Into The Moonlight

Memories

Romênia – 1476

(In this world you tried

Not leaving me alone behind)

(Neste mundo você tentou

Não me deixar para trás só)

Haviam se passado vinte anos desde que perdera toda a razão para sua felicidade, vendo todos de sua família perecerem diante de seus inimigos. Fechava seus olhos e rememorava décadas passadas, onde era feliz ao segurar sua falecida esposa em seus braços, ao ensinar sua pequena estrelinha a jogar pedrinhas no rio... Ao ter a chance de criar uma filha até a vida adulta. Entretanto, tudo não passava de lembranças as quais jamais voltariam a ser reais.

Os alarmantes trovões que ressoavam naquela noite não foram o suficiente para deixar passar por despercebido o movimento retumbante de seu povo cortando caminho por entre as matas. Alguns cortavam galhos de árvores que atrapalhavam sua caminhada e pisavam com tanta fúria sobre a terra molhada, afundando-a e criando pequenas poças de lama. E ela, a guerreira, sabia disso, pois os escutava a distância através de sua audição vampiresca.

— Minha senhora, o povo marcha contra vosso território. — a guardiã, como era conhecida em campos de batalha, alertou-a, aproximando-se suficientemente dada a afeição que possuíam.

— Conheces os túneis do castelo. — Jennifer respondeu, com os cotovelos apoiados na sacada de sua torre, a mesma na qual supostamente Lana tirara a própria vida. — Salve a ti e o teu amor.

— Não vai ao menos tentar se salvar, minha senhora? — os orbes verdes da guardiã encheram-se de lágrimas. Sentia-se em uma péssima divisão, onde se ficasse para salvar sua governante poderia perder e deixar sua namorada sozinha, sem destino. Mas se fosse embora com a mesma, estaria deixando de lado sua família, a mulher a qual serviu por décadas. — Irás tentar exterminar todos eles? Eu te ajudo, como fiz por toda minha vida desde minha infância.

— Não, minha querida... — Jennifer respondeu suplicante, como se estivesse aguardando sua própria morte com o intuito de acabar com todo seu sofrimento. — Eu deveria ter sido morta na noite em que mataram minha esposa. Estou cansada de servir àqueles homens depois de tudo o que me fizeram, e sabes que apenas os sirvo, pois os mesmos caçariam minha pequena Alice até os confins do mundo. Eu... só quero acabar com tudo isso. — sibilou a loura, com a face pálida tomada por grossas lágrimas. — Tu, Senhorita Woods, mereces ser feliz com a mulher que amas.

— Não podes se entregar, Jen! — a guardiã esbravejou, segurando as mãos da vampira. — Juntas, apenas eu e tu, somos capazes de conseguir derrota-los.

A exaustão exposta no reflexo das órbitas cores de esmeraldas de Jennifer denotava toda sua infelicidade. Após sua transformação, a loura tornou-se uma máquina sanguinária e demorou tempo para se controlar. Controlou-se por Alice; por ouvir os avisos que os membros da Ordem do Dragão lhe diziam, alertando-a que, caso ela não se reerguesse e não lutasse ao lado da igreja novamente, iriam atrás de sua preciosa filha... Esforços não seriam medidos com a finalidade de tirar a vida da pequena menina. Sem mencionar que, caso Jennifer os matasse, os mesmos teriam descendentes e familiares para retornarem.

— Não posso deixar-te morrer por minha culpa!

Durante as últimas semanas em que permanecera na terra, nos séculos anteriores, rebelou-se contra a irmandade. Negou-os o que diziam ser o direito deles de condenar a guardiã e sua namorada à justiça do povo... Descontrolou-se e matou pessoas, assinando sua sentença de morte.

— Guardiã, minha amiga, sabes que esses homens querem teu sangue! — levantou-se, dando passos pesados em direção à mulher de cabelos castanhos claros, fazendo-a dar passos para trás a ponto de chocar-se contra a parede. — Desde tua juventude treinei-a para me obedecer, para que fosses a melhor de todo o meu exército... Para que fosses como eu, e de fato tu és. És muito mais que eu esperava; és o orgulho de minha vida.