Nove.

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Camila

No momento em que entro em casa, meu celular toca pela quinta vez, só que agora não clico em REJEITAR. Sinto-me culpada, embora não tenha feito nada de errado.

— Alô — atendo.

— Finalmente! — A voz de Connor está carregada de raiva e impaciência. — Estou tentando falar com você há uma hora.

— Estava tomando banho — minto, pois é mais fácil.

— Durante uma hora?

— Sequei o cabelo depois. — Minhas palavras encontram o silêncio e decido tentar mudar o rumo que a conversa está prestes a tomar. — Como está a viagem?

— Você realmente se importa, Camila? — ele replica secamente.

— Por favor, Connor. Eu me importo. Você tem sido muito bom para mim. Sei disso. Eu só preciso de um pouco de espaço. Já te falei isso. Para dar certo sermos amigos e trabalharmos juntos, precisamos de mais espaço entre nós.

— Você não precisou de espaço quando estive contigo todas as noites enquanto chorava a perda do seu pai.

A culpa toma conta de mim. Não apenas por ter passado um tempo com a Lauren, mas por ter me apoiado tanto em Connor e, em seguida, tê-lo afastado assim que me senti forte o suficiente para me reerguer.

— Desculpe, Connor.

— Você tem outra pessoa, não é?

Respiro profundamente e me forço a me lembrar quão bom ele foi para mim quando precisei dele, me abraçando enquanto eu chorava, secando minhas lágrimas, segurando a barra na academia quando eu não conseguia raciocinar. Ele me deu o que precisei e seria errado da minha parte afastá-lo completamente.

— Não há ninguém. — Não é mentira, nada aconteceu entre mim e Lauren, ainda assim, parece que estou mentindo em dizer a ele que não há outra pessoa.

Conversamos por mais uns dez minutos. Esforço-me para manter a conversa tranquila, focando em coisas triviais... o tempo, os planos para o dia seguinte. Por fim, ele me deixa desligar, prometendo ligar assim que acordar — o conceito de me dar espaço não é registrado ou ele opta por ignorá-lo.

Deito na cama e sinto meu cérebro mentalmente exausto. Adormeço pensando em apenas uma pessoa... Lauren Jauregui.

***

Mesmo eu tendo corrido porta afora ontem à noite, literalmente correndo dos braços de Lauren, acordo ainda mais cedo, ansiosa para voltar à academia e vê-la novamente. Paro no mercado e compro algumas coisas, pois sei que sua geladeira tem apenas os restos do jantar e vinho sem abridor.

Os repórteres ainda estão acampados do lado de fora quando chego à academia uma hora antes do horário de abertura. Ignoro as perguntas e entro rapidamente, trancando a porta e puxando as persianas novamente. Acendo algumas luzes e caminho para a porta dos fundos que conduz ao apartamento.

Já no topo da escada escura, bato gentilmente na porta, dando-me conta de que eu sequer sei se ela acorda tão cedo assim. Sinto-me desapontada quando Lauren não responde. Dou meia-volta e começo a descer as escadas quando ouço a porta abrir.

— Camila? — A voz de Lauren é gutural, cheia de torpor matutino.

Viro a apenas alguns degraus de distância e levanto as sacolas para me explicar.

— Imaginei que você precisaria de comida aí dentro. Os repórteres ainda estão lá fora.

Lauren caminha em minha direção e pega as sacolas.

Fighter - IntersexualOnde histórias criam vida. Descubra agora