Capítulo 7

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Renato saiu da empresa no fim da tarde e foi direto para casa. As palavras de Gabriela não lhe saíam do pensamento. Ele sempre se julgara um bom pai, cumpridor dos seus deveres.

Afinal, era à mãe que competia educar os filhos. A parte dele era a de sustentar a família, e isso ele sempre fizera muito bem, proporcionando conforto e bem-estar aos seus.

Se seus filhos não estavam sendo educados como deveriam, a responsabilidade era de Gioconda. Ela não estava fazendo bem sua parte. Se fosse uma mulher como Gabriela, tudo estaria em ordem.

Suspirou resignado. Às vezes se perguntava por que havia se casado com ela. Era bonita, exuberante, alegre. Isso o atraí. Mas mudará depois do casamento. Transformara-se em uma mulher lamentosa, as coisas mais simples com ela se complicaram. Era muito sensível. A menor contrariedade era motivo para deixá-la abalada.

A convivência que de início fora agradável tornara-se aborrecida e cansativa. Apesar disso, as palavras de Gabriela haviam-no impressionado e ele resolveu ter uma conversa com Gioconda e descobrir como ela via a questão.

Ao entrar, perguntou por ela e soube que estava deitada. Isso não era novidade. Sempre que o filho criava algum problema, ela ficava deprimida e ia para a cama.

Resignado, Renato subiu até o quarto, entreabriu a porta e aproximou-se da cama.

— Gioconda! Levante-se, quero conversar com você. Ela se remexeu, abriu os olhos e respondeu em voz lamentosa: — O que você quer? Estou com uma tremenda dor de cabeça. - Faça um esforço. O assunto é importante. Ela se sentou na cama, dizendo: — Aconteceu mais alguma coisa? Uma desgraça nunca vem só. O que foi? Você nunca vem tão cedo para casa!

- Acalme-se. Não aconteceu nada. Está tudo bem. — Nesse caso, por que tenho que levantar? — Por que não gosto de conversar com uma pessoa que está derrotada antes de tentar resolver o assunto.

Ela olhou nervosa para ele e retrucou: — O que você acha que estou sentindo ao ver meu filho novamente suspenso na escola? O que será que eu fiz para passar por isso? Onde foi que eu errei?

Renato respirou fundo antes de responder. A atitude dela o irritava. Sentia vontade de gritar.

Controlou-se. Foi com voz baixa que tornou: — Onde você errou é o que estou querendo descobrir. - Você também me acusa? Já não basta minha própria condenação? — Onde está Ricardinho? — No quarto. O que vai fazer? Já lhe dei corretivo. Não precisa dizer nada. O que tinha que ser feito, eu já fiz.

— Posso saber o que você fez? Já foi à escola saber como as coisas aconteceram?

- Como assim? Eu já sei. A diretora me telefonou e contou tudo. — O que foi que ela contou? - Não adianta repetir. Não leva a nada ficar repisando este assunto. É melhor esquecer. Já disse a ele como essa sua maneira de agir está acabando comigo. Ele sabe que é o responsável pelo meu mal-estar.

Renato fitou-a surpreendido. Era assim que ela agia? Fazendo chantagem emocional? Olhou sério para ela e pediu:

— Quero saber o que a diretora contou que ele fez. — Bem... ela disse que ele desacatou a professora de matemática. Foi malcriado com ela e não quis deixar a sala de aula quando ela o mandou sair.

— E ele, o que disse? - Como, o que ele disse? — Ele contou por que fez isso? — Ele quis se justificar. Mas nem ouvi. Onde já se viu? Ele tem que obedecer aos professores. Não pode ser malcriado. Afinal, o que vão dizer de mim? Que eu não soube ensiná-lo a respeitar os mais velhos?

— Está preocupada com o que vão dizer de você? Pensei que estivesse interessada em saber o que realmente aconteceu lá.

— O que aconteceu eu já sei, infelizmente. A diretora foi categórica. Ou ele pede desculpas à professora ou ela dobra a suspensão. Pelo jeito, ela quer mesmo é expulsá-lo. Acho até que é perseguição.

Ninguém é de Ninguém - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora