A Herdeira de Hécate
A handful of moments
I wished I could change
Capítulo 12 - Therapy (All Time Low)
Acho que meu segundo dia no acampamento poderia ser melhor que o primeiro. Mas não foi. Eu e os Stoll decidimos deixar a brincadeira com os filhos de Afrodite pro dia seguinte, já que mal entramos no chalé e a concha para o jantar foi chamada. Mas eu não fui jantar. Quase ninguém percebeu que eu não tinha aparecido. Nem mesmo Nico. Somente Paige e Travis vieram ver porque eu não tinha aparecido. E eu finalmente desabafei tudo o que precisava, tudo o que estava sentindo. Não seria fácil repetir tudo, mas poderia falar uma lista do que eu chorei no ombro dos dois.
Primeiro item: a merda de vida que eu levava antes de Nico aparecer na minha vida.
Eu disse para eles praticamente tudo o que eu disse a Nico, mas acrescentei também o que não tinha dito. Como a parte da dislexia e TDAH, mais as vezes em que eu fazia coisas estranhas. Eles estranharam, pois deixar o quarto literalmente de cabeça pra baixo não era normal, nem mesmo para uma semideusa. Concordaram também que poderia ter sido isso que atrasara a missão de Nico. Aí eu continuei, dizendo que isso tudo simplesmente mudou quando conheci Nico.
E aí que entra o segundo item que me perturbava: a mudança bruta que minha vida tomou.
Principalmente depois que Nico apareceu nela. É, eu tive coragem de dizer a eles que eu o conheci quando estava prestes a me jogar da Ponte do Brooklyn. Não que eles tenham gostado muito de saber disso, mas mesmo assim me deixaram continuar. Confesso que eles ficaram mais assustados do que eu esperava quando disse como Nico tinha sido fofo e carinhoso comigo desde o início. De acordo com eles, Nico não era tão sociável e saber que ele tinha esse lado carinhoso os deixaram pasmos. Mas não contei do beijo. Talvez não fosse a hora ainda.
Terceiro item: meu pai.
É, nunca imaginei isso, mas realmente chorei a morte de meu pai.
Quarto item: a droga das coisas estranhas que me aconteciam.
Contei pra eles das lentes, da explosão dos monstros. Eles ficaram ainda mais surpresos, dizendo que eu poderia ser até mais poderosa do que um dos filhos dos Três Grandes e ficaram confusos do porque Zeus não me mandou me matar ainda. Pelo contrário, agora eu era sua protegida!
Aí entra o quinto item: a profecia e o fato de eu ser protegida e poderosa.
O que isso queria dizer?! Que profecia seria essa?! Ficamos horas imaginando o que poderia ser, mas nada vinha a mente. Principalmente porque eles não tinham notícias de que nada fora roubado por ali. O que poderia ser então?! Será que tinha algo a ver com minha mãe?!
Então entramos no sexto item: minha mãe.
Quem seria ela?! Travis disse que podia ser Íris, pela mudança dos meus olhos, mas eu acabei concordando com Paige. Íris não poderia explodir monstros e nem deixar um quarto de cabeça para baixo. Okay, tudo bem, ela pode. Mas não seria uma coisa que uma filha dela poderia fazer. Além disso, uma filha de Íris não seria sombria, como a profecia deu a indicar.
E finalmente chegamos ao sétimo item: Nico.
É, de cara Travis também percebeu que eu gosto dele. Parece que ele também tinha visto minha chegada com ele. Mas foi difícil me consolarem quando eu contei para eles a nossa conversa na Casa Grande. Talvez fosse para ser assim mesmo. Talvez fosse para ele fingir ser meu amigo mesmo. Ao menos foi o que pensei, até Travis me lembrar que ele não sabia quem era para trazer até eu ter visto aquela dracaena na sorveteria.
Devo dizer também que assustei quando soube que Paige tinha a idade de Travis, vinte e dois. Talvez ser filha de Hebe tivesse boas vantagens.
Enfim.
O que eu sei foi que eu fiz Paige e Travis perderem também o jantar. Mas teve um lado bom. Eles viraram meus amigos. Amigos que eu nunca imaginei que teria.
E outra frase martelou em minha mente durante toda aquela noite.
"Nico realmente mudou a minha vida."
~*~
Acordei com um pouco de dor de cabeça. Não tinha ideia do que tinha sonhado, mas foi algo com um cão de três cabeças, fogo grego, Nico e um palhaço de patins. Okay, deleta a última parte, não é lá muito importante.
- Bom dia, flor do dia!
É, talvez tenha sido a voz gritante de Travis Stoll que tenha me acordado e me dado dor de cabeça.
- Sai daqui antes que eu arranco suas bolas com uma faca. - resmunguei, a voz rouca de sono enquanto enfiava a cara no travesseiro na esperança vã de voltar a dormir.
Como eu disse, na esperança vã.
- Ai. - Travis gemeu, provavelmente imaginando eu arrancando suas bolas com uma faca. - Garota violenta.
- Você ainda não viu nada, Stoll. - resmunguei, ainda enterrada no travesseiro, mas sabia que ele tinha ouvido.
- Cara, se você não tivesse dito que seu pai é mortal eu poderia jurar que você era filha de Ares. Ou Hades.
É hoje que eu não durmo.
Levantei somente a cabeça do travesseiro e encarei aqueles orbes azuis maravilhosos. Infelizmente não causavam o mesmo efeito que os negros de Nico. Eu podia muito bem me apaixonar por aquele filho de Hermes que era um pedaço de mau caminho.
- Não é a primeira vez que ouço isso. - respondi friamente, antes de enfiar novamente a cara no travesseiro.
- Se você não fosse ruiva, diria que é irmã do Nico. - ele disse, possivelmente sem pensar, mas as lembranças de Nico dizendo que não me queria como irmã vieram instantaneamente.
- Não diga isso... - sussurrei um pedido.
Não sabia se ele tinha ouvido ou não, mas aposto que percebeu seu erro assim que um soluço fez meu tórax levantar. Senti o colchão afundando ao meu lado e suas mãos começaram a acariciar meus cabelos.
- Ei, Precious. Me desculpe, não devia ter falado isso.
Eu até me irritaria por ele me chamar assim, se ele e Paige não tivessem dito que era porque eu era preciosa demais para ter tantas preocupações. É, eu achei fofo. Me rendi finalmente e me levantei, só para topar com o chalé vazio.
- Cadê seus irmãos? - eu perguntei, estranhando completamente.
Travis riu. - Cris, minha fofa, você está quase meia hora atrasada para o café da manhã.
As palavras "atrasada" e "café" surtiram o efeito que ele esperava. Dei um pulo da cama, agarrando a primeira muda de roupas minhas que achei e corri para o banheiro.
Mas não sem antes ouvir ele resmungando algo como "o que comida não faz com as pessoas."
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A Herdeira de Hécate
Ficção Adolescente"O destino é algo incerto. É algo maior que nos controla - a tudo e a todos. O destino nos leva a fazer escolhas. Escolhas difíceis, muitas vezes, cuja tensão nos pressiona a cada segundo e cujas as consequências podem nos assombrar pelo resto da vi...