O melhor presente a se entregar a um vampiro condenado há séculos a uma eternidade de imortalidade e solidão, escondendo-se pela escuridão da noite como as bestas, indubitavelmente é apresentar-lhe uma cura. Uma válvula de escape durante o dia, tirando-o nem que por um dia das sombras das cortinas ou saletas fechadas. Whale, por sua vez, mantinha seu coração sereno, pois tinha a certeza de que seu soro seria o maior presente que Emma receberia após todos aqueles séculos, proibida de estar ao lado de seu amor.
Certamente, a vampira ansiava por encontrar Regina Mills durante as belas e românticas tardes amareladas e ensolaradas que tomava conta de toda a Romênia... Aquela face semelhante à esposa de Jennifer havia sido esculpida com muito louvor, como se o amor de ambas fosse mais poderoso que o tempo, mesmo sendo um plano bem articulado séculos atrás.
– Doutor, para que fazes este soro? – Whale, ao olhar pela lupa e perceber que conseguira sucesso em reanimar as células mortas, sentia seu peito inflar ao saborear a doce sensação de vitória abatendo-se em seu peito. – Deverias descansar ou procurar uma cura para tua doença. Mas ao invés disso, te distrais com invenções e experimentos insignificantes. – August, colega de trabalho do professor, esbravejou dando um soco contra a mesa de madeira.
Depois de um gesto descuidado por comemorar sua conquista, o doutor apoiou-se sobre a beirada da mesa de estudos, equilibrando-se ao sentir seu corpo enfraquecer após cambalear e quase cair ao chão.
– Não é insignificante, caro amigo. – balbuciou Whale, sentindo suas mãos tremerem e sua respiração ficar difícil. Cada minuto de sua vida deveria ser aproveitado para pesquisar uma cura para sua doença, que jamais houve relatos de pessoas que sobreviveram após adquiri-la. – Acreditas em imortalidade, August?
Por um momento, o jovem de boa aparência, abateu-se sob um silêncio tão calado quanto o som da noite. Sentiu a saliva descer com dificuldade por sua garganta, sem saber qual seria sua resposta para aquela pergunta. Ouvira há décadas as palavras de Whale, observou-o entrar em aventuras para encontrar o caixão daquele a quem julgava ser Drácula, enxergou em seus olhos a admiração por aquela lenda. Porém, custava-se a crer que tudo aquilo fosse real.
– Talvez. – respondeu, sem surpreender seu amigo. – Talvez exista a tal imortalidade, no entanto, venho a questionar que se existisse todos recorreriam a tal conveniência e a mesma seria conhecida por todos os cantos do mundo. Se realmente existe a chave para a benção de jamais experimentar o sabor da morte, quem seria o ser egoísta a ponto de escondê-la de nós? Centenas de milhares mortos em guerras, em pragas que devastam o mundo desde os primórdios... E essa pessoa foi egoísta a este ponto? Prefiro, então, pensar que não existe tal façanha.
– Faz sentido. – suspirou se sentando à cadeira do laboratório de pesquisas. – No entanto, pergunto-lhe: e se essa fonte de imortalidade não passasse de uma maldição... De apenas mais uma praga com poder suficiente de devastar a humanidade? Vida eterna, porém, sem amor ou quaisquer sentimentos de piedade... A sede insaciável de sangue humano, fazendo-o perambular dentre a penumbra noturna. Uma eternidade de recordações de seus entes queridos, assim como da pessoa a quem tanto amou. Caso se apaixonasse alguma outra vez, tu terias coragem de amaldiçoa-la apenas para que fiquem juntos?
Seus olhos azuis voltados para sua maleta médica, procurando a seringa para sua coleta de sangue como ultimo e mais importante ingrediente para que seu soro funcionasse, não deixava de perceber como havia deixado seu amigo sem resposta alguma. August abria e fechava a boca, observando a devoção de Whale para com as lendas, chegando à conclusão de que o doutor realmente acreditava que Drácula era uma mulher e que tudo fora perfeitamente ocultado das lendas. E aquela convicção o fazia, também, crer que teria chances de tudo aquilo ser real dada a calmaria e crença que resplandeciam nas órbitas do homem doente.

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Into The Moonlight
FanfictionHá séculos condenado às trevas; condenado à uma solidão eterna. Adormecido por quase quatro séculos, continua a sentir tudo o que acontece ao lado de fora dos túneis de escavações. Desde que caiu sob sua terrível maldição, surgira também lendas sobr...