10

636 53 7
                                    

Kiara Soares

- Já disse que não interessa! - Elevou o tom de voz, esmurrando qualquer coisa.

Sentei-me na cama, inquieta com os gritos que ouvia do Rui. Estava adormecida, até ouvir uns gritos e dois estrondos.

O moreno tinha esmurrado a porta da casa de banho e partido o telemóvel contra o chão. Não sabia o que se tinha passado, pois ainda estava atordoada com tudo. Reparei nos olhos cheios de lágrimas dele.

Ao perceber que estava acordada, sentou-se aos pés da cama com as mãos na cabeça. Disse algo que não consegui entender, incentivando-me a sentar perto dele.

Afastei ambas as pernas, encaixando-me nas costas dele, conseguindo abraçá-lo. Passei uma mão pelas costas dele.

Senti o seu corpo relaxar, o que me fez pousar a cabeça nas costas firmes do moreno.

- Está tudo errado. Só fiz merda.

Tinha medo que se arrependesse de estar comigo, mas não podia fazer nada. Ele tinha os filhos e a sua mulher em casa. Qualquer pessoa se ia arrepender de trair alguém como a Vera, com uma miúda como eu.

Um homem com trinta anos, com o poder e a influência que o Patrício tem, estar comigo, um poço de problemas com os vinte e três feitos.. E sem qualquer interesse.

- A Vera está prestes a assinar os papéis de divórcio. Já estávamos mal antes do ataque. - O homem explicou.

Mantive-me em silêncio.

- Só te posso agradecer por estares aqui. E não penses que estou a querer recuar.

- É normal que estejas. Qualquer pessoa se arrependia de estar comigo. - Disse, num tom de voz bastante baixo. - Compreendo. Posso ir embora, caso queiras pensar.

- Estás louca?! - Levantou-se, de modo a virar o seu corpo para mim. Abraçou a minha cintura e deitou-me na cama. - Repete.

Encolhi os ombros.

- Repete o que disseste.

Mantive-me em silêncio, embora sentisse as lágrimas encher os meus olhos. Porque raio me sentia tão sensível? O seu olhar suavizou. Ficou um tanto pensativo.

Largou a minha cintura, afastando as minhas pernas com uma dele. Apoiou-se num ombro e acariciou o meu rosto.

- Não estou louco ao ponto de te deixar ir. Tudo o que quero é estar contigo.

Murmurou calmo, tão doce.

- Só te posso pedir desculpa, mas não te deixo sair deste quarto. - Aproximou os nossos lábios e encarou-me. - Estás presa a mim. Jamais me vou arrepender de estar contigo.

- Não quero ir a lado nenhum. - Deixei claro, o que fez com que sorrisse. - É tão estranho, mas estou feliz por estar aqui.

- Também eu. Mas ia estar mais feliz, num país onde ninguém nos conhecesse.

Arqueei a sobrancelha.

- Acordei mais cedo. Mencionaste ter família na Tailândia e eu não resisti em comprar dois bilhetes para lá.

- Estás louco Rui?

Encolheu os ombros, sentando-se ao meu lado com um sorriso no rosto.

Mostrou-me a modificação da compra de dois bilhetes para a semana seguinte. Não sabia que tinha levado a minha proposta tão a sério, visto que estava a brincar.

Partilhei com ele o facto de ter família na Tailândia, dai viver com os meus tios. Não lhe contei tudo, mas grande parte.

Os meus olhos encheram-se de lágrimas.

- Só preciso de resolver algumas coisas. Diz-me que vens comigo, por favor.

- Claro que vou! Estava a precisar de sair daqui, nem sei como te agradecer. - Não pensei no que estava a fazer, apenas o abracei. - Como é que posso agradecer?

- Apenas tem paciência comigo. Prometo que te vou compensar. - Levou a mão ao meu rosto, o que me fez fechar os olhos.

- Não precisas de fazer isto.

- Pois não, mas quero. Faço por mim e por ti, por não te conseguir tirar da cabeça. - Admitiu, mais uma vez, sem hesitar.

- Obrigada Rui, isto é surreal. - Deixei escapar umas quantas lágrimas.

O homem limpou-a, um tanto surpreendido.

- Não fazes ideia do que esta viagem significa para mim. - Admiti-lhe. - Mas vais ter. Quando o momento certo chegar.

- Fico à espera. Sem pressões, só quero que seja tão bom para ti, como vai ser para mim.

Cheia de coragem, juntei os nossos lábios.

...

Uuuuuh

BATTLEFIELD  ➛  RUI PATRÍCIO  Onde histórias criam vida. Descubra agora