desnorteado.
_obrigada... – ela murmurou sem graça – até amanhã, senhor, e obrigada pela chance! – agradeceu novamente antes de andar em direção ao elevador. Assim que entrou no mesmo, e as portas se fecharam, Enzo encarou-me sério.
_diga que você também sentiu o que eu senti... – intimou-me.
_pode ser coincidência... – ponderei, mas meu filho parecia cético demais.
_ou o destino está soprando ventos ao nosso favor... Não custa nada verificar! – falou – e uma recessividade como aqueles olhos, não são mero acaso!
_Enzo...
_se você não fizer, eu vou fazer! – declarou firme, deixando bem claro que eu não tinha opções.
_faremos do jeito certo! Com calma! – falei por fim.

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Laços de Sangue
General FictionSeparados por nada além do ódio e da ambição de alguém que vivia para seus própria interesses. O desejo obsessivo e destruidor por poder, causou assim uma ferida profunda na alma do empresário Cristian Castellamare. Com o sequestro de um dos filhos...