Cinco.

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Lauren

A galeria está lotada quando chegamos, mas uma mulher baixa vestida de preto e com tatuagens cobrindo toda a parte exposta dos braços nos encontra imediatamente.

— Camila! Meu Deus, está todo mundo delirando com a sua pintura! — A mulher a abraça, mas vejo seu rosto murchar com as palavras. Com a expressão tensa, Camila morde com força o lábio inferior, tentando sorrir, querendo compartilhar o ânimo da amiga, mas está claro que ela está nervosa.

Um homem com um sotaque francês bem carregado agarra o braço de Shawn, murmura algumas palavras e os dois desaparecem tão rápido quanto ele veio, com a promessa de devolvê-lo assim que possível.

— Você está bem? — Inclino-me e sussurro para Camila.

— Parece que não estou?

— Não muito. — Sorri ao mentir.

Camila ri.

— Desculpe. Não sabia quão difícil seria ter pessoas olhando. Vejo modelos sem roupa o tempo todo e isso não me incomoda nem um pouco. Vejo arte, não uma mulher nua. Porém, quando se trata de mim, fico completamente nervosa com o fato de as pessoas me verem nua.

Paro uma garçonete quando ela passa, pego duas taças e ofereço uma a Camila. Ela recusa.

— Tem certeza? Pode ajudar a acalmar os nervos.

— Tenho. — Um sorriso franco dança em seus lábios. — Dá para perceber que estou nervosa?

— Você está linda — digo, não apenas porque quero acalmá-la e fazê-la se sentir melhor. Ela é realmente linda. A iluminação cuidadosamente direcionada da galeria realça seu longo cabelo castanho ondulado, dando-lhe um brilho que reflete o castanho em seus olhos. Ela trocou as roupas de academia por um sexy vestido azul que a abraça em todos os lugares certos. Uma insinuação de decote me distrai pra caramba. Se a pintura for quase tão boa quanto a realidade, será uma obra de arte.

Alguns minutos depois, Shawn retorna segurando uma taça vazia de champanhe em cada mão.

— Está pronta para vê-la?

Observo-a respirar fundo e brincar com o cabelo nervosamente. Mas, então, algo muda. Uma determinação passa por suas feições delicadas. Se eu não a estivesse observando tão de perto, provavelmente não teria percebido. Mas percebi e isso me faz sorrir. Ela é mais forte do que parece por fora e isso a torna ainda mais atraente para mim, se é que é possível.

Juntos, nós três andamos pela galeria, parando para ver cada quadro em silêncio. Enquanto passamos pelas pinturas, minha pulsação começar a acelerar, imaginando se a próxima seria a tal.

Uma dúzia de quadros depois, estou ficando impaciente. Ansiosa, talvez. Não faço ideia. Já vi várias mulheres nuas antes, tanto ao vivo quanto pintadas. Porra, cresci cercada por arte, então, por que cada passo está fazendo com que meu coração bata mais alto no peito em antecipação?

Após uma curva e próximo a um canto, uma pequena multidão se aglomera em frente a um quadro grande, e os murmúrios de uma leve discussão estão mais altos aqui do que em qualquer outro lugar. Sei, antes de ver, que é a pintura dela. Ao nos aproximarmos, dois homens altos se encaminham para a pintura seguinte, deixando uma pequena brecha na multidão... perfeita para meu campo de visão. Paro no meio do passo. Respirar se torna mais difícil quando meus olhos caem sobre a mais bela visão que já tive.

Sentada em uma cama espaçosa com somente um lençol branco que parece ter sido gentilmente jogado para cobrir sua pele radiante, sua cabeça está levemente inclinada e os olhos castanhos cativantes olham para o artista por debaixo de cílios grossos. Ela parece um anjo. Realmente não consigo decidir se a pose é inocente ou sedutora, mas a tensão sexual que irradia das camadas de tinta é palpável. É a coisa mais excitante que já vi na vida. Doce, ainda que incrivelmente sedutora. Sensual. Linda. Cada curva de seu corpo é suave e convidativa, porém, firme e incrivelmente erótica ao mesmo tempo. O rosado dos seus mamilos entumecidos se destaca em sua alva pele luxuriosa, e uma mão descansa casualmente sobre as coxas levemente abertas, dando a ilusão de se poder ver o que está debaixo de suas pernas perfeitamente posicionadas, embora nada de fato esteja aparecendo.

Com a boca incapaz de formar palavras, não falo nada quando Camila olha para mim. Forço minha respiração a se acalmar e engulo com dificuldade, buscando controlar meus pensamentos. Ela tem um sorriso nervoso no rosto e a voz é tão baixa que mal consigo escutá-la sobre o som do meu próprio coração martelando no peito.

— O que você achou?

Lutando para olhar para a mulher que está falando comigo e não para a pintura da qual não consigo desgrudar os olhos, respondo:

— Acho que vou ficar na frente dela bloqueando a visão dos outros, porém, acho que vou ficar de frente para ela.

Camila sorri e me dá uma leve cotovelada nas costelas.

— Você é terrível.

— O quê? Sou uma grande fã de artes. Preciso estudar as pinceladas. E as curvas. Definitivamente preciso estudar as curvas — respondo.

A voz de um homem atrás de mim transforma em raiva a tensão sexual que estou sentindo, arrancando-me do lugar pacífico para o qual a pintura havia me transportado e me fazendo fechar os punhos ao lado do corpo com apenas três palavras: Eu a comeria.

Infelizmente, não sou a única pessoa a ouvir. Camila parece horrorizada, e os dois babacas têm sorte de eu tomar a decisão de afastar Camila do comentário ao invés de bater neles. Enquanto a conduzo para a pintura seguinte, flagro Shawn sussurrando algo para os homens por entre os dentes, pouco antes de ambos debandarem rapidamente com os rostos lívidos.

Quando chegamos à pintura seguinte, peço licença por um momento. Volto a encontrar Shawn e Camila no momento em que eles terminam de ver a exposição.

— Preciso encontrar algumas pessoas e cumprimentá-las. Sei que será uma tortura, mas você se importa de ficar com a Camila um pouco? — Shawn me pergunta, brincando, quando retorno. Ele se vira para ela. — E você, não deixe que isso suba à sua cabeça. Eu te deixei linda no quadro. Você na verdade é uma meretriz horrorosa.

Ele se abaixa para beijá-la carinhosamente na testa, apertando seus ombros. Eu o ouço falar baixinho para ela:

— Seu quadro é maravilhoso, assim como você. Relaxe e aproveite.

Ela revira os olhos, brincalhona.

Shawn estende a mão para mim com uma piscadinha que Camila não percebe.

— Cuide bem da minha garota.

Concordei e sorri.

— Claro.

Nós passeamos por aproximadamente uma hora, conversando sem parar. Por fim, a galeria se transforma do estágio anterior com os observadores sérios para o início de uma festa. Camila olha em volta, desconfortável.

— Quer ir embora? — pergunto.

— Você se importa? Meio que me dá nos nervos estar na mesma sala que aquela pintura. — Ela gesticula para o canto onde o quadro está pendurado. É a área mais movimentada do salão.

Ao nos dirigirmos para a porta, observo o dono da galeria cobrir a pintura de Camila, marcando como vendida. Felizmente, Camila não percebe.

Fighter - IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora