I - Ponte de Comando

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"In my life, why do I give valuable time

To people who don't care if I live or die?"

(The Smiths, Heaven Knows I'm Miserable Now)


A luz fria que entrava pela barreira de transparaço no lado norte da sala conferia um discreto brilho cinzento ao teto, ao chão e às laterais próximas, mas não era forte o bastante para alcançar os confins do lugar. Os arredores da entrada e os corredores da ponte de comando dependiam da luminosidade das telas dos computadores para ser usados com segurança pelos funcionários que iam e vinham com notícias sobre o andamento das atividades da Base Starkiller.

Millicent costumava pensar que o trabalho noturno era menos desagradável para a vista, pois as luzes suaves do teto eram ligadas e as espessas camadas de neve no exterior ficavam invisíveis atrás do vidro; em seu lugar, surgia uma escuridão tão profunda que à primeira vista a barreira parecia uma parede como as outras. Mas não havia remédio: seu horário de trabalho era o diurno e nas últimas semanas, com todos os contratempos ligados à Resistência e seus aliados, ninguém podia esperar ter atendido um pedido de remanejamento de turno sem nenhuma justificativa além de vistas cansadas.

A verdade é que a mesa onde Millicent trabalhava era mais próxima do centro da sala do que das laterais, e sua cadeira era imediatamente ao lado de um dos corredores principais, o que facilitava suas saídas e mantinha livre parte de sua visão periférica. Assim, ela reconhecia que sua posição não era tão desconfortável quanto a de alguns de seus companheiros de equipe. Nos últimos tempos, eram pensamentos desse tipo que a vinham mantendo desperta no trabalho, mais do que as doses de medicamentos que lhe haviam sido receitadas em sua última visita à enfermaria.

A mesa em que passava o dia não era a pior; o corredor também não era; nem os ocupantes das mesas vizinhas. O que era, então, que a impedia de pensar com tranquilidade no trabalho que fazia?

Mas ela era boa em encontrar escapes para o tédio: vários meses naquela função a ensinaram a aproveitar as oportunidades. Para ela, o meio de escape mais interessante era observar coisas sem que ninguém percebesse o que estava fazendo.

E, com a agitação causada pelas notícias sobre os movimentos da base inimiga, havia muito para se observar.

O ruído deslizante da porta de metal logo atrás fez-se ouvir, e a moça não precisou olhar para saber quem entrava na sala: assim que o ruído cessou, a sombra de um manto negro e os passos largos e pesados de pés calçados com botas cobriram a distância entre o corredor e a plataforma diante do vidro numa velocidade sobre humana, e a figura alta de Kylo Ren parou diante do General Armitage Hux, falando com aspereza através da máscara e cerrando os punhos.

Os pés de Ren estavam tão inquietos que Millicent pensou que o chão os estivesse queimando; pelos movimentos súbitos que a máscara fazia em direção aos seus arredores, ele devia estar esperando ser atacado a qualquer instante. Millicent dividia sua atenção entre a tela do computador e a conversa entre os dois na plataforma, muito embora não conseguisse entender o que diziam.

Não estava surpresa em ver que o General Hux se mostrava contrariado com a conversa: a antipatia dele por Ren não era segredo para ninguém, e cada contato entre eles era uma batalha em particular. Mas ela não se incomodaria com os constantes choques entre a frieza de um e o temperamento explosivo do outro se estes não prejudicassem o ar de seu local de trabalho: a presença de Kylo era densa como a cor de seu traje e causticante como o calor de seu sabre de luz, e o humor do General ficava pior a cada aparição dele.

Millicent - Uma História de Star WarsOnde histórias criam vida. Descubra agora