IX - Claro Como as Estrelas

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"Será o trabalho da sua vida (...) martelar suas mentes maleáveis em qualquer forma que precisar. Elas serão ferramentas (...) Esse é o meu presente a você, garoto."

(Gallius Rax para Armitage Hux. Fim do Império, Capítulo 32)



Armitage Hux deixou o datapad ao lado da cama e pôs-se a refletir no que acabava de ler nos arquivos, e de extrair de sua memória.

Se o trabalho realizado com a mais recente geração de Stormtroopers representava apenas parte de seu modus operandi, o trabalho com Millicent viera para representar o restante.

O trabalho dele não era feito apenas através de palavras ou ideias. Tampouco apoiava-se unicamente em suas mãos. Não, essas coisas caminhavam juntas, uma sendo incapaz de sobreviver sem a outra.

Ele próprio era muitas coisas.

Um engenheiro, que estudava a fundo a matéria disponível a fim de saber para que servia e para onde deveria mandá-la, dispondo cada parte em seu lugar apropriado.

Um ferreiro, que não se envergonhava da força empregada para moldar a matéria, pois as mãos de um homem precisam saber trabalhar tão bem quanto sua mente, ou o mais próximo dela. Sua definição de força era um conjunto de ideias que ele gostava de reunir sob esse nome, mas todas essas ideias estavam em concordância: às vezes, havia quem resistisse por mais tempo à moldagem, e era preciso empregar a força - fosse ela o que fosse - para concluir o trabalho.

Mas ele era, em primeiro lugar, um homem de Ciência, pois poucas coisas haviam que não pudessem ser incluídas na categoria de experimento científico. Boa parte do que fazia, em especial nos estágios iniciais, eram experiências. Muitas delas se desenrolavam conforme suas predições; outras poucas apresentavam variações aqui e ali, ou imprevistos, mas não chegavam a alterar-se por inteiro. Essas últimas eram preciosas para ele. Confirmavam o que ele sabia sobre o espaço que lhe servia de campo de trabalho, e também o que sabia sobre si.

Millicent, a moça da ponte de comando, era uma dessas últimas experiências. Não, na verdade, era um tipo inédito, mesmo entre elas. Um tipo que exigia algo mais do que os esforços combinados do engenheiro, do ferreiro e do cientista.

Exigia dons que só podiam encontrados em um artista.

O tom comedido e afável da voz dela exigia ouvidos sensíveis para captá-lo e interpretá-lo com precisão. Os pensamentos e os sentimentos eram intensos, e uma base firme para sustentá-los se fazia necessária, ou as rachaduras provocadas por suas erupções arruinariam todo o resto. Os sentidos estavam sempre alertas, e os instintos a tornavam desconfiada, fugidia; uma aproximação discreta, gentil e não ruidosa era o único meio de alcançá-la.

Millicent era uma peça valiosa, é verdade, mas deixava a desejar em resistência.

Toque-a com menos que delicadeza e ela se partirá, sem meios de recuperação.

Outros haviam se saído melhor nesse ponto antes dela... e por isso mesmo haviam sido reprovados. Ver-se exposta, vulnerável em um lugar gélido e implacável como aquele planeta era o preço pago por sua sensibilidade. Era impressionante que tenha chegado tão longe, que tenha servido por tanto tempo sem se arruinar.

O orgulho de Hux pelo modo como conduziu o primeiro estágio da experiência - selecionar sua oficial, separá-la do resto, fazê-la se dar conta da separação e induzi-la à curiosidade quanto aos motivos desta - era justificado.

Millicent - Uma História de Star WarsOnde histórias criam vida. Descubra agora