Interlúdio - Páginas do Diário de Armitage Hux

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Meses passaram após o caso do Capitão K'Ora. Ele foi substituído por Sella Gwindor, uma das oficiais recém-transferidas para a Starkiller; ela havia chegado no mesmo transporte de K'Ora, mas os dois não eram conhecidos um do outro. Os talentos da Capitã Gwindor não podiam ser igualados aos de seu antecessor, mas ela contava com qualidades que faltavam a ele como discrição e honestidade, o que lhe rendeu a opinião favorável do General Hux.

Millicent, por sua vez, fez tudo o que estava ao seu alcance para recuperar seus bons resultados como oficial de comunicação. A fim de que sua saúde fosse conservada, ela não retornou aos serviços investigativos senão quando foi promovida.

Nesta época, a vigilância do Supremo Líder Snoke foi reforçada e as aparições de seu aprendiz Kylo Ren na ponte de comando se tornaram mais frequentes, pois as atividades do grupo denominado Resistência se tornaram mais audaciosas. No inóspito planeta Jakku, um indivíduo ligado aos rebeldes escondia consigo um holoarquivo que Snoke desejava encontrar antes de qualquer um: o fragmento de um mapa que deveria levar à ilha de Ahch-To, o suposto esconderijo do Jedi Luke Skywalker.

Snoke e Ren tinham motivos muito próprios para se empenhar na busca pelo último Jedi, mas Armitage Hux entendia que o tempo para eliminar a Nova República e destruir a Resistência de uma vez por todas havia chegado: encontrar o pedaço do mapa era a oportunidade perfeita para que as forças da Primeira Ordem fossem colocadas frente a frente com as dos rebeldes, uma chance que ele não pretendia desperdiçar. A presença de Kylo Ren não lhe trazia senão desagrado, mas Hux o suportaria pelo tempo necessário se este fosse o preço a pagar para alcançar seus objetivos.

Como de costume, as páginas escritas em dias diferentes estão separadas por asteriscos.


As coisas enfim têm retornado à sua ordem correta, mas o caminho para a atual situação foi mais longo do que podíamos prever ou desejar.

Millie precisou de um tempo considerável para processar o fim do caso do Capitão K'Ora. Por muitos dias ela não foi capaz de dizer ou de ouvir o nome daquele indivíduo sem que sua expressão ou seus modos se alterassem, e pouco se podia fazer para distraí-la do mal-estar. Ficou por isso acertado entre nós que evitaríamos a menção daquele nome e até mesmo do caso dentro de nosso aposento, mas não era possível adotar as mesmas medidas nas outras dependências da Base; felizmente, porém, os oficiais não costumam fazer certas perguntas ou comentários em minha presença, de modo que minha esposa podia estar certa de que, enquanto eu estivesse por perto, só ouviria falar de K'Ora em raras ocasiões.

Depois de alguns meses, ela conseguiu desenvolver uma medida de controle sobre suas reações: conforme o tempo passou, qualquer necessidade de se falar no indivíduo deixou de existir; quanto menos motivos ela tinha para se lembrar dele, menor se tornava a fonte de seu estresse. No entanto, não era raro eu voltar ao aposento e encontrá-la distraída, com uma expressão melancólica, pensativa, fosse na biblioteca, com um livro esquecido em seu colo, à mesa, com o prato ainda cheio diante de si ou deitada na cama, o olhar fixo em um ponto qualquer, esperando que o sono viesse; nessas horas, eu não fazia nenhuma pergunta a fim de não deixá-la alarmada, mas não havia dúvidas sobre a direção de seus pensamentos. No começo, em razão de seus velhos hábitos, ela tentava esconder o que sentia, mas depois desistiu de fazê-lo: sabia o quanto eu a conhecia e o quão detalhado o caso se apresentava em minha memória, de modo que eu seria capaz de compreendê-la e de conceder a ela o tempo que fosse preciso para sua recuperação.

Mas nem tudo ia mal com Millie. Pouco a pouco, seu processo de readaptação à rotina integral na ponte apresentou resultados, e o desempenho dela voltou a aumentar: retirada a fonte de sua consternação, ela redescobriu a confiança em suas próprias habilidades, aumentou sua concentração e melhorou sua comunicação com os colegas de equipe até que, por fim, superou a média e qualificou-se para uma promoção. Millicent agora seria Tenente, e meu plano era que ela trabalhasse ao lado de Dolphed Mitaka e adquirisse com ele a experiência necessária no novo serviço. Quando conversei com ele a respeito, Mitaka se mostrou entusiasmado com a ideia, pois é um dos melhores oficiais sob minhas ordens e lhe faria bem ter alguém com histórico favorável como colega, mas também notei certo alarme em sua expressão; admito que precisei me conter para não rir, e garanti ao oficial que a motivação de minha Millie para fazer o que fez foi o desrespeito por parte do homem envolvido e não um ódio particular a Tenentes.

Millicent - Uma História de Star WarsOnde histórias criam vida. Descubra agora