I - Lista de Nomes

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Ela acordou antes de abrir os olhos, de se mover ou de afastar o lençol do rosto, mas não tinha pressa em deixar a cama. Não sabia o que era ter pressa desde a última vez que dormiu no alojamento. Ainda havia manhãs em que ela acordava com um leve sobressalto, pensando estar atrasada, mas quando notava a quietude do aposento e a extensão do leito, vinha a calma confirmação da nova realidade, e ela ficava no mesmo lugar.

Naquela manhã em particular, sentiu-se disposta o bastante para se levantar mais cedo do que de costume; empurrou os lençóis para o lado e esticou as pernas sobre a beirada da cama, os pés mal alcançando o carpete abaixo. Juntou os cabelos em uma única mecha, e a deixou cair sobre o ombro esquerdo; ajeitou a alça da camisola que havia deslizado, deixou a cama e foi descalça para a área de banho.*

Desde que mudara de dormitório, ela não vestia o uniforme imediatamente após o banho: em vez disso, mantinha-se vestida com a camisola e, quando sentia frio, procurava um robe ou mesmo o cobertor; a única coisa que fazia com antecedência era desmaranhar os cabelos, que nos últimos dias vinha pensando em cortar. Notou que sua pele ficava menos irritada ao fazer isso, seu coração ficava menos ansioso e seu humor se mantinha estável. Mesmo o café da manhã ficava com um gosto melhor.

A porta se fechou com um sibilo atrás dela quando deixou a área de banho. Ela atravessou a área da cama e parou ao lado da pequena mesa que os droides serventes instalaram perto do sofá dias antes.

Era ali que vinham tomando a primeiras refeições do ciclo. A decisão fora dele: achava que ambos ganhariam tempo se cortassem o caminho para a copa; além disso, concluiu que ela se sentiria mais confortável deste modo, pois entrar em um novo cômodo e se sentar a uma mesa grande como a da copa a havia deixado nervosa em seus primeiros dias no aposento. Ela não chegou a dizer nada a respeito - não achava que fosse preciso - mas não o questionou, pois a ordem anterior das coisas de fato a incomodava.

E ele havia notado. Como notava muitas outras coisas.

Ele estava em seu lugar de costume, uma caneca de caf à sua esquerda na mesa e o datapad na mão, erguido à altura dos olhos enquanto o droide servente enchia seu prato. Ele o baixou assim que a moça se aproximou.

- Oi - ela deu a volta na mesa e parou ao lado dele; afagou sua nuca e o beijou no alto da cabeça.

Ele deixou o caf sobre a mesa e passou o braço ao redor dela, os dedos fazendo um leve carinho em sua cintura.

- Oi.

Esse era o modo de Armitage Hux mostrar que estava atento a Millicent mesmo quando havia trabalho sobrando. É claro, se o datapad estivesse sobre a mesa, ou se ele estivesse com um livro aberto no lugar do dispositivo, não haveria muito com o que se preocupar logo nas primeiras horas do ciclo; mas o datapad segurado à altura dos olhos e o tarefa de colocar a comida no prato relegada ao droide só poderiam significar muitas preocupações e tempo reduzido.

Ela não demorou para compreender isso quando iniciou seu convívio com ele. Nessas ocasiões, o melhor era fazer o possível para manter a calma e a quietude do ambiente, ao menos até que ele decidisse falar. Pois ele preferia trabalhar em silêncio, mas havia vezes em que achava necessário compartilhar informações sobre o que fazia no momento, em geral quando a tarefa possuía ligação com algum trabalho que devesse ser feito fora das dependências da ponte.

Não parecia ser o caso agora, pois ele mal ergueu os olhos da tela, e ela notou que sua caneca ainda estava cheia de caf, mas todo o vapor havia ido embora; não era preciso tocar nela para saber o quanto a bebida havia esfriado. Millicent tentou não suspirar e começou a encher sua própria caneca. Armitage costumava adverti-la sobre consultar-se regularmente com os droides médicos e respeitar os horários das refeições, mas nos últimos dias ele vinha se esquecendo de fazer isso por si.

Millicent - Uma História de Star WarsOnde histórias criam vida. Descubra agora