Vinte e cinco.

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Lauren

Uma sensação de tranquilidade toma conta de mim enquanto percorro essa cidade caótica. O trânsito contínuo se apressa nas ruas: a buzina dos táxis e a forma como dirigem entrecortando; uma parede de pessoas que se misturam ao meu redor, desesperadas para chegarem aos seus destinos. Absorvo tudo enquanto caminho vagarosamente para o hotel após a minha reunião, e me ocorre que eu era uma dessas pessoas até não muito tempo atrás: correndo nos lugares, levando a vida numa contínua pressa, mas sem nunca saber de verdade aonde estava indo. Mas algo mudou.

A porta abre para a minha suíte e olho ao redor. Realmente olho. A suíte é ornamental e grande, completamente desnecessária. Sorrio ao lembrar do comentário da Camila na primeira vez que a viu: "Por que uma pessoa precisa de três banheiros?". Seria o meu fim se eu soubesse a resposta. Tal como muitas outras coisas em minha vida, eu não parava para pensar no que estava fazendo. Ao contrário, agia como me foi ensinado, como esperavam que eu agisse. Até mesmo o quarto de hotel ostentador, porque podia pagar pelo melhor que existisse, então, por que esperaria algo menos que isso? Totalmente o meu pai, um homem com quem eu detesto comparações, mas mesmo assim, toda vez que ajo sem pensar, vejo minhas atitudes similares às dele.

Ligo para a recepção e comunico que vou fazer check-out da suíte presidencial hoje e check-in em um quarto comum. Levo cinco minutos para convencê-los de que não há nada de errado, que apenas não é mais necessário ocupá-la.

Dou alguns telefonemas de trabalho e me atualizo com o Zayn novamente sobre a Investimentos Jauregui. O escritório ficou bastante ocupado no último dia com novos clientes. Aparentemente, a festa de aniversário da minha mãe foi o motivo. Os jornais divulgaram uma foto da gente dançando que eu sequer vi ser tirada. O título da reportagem era Perdão. Uma foto tirada em um momento privado, característico do lado humano que meu pai, sem dúvida, tem muitos planos para explorar.

Guardo algumas coisas que trouxe antes de me encaminhar para a academia e olho ao redor uma última vez enquanto espero o elevador. Como eu pude ter pensado que essa vida era normal? O que eu fui lapidada a ser?

***

Minha paz recém-encontrada se dissipa rapidamente, sendo substituída por fúria e tensão no minuto em que entro na Cabello's.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto com os dentes cerrados, exigindo uma resposta e olhando-o com desconfiança.

— Isso é maneira de cumprimentar seu pai? — Trajando um terno de três peças feito sob medida, seu perfeito sorriso político posicionado no rosto desliza sobre mim como uma cobra se enroscando enquanto aguarda pacientemente o melhor lugar para enfiar seus dentes venenosos.

— O. Que. Você. Quer? — rosno. Raiva irradia de cada palavra. Não estou gritando, mas algumas cabeças se viram para olhar. Esses homens conseguem sentir o cheiro de uma briga.

Um minuto depois, Camila sai do escritório dos fundos e vem para a recepção, onde estamos. De início, alheia ao impasse, ela se aproxima sorrindo.

— Oi! Como foi sua reunião? — Ela vê o meu rosto, observa o visitante, se volta para o meu pai e sua expressão murcha. — Ah, você voltou?

— Sim. Parece que eu não consigo ficar longe — ele responde sarcasticamente.

— Meu pai esteve aqui antes? — pergunto à Camila.

— Seu pai? — Os olhos de Camila se arregalam. Ela olha para ele e depois para mim, talvez em busca de semelhanças. Não é difícil encontrar. — Ele esteve aqui mais cedo hoje. — Ela parece confusa.

Fighter - IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora