Camila
Tensão paira no ar quente dessa noite de fim de verão. Nós estivemos juntas todas as noites nessa última semana. Nunca questionamos se passaríamos a noite juntas, a única questão era decidir se seria no meu apartamento ou na suíte dela. No entanto, essa noite, enquanto tranco a porta da academia depois que fechamos, há um momento esquisito. É evidente que a visita do pai de Lauren ainda a afeta. Andamos um quarteirão em silêncio até que atingimos uma bifurcação imaginária: meu apartamento é para a esquerda e o hotel dela, para a direita.
— Podemos ir para o meu hotel hoje? Meu laptop está lá e preciso enviar alguns e-mails amanhã de manhã — Lauren pergunta.
— Hum... claro.
— O que foi? — Ela para e se vira para mim.
— Nada. É só que... eu não tinha certeza se iríamos ficar juntas essa noite.
— E por que não ficaríamos?
Dou de ombros. Não há uma resposta real. É mais como uma sensação.
— Eu não sei.
Os olhos de Lauren examinam os meus e ela fica calada por um instante. Ela pega meu rosto entre as mãos e foca apenas na nossa conexão. Há uma intensidade inconfundível em seus olhos, mas há algo mais. Algo que está escondido abaixo da superfície. Mágoa? Tristeza? Preocupação?
— Eu não sou como ele.
De início, aquela declaração parece tão fora de contexto que eu não tenho sequer certeza do que ela está falando. Mas, então, compreendo. Ela está preocupada que eu possa acreditar no que o pai dela falou, que ela é igual ao pai.
— Sei que você não é — sussurro, meus olhos fixos nos dela. Ela fecha os olhos e faz que sim com a cabeça. Quando os reabre, a dor e a mágoa ainda estão lá, mas uma parte da tensão parece ter se dissipado.
***
Lauren ficou quieta a noite toda e, de manhã, ela teve que sair para uma série de reuniões que havia agendado. Ela diz estar bem, mas posso ver que a visita do pai ainda a está incomodando, por isso, saio da Cabello's um pouquinho mais cedo do que o normal e, a caminho de casa, passo no La Perla para comprar algo que acho que vai animá-la. Gastar algumas centenas de dólares em lingerie sexy não é algo que eu faço normalmente, mas estou louca para ver a cara dela quando eu descrever, durante o jantar, o que estou vestindo por baixo da roupa.
Estou prestes a entrar no banho quando meu celular começa a vibrar. O nome na tela me surpreende e quase aperto REJEITAR. Mas, em um momento de fraqueza, atendo a ligação do Connor.
Arrependo-me de ter atendido quando meu dedo trêmulo desliga a ligação. Meus olhos estão ardendo e luto contra as lágrimas. Jogo o celular com força na mesa. A tela se estilhaça, mas esse é o menor dos meus problemas. Fico parada no quarto olhando pela janela durante muito tempo. O tempestuoso céu cinza se abre com o estrondo de um trovão avisando que uma forte chuva está para chegar.
Eu não deveria ter atendido o celular. Nem sei por que o fiz. Talvez porque uma parte de mim se sinta culpada por tê-lo magoado; ele nem sempre foi um babaca. Tudo o que eu conseguia fazer era respirar após a morte do meu pai, até Connor entrar na história para cuidar de mim.
Sei que o que ele me fez foi errado. Um homem bom jamais coloca as mãos em uma mulher... não importa o que aconteça. Essa foi uma das muitas lições de vida que meu pai me ensinou por crescer cercada por homens que usam as mãos para sobreviver. Não há desculpa para o que ele fez, mas, de alguma forma, uma pontada de culpa me mantém conectada a ele. Culpa por não tê-lo amado da forma como ele me amou. Por isso atendi o celular, mesmo sabendo que nada de bom viria da ligação. E eu não estava errada. A única coisa que eu podia esperar era que ele tivesse vomitado mentiras, mas há algo remoendo na boca do meu estômago que não vai embora, não importa o quanto eu tente dizer a mim mesma que nada do que ele disse é verdade.
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Fighter - Intersexual
FanfictionFilha do lendário lutador "The Saint", Camila Cabello sabe por experiência própria como lutadores podem ser. Dona de uma rede de academias de MMA, ela está acostumada com pessoas agressivas, dominantes e possessivas. É por isso que sempre manteve di...