Catorze.

20.6K 1.5K 171
                                    

Lauren

Paz. É isso o que sinto quando acordo no fim da tarde. Não me lembro da última vez que cochilei durante o dia, mas me faz sentir bem pra caralho, embora provavelmente tenha algo a ver com o lindo anjo que está agarrado em mim, com a cabeça tão pertinho e a bochecha pressionada acima do meu peito. Ouço o som de sua respiração tranquila. Observo a respiração cadenciada e a boca se contrair de leve de vez em quando, como se o que quer que estivesse em seus sonhos a fizesse feliz. Não consigo evitar sorrir toda vez que isso acontece. De alguma forma, ver a felicidade dela se torna o suficiente para trazer de volta a minha.

Na mesinha de cabeceira, seu celular vibra novamente. O som a faz sussurrar enquanto dorme. Alguns minutos mais tarde, volta a tocar, e, dessa vez, ela levanta a cabeça. Pego o celular dela e olho. Porra de Connor! Qualquer paz que eu estivesse curtindo é rapidamente substituída por uma onda de outras emoções: raiva, ciúmes, até mesmo um pouco de mágoa, embora ela não tenha feito nada para que eu me sinta dessa forma.

— É o seu ou o meu? — ela sussurra com a voz cheia de sono.

— O seu. — Sem intenção, a palavra sai um pouco entrecortada.

Ela levanta o braço, achando que vou lhe entregar o aparelho, mas não entrego. Ao contrário, aperto REJEITAR e o coloco de volta na mesinha de cabeceira.

Olhando para mim, suas sobrancelhas se juntam, refletindo uma confusão inicial, mas, depois, uma expressão de compreensão a substitui rapidamente.

— Connor? — ela pergunta baixinho.

Nunca fui do tipo ciumenta, mas até ouvi-la pronunciar o nome dele invoca um sentimento confuso dentro de mim. Tenho que me forçar para não tentar imaginar se ele já esteve nesta cama, deitado como eu estou neste momento.

— Qual é o lance com esse cara?

Camila ergue o olhar até o meu. Ela olha dentro dos meus olhos, possivelmente buscando uma forma de responder. Mas eu apenas a encaro, aguardando pacientemente por sua resposta.

Ela fecha os olhos brevemente e, em seguida, os abre. Ela havia mencionado que era uma longa história. Não sei se quero ouvir tudo, mas preciso saber de alguma coisa. Ver o nome de um cara aparecer repetidamente no visor do celular dela enquanto estou deitada na cama, me apaixonando por ela a cada minuto, não vai me deixar calada por muito tempo.

— Nós ficamos juntos por um tempo — ela fala sem entusiasmo.

Cerro o maxilar. Eu já sabia que tinha sido algo mais do que apenas uma noite... Ela não é esse tipo de mulher e há algum tipo de lealdade aqui, o que eu normalmente respeito, mas ter aberto os olhos recentemente me tornou mais ardilosa com relação a confundir lealdade equivocada a um homem que não a merece.

— Quando meu pai morreu, eu fiquei devastada. Connor havia se mudado para cá alguns meses antes, para treinar com um cara que Ray achou que seria uma boa ideia. Nós também o contratamos meio-expediente para ajudar na academia. Éramos amigáveis um com o outro, mas não nos conhecíamos tão bem. Mas, quando meu pai morreu, ele ficou ao meu lado. Ajudou-me a superar.

Meu abraço aperta automaticamente ao seu redor, sem eu seque pensar. Não sei ao certo se é porque ela menciona que passou por um período difícil ou se porque estou com ciúmes só de ouvir o nome daquele idiota sair dos lábios dela. As duas coisas, provavelmente.

— Ele nem sempre foi um babaca. — Seus olhos desviam dos meus enquanto pensa por um momento. Então ela encolhe os ombros e sorri quase em arrependimento. — Talvez ele fosse, e eu só não estava em posição de enxergar. — Ela para e me olha. — Ele é possessivo com relação a mim. Não entende muito bem as indiretas, embora eu continue lembrando-o educadamente de que nós terminamos. Ele também tem esse jeito de me fazer sentir culpada... lembrando-me sempre de como me ajudou quando eu estava passando por um momento difícil. — Ela perde o rumo por um momento, pensando. — Às vezes, acho que eu o deixo me forçar a fazer coisas.

Fighter - IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora