Vinte e nove.

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Camila

Décimo quarto dia pós-Lauren Jauregui e não estou melhor do que estava há duas semanas. Na verdade, acho que estou pior. Eu me pego pensando nela o tempo todo. Na primeira semana, ela foi incansável em tentar me reconquistar. Mas suas muitas ligações e entregas diárias diminuíram. E agora eu me pego pensando se perdi minha oportunidade de mudar de ideia quando fico sem saber nada dela durante um dia inteiro. Quando terminei tudo, estava com tanta raiva por ela não ter sido sincera comigo sobre seus interesses na Cabello's que não conseguia enxergar além da nuvem de fúria que me envolvia.

Mas, nessas duas longas semanas, repassei nosso tempo juntas diversas vezes na minha cabeça. Como um disco arranhado, vejo seus olhos quando ela paira sobre mim. Eu podia jurar que eles estavam repletos de emoções verdadeiras. Sentimentos verdadeiros. Algo tão profundo e intensamente genuíno que não poderia ser fingimento. Ou talvez eu esteja projetando meus próprios sentimentos no que achei ter visto nela. É possível que tudo o que ela disse seja verdade? De que, quando se deu conta do que sentia por mim, não quis interferir na minha decisão e na do Ray sobre a negociação quando chegasse a hora de decidir sobre aceitar ou não a proposta do investidor? É possível que o timing tivesse sido realmente uma coincidência e que o banco ter decidido retirar o nosso empréstimo não teve nada a ver com ela?

Mesmo que eu a perdoasse, um relacionamento que começa com mentiras está fadado ao fracasso. Meu pai me ensinou isso desde o dia em que eu nasci. Confiança era tudo para ele. Droga, ele nem mesmo acreditava em contratos. Tudo era feito na base da confiança e no aperto de mãos.

Ao menos as coisas parecem estar um pouquinho mais esperançosas no trabalho. Eu recorri da decisão do City Bank de fechar a nossa linha de crédito e fiquei chocada que eles realmente a reconsideraram. O fato de eles cederem me fez questionar se Lauren estava de fato envolvida na decisão de retirar o empréstimo. Eu simplesmente já nem sei mais no que acreditar.

De qualquer forma, isso me fez perceber que precisamos dar uma olhada em todas as nossas despesas. Nosso fluxo de caixa só fez secar, embora estejamos faturando mais agora com o aumento do número de matrículas do que nunca. Nós nunca dependemos excessivamente de banco. Está na hora de puxar as rédeas e descobrir onde podemos cortar custos.

Depois do trabalho, Shawn vem me encontrar e fazemos mais uma sessão de filmes com HaagenDazs. É a terceira vez essa semana. Ele sempre sugere esse programa, fingindo uma urgência em ver algum filme, mas sei que é a forma dele de se certificar de que estou bem. E eu realmente não quero ficar sozinha, embora minha bunda vá dobrar de tamanho se eu não conseguir encontrar uma forma de afastar essa melancolia toda que tomou conta de mim.

Ele distribui um pote inteiro de um litro de sorvete em duas taças generosamente cheias e mede os tamanhos.

— Toma, pegue este. Tem menos.

— E se eu quiser o que tem mais? — Faço beicinho, provocando.

— Eu estou comemorando, então, fico com o maior. Além do mais, te dei o maior nas últimas cinco vezes. É melhor você melhorar, do contrário, irá parecer que o seu padrasto é um medalhista de ouro olímpico no atletismo, como uma das Kardashian. — Ele ri.

Bato nele de brincadeira.

— Ei, a sua bunda é... espera, o que você está comemorando? — Tenho sido tão egoísta, consumida pela minha tristeza, que, por um momento, entro em pânico, pensando que posso ter esquecido o aniversário dele. Por sorte, é só daqui a três semanas.

— Recebi o pagamento das minhas vendas e a comissão da minha primeira exibição na galeria. — Ele puxa do bolso um envelope branco e abana o rosto com ele, exibindo-o orgulhosamente.

Fighter - IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora