Seis.

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Camila

As ruas de Nova York estão estranhamente calmas para o início da madrugada de uma sexta-feira. Juntas, eu e Lauren andamos sem pressa, e nossa conversa flui tranquilamente.

- Então, como você sabe tanto sobre arte? Quem é você de verdade, Lauren Jauregui? - Provoco, embora esteja realmente curiosa com o fato de que cada comentário que ela fez na exposição foi bastante certeiro. Relacionar partes do trabalho de um artista qualquer com os mestres conhecidos, como Van Gogh, Chopin, Dali e Munich, geralmente requer um olho bem treinado. Mas Lauren conseguiu destacar qualidades discretas e relacioná-las com os artistas menos conhecidos.

- Ninguém importante. - Espero pela sua resposta espirituosa e pretenciosa, mas, ao invés, ela sorri sem entusiasmo e encolhe os ombros. - Minha mãe achava que eu tinha que ser bastante culta. História da arte foi minha formação secundária na faculdade.

- Bastante culta, é? Você foi uma pirralha de escola particular? - Brincando, bato meu ombro no dela enquanto esperamos o sinal fechar.

Lauren joga o foco de volta em mim.

- Me fale de você. Alguma vez já pensou em ser uma artista profissional ou sempre foi seu sonho ser dona de uma cadeia de academias recheadas de testosterona de homens deslumbrantes?

- Não. Quando eu era criança, sonhava em ser bailarina - respondo orgulhosamente.

- Bailarina, é?

- Aham.

- E o que aconteceu?

- Você testemunhou naquele dia quão graciosa sou, quando caí da cadeira. Preciso explicar mais?

- Então aquilo não foi uma coisa eventual? - Lauren ri ao falar.

- Infelizmente, não.

- Quantos anos você tinha quando se deu conta de que não ia se tornar uma bailarina?

- Seis.

- E como exatamente percebeu que ser bailarina não era para você?

- Eu caí do palco quando tentei dar uma pirueta no meu primeiro recital de balé.

Lauren para, sorrindo, mas olha para mim incrédula.

- Você caiu do palco?

- Aham.

- E o que aconteceu depois?

- Eu chorei. Meu pai veio para a frente do palco e me pegou. No ano seguinte, quando ele foi me matricular, a instrutora sugeriu que eu poderia me sair melhor no karatê. - Faço beicinho.

Incapaz de se controlar, Lauren cai na gargalhada, jogando a cabeça para trás e se divertindo às minhas custas. Finjo estar chateada, mas ela sabe que não estou.

- Desculpe. Eu não queria rir, mas isso é muito engraçado.

- Você me deve uma história vergonhosa agora - falo.

- Tudo bem, mas posso precisar de um tempinho para inventar uma. Estou perto de ser perfeita, sabia?

- E extremamente convencida também.

- Isso também. - Ela sorri. - Então, ser uma magnata das academias era sua segunda escolha?

- Talvez a terceira. Posso ter querido ser uma borboleta em algum momento entre ser uma bailarina e uma magnata - Admito. - O que você queria ser quando era criança?

- Uma boxeadora profissional.

- Agora você está treinando para uma luta?

- Na verdade, não. É mais um hobby.

- Então, a Investimentos Jauregui é a sua paixão?

- Na verdade, não. Lutar sempre foi minha paixão. Mas sou boa no que faço na Investimentos Jauregui.

- E o que é que você faz? Ajuda as pessoas a venderem suas empresas?

- Às vezes. Eu administro o dinheiro das pessoas.

- Como uma corretora da bolsa?

- Mais ou menos. Eu as ajudo a entender no que investir. Às vezes, pode ser em uma empresa, outras, em um fundo. Depende do que elas querem e do quão dispostas estão a se arriscar.

- Por que as pessoas querer arriscar seu dinheiro?

- Porque geralmente quanto maior for o risco, maior a recompensa.

- Parece meio entediante - provoco.

- E é. - Lauren ri.

- Então, por que você trabalha com isso? - Lauren fica quieta por um minuto, pensando em sua resposta.

- Já nem sei mais. - Há tristeza em seu rosto, embora ela tente disfarçá-la com um sorriso forçado.

Cedo demais, chegamos ao meu prédio.

- Eu moro aqui. - Aponto para o prédio antigo localizado entre modernos arranha-céus.

Lauren se vira para mim, dando um passo mais perto. Devagar, ela pega a minha mão e a coloca entre as suas. Nem percebo que estou evitando contato visual até ela me chamar.

- Camila.

Meus olhos rapidamente encontram os dela. Estar tão perto dessa mulher me deixa nervosa, por alguma razão.

- Eu adoraria vê-la novamente. - Ela sorri. - E você nem precisa se exibir nua na próxima vez. - Um sorrisinho safado substitui o anterior. - A não ser que queira, claro.

Não consigo me controlar e sorri de volta. Mas a ideia de ter que dizer não a um convite para um encontro de verdade com Lauren faz com que meu sorriso desapareça rapidamente.

- Desculpe. Eu adoraria, mas não posso.

O sorriso dela desaparece também.

- Adoraria, mas não pode? - Lauren tenta entender minha resposta.

- Misturar negócios com vida pessoal não funcionou para mim uma vez. Já fui por esse caminho com meu ex-namorado e ainda estou lutando para separar a bagunça pessoal dos negócios. - Faço uma pausa. - Eu gosto de você, Lauren. De verdade. Mas não acho que seja uma boa ideia.

- Você não acha que seja uma boa ideia? - Lauren pergunta.

- Sim. Foi o que eu disse - confirmo minhas palavras, confusa.

Lauren abre um sorriso.

- Posso lidar com isso.

- Pode lidar com o quê?

- Você disse que não acha que seja uma boa ideia. Você não parece muito convencida sobre essa nova regra. - Ela encolhe os ombros e sorri.

Eu ri.

- Boa noite, Lauren.

Ela puxa minha mão que ainda está segurando para que eu me aproxime dela. Em seguida, se inclina e me dá um abraço inesperado. Ao se afastar, sua boca se aproxima do meu ouvido, e uma voz grave sussurra para mim, enviando ondas elétricas pela minha espinha:

- O quadro ficou lindo.

Ela afasta a cabeça e sua boca se curva em um sorriso pecaminoso.

- Vou ter doces sonhos hoje à noite. - Deixando-me sem palavras, ela se afasta e vai embora, sorrindo para mim ao olhar para trás, por cima do ombro, enquanto fico grudada no mesmo lugar em que ela me deixou.

Fighter - IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora