Irmandade

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Castelo de Bran — Anoitecer

A amarelada iluminação provocada pela chama da lamparina iluminava bastante o quadro a ser pintado. Os pincéis traçavam detalhadamente a tela, que anteriormente era branca e límpida, começando a apresentar seus primeiros traços de um retrato. As órbitas azuis observavam minuciosamente os verdes pintados perfeitamente nos olhos da caricatura em seu quadro, enquanto o pincel passeava pela tela.

— Minha estrelinha, estás errando o retrato de tua mãe? — Killian Jones, seu pai, perguntou calmamente ao analisar a figura loura de olhos verdes representada naquele quadro de Alice.

— Acho que a tinta amarela acabou.

— Comprarei amanhã, no início da noite.

— Por que não fazes misturas como mamãe fazia? — perguntou, fitando-o rapidamente. Quando criança, adorava pintar, e Lana lhe dava diversas misturas que formavam os pigmentos e tintas que precisara em seus desenhos. — Mamãe esmagava uma planta chamada... Açafrão, e assim conseguia o pigmento amarelo.

— Lana era inteligente demais... — Killian suspirou, lembrando-se como a esperteza da mulher o deixava admirado. Assim como a bravura de Jennifer. — Amanhã, ao anoitecer, procurarei açafrão para fazer a tinta amarela, está bem?

Sorriu ao ver a mulher concordar com a cabeça.

O homem de cabelos negros e olhos azuis inclinou a cabeça ao comparar o novo desenho de sua filha com todos os anteriores. Quaisquer obras pintadas anteriormente por sua preciosa filha eram belas e uniformes, tingidos com o fundo escuro e esfumaçado, com o rosto de suas mães desenhados perfeitamente. Uma única vez que o rosto do homem fora desenhado em um de seus quadros. Aquela, talvez, tivesse sido a forma que Alice encontrou de sentir-se mais próxima a elas.

Enquanto que desta vez era nítido observar o lugar de fundo daquela pintura. Distintos tons de azuis mesclavam-se sublimemente, gerando a pintura do céu escuro e esboçado com pequenos pontos brancos, indicando as estrelas, ao anoitecer. Um rosto pálido ocupara o centro da tela, e os fios de cabelos dourados e olhos verdes foram os motivos para que Killian confundisse com Jennifer Morrison. Portanto, a mulher do novo retrato usava luvas e uma roupa de couro junto a um capuz. Sem mencionar na aljava de flechas em suas costas.

— Hm, uma arqueira! — exclamou, passando a mão em seu próprio queixo. — Muito bela, minha estrelinha. Estás desenhando novos rostos agora?

Semicerrava os olhos, identificando que na pintura havia uma lua cheia e um lobo mesclado sobre o fundo escuro.

— Essa é Robin, papai. — respondeu-lhe após alguns segundos, concentrando-se aos detalhes em sua obra. — Robin, a arqueira. — concluiu.

— Oh, Alice, que bom que estás conhecendo novas pessoas e fazendo amizades. — verdadeiramente alegrou-se, uma vez que sua filha deveria tentar esquecer toda a solidão e tristeza por suas mães, e viver uma vida o mais normal possível. — Onde a conheceu?

— Nas redondezas do nosso castelo.

— E não a matou? — perguntou impressionado, não conseguindo evitar de um sorriso se formar em seu rosto. Alice, além do mais, fora a responsável pelos ataques em pessoas séculos passados, o que deu início às lendas sobre Drácula ainda viver escondido por de trás dos muros do castelo. Nunca antes havia hesitado. — O que há de diferente em Robin?

— Não sei. — suspirou, tirando a concentração da tela. — Talvez eu não estivesse muito afim de matar alguém.

Killian Jones arqueou uma de suas sobrancelhas e cruzou seus braços, encarando-a. Sua menina jamais poupou pessoas que ousassem se aproximar ou entrar naquele castelo. Protegeu seu antigo lar como não pôde proteger suas mães, visto que provavelmente Lana teria morrido por ela naquela noite confusa. E pelos últimos séculos zelou as únicas lembranças que restaram de suas mães, desenhando-as sempre para que nunca esquecesse de seus rostos.

Into The MoonlightOnde histórias criam vida. Descubra agora