Capítulo 20

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Na manhã seguinte, Gabriela levantou-se cedo e, depois de organizar o trabalho da casa com Nicete, foi para o escritório.

Quando chegou, havia flores em sua mesa e também um cartão de Marisa dando-lhe as boas-vindas em nome dos colegas. Ela abraçou a amiga, agradecida.

Renato ainda não havia chegado, e ela aproveitou o tempo para arrumar suas coisas, retomando os assuntos em andamento.

Passava das dez quando ele chegou. Gabriela notou que ele emagrecera e havia tristeza em seus olhos.

Ele parou na sala dela, dando-lhe as boas-vindas. E finalizou: — Tenho alguns contratos para você redigir. Vou preparar os dados e depois a chamarei.

Uma hora depois, ele a chamou e entregou-lhe alguns papéis, explicando alguns pontos que tinham prioridade. Por fim perguntou:

— Como vão as coisas em casa? — Roberto está bem. — Bom. Não se esqueça de que amanhã é dia de tratamento no centro. Você vai?

— Sim. Está me fazendo bem. Tenho me sentido menos ansiosa, mais calma e com mais coragem.

— Reconheço que tem me ajudado. As coisas não estão nada fáceis em casa. Ricardinho é mais amadurecido, se controla e procura me ajudar. Mas Célia tem andado chorosa, triste e sem vontade de estudar.

— Ela era mais apegada à mãe? — Era mais passiva. Aceitava as ordens de Gioconda sem questionar, o que não acontecia com Ricardinho.

— Deve estar se sentindo insegura. — Eu conversei com o Dr. Aurélio, que me indicou uma terapeuta para ajudá-la. Amanhã será a primeira sessão. Ontem o advogado informou-me que o delegado encerrou o inquérito e indiciou Gioconda. Ela vai ser mandada para o presídio. Ele não conseguiu que ela esperasse o julgamento em liberdade. Apesar de ser primária, continua descontrolada e rancorosa. O Dr. Aurélio solicitou que ela fosse transferida para um sanatório judiciário e está aguardando as determinações do juiz.

— Ela não está arrependida? — Só lamenta haver atingido Roberto em seu lugar. É somente isso que ela fala.

Gabriela ficou pensativa alguns instantes, depois disse: — Roberto continua me pedindo para deixar o emprego. Eu recusei. Preciso trabalhar, gosto daqui. Depois, não fizemos nada de mau. Mas agora, depois do que me disse, reconheço que talvez seja melhor eu ir embora. Assim, ela ficará mais calma.

— Não é justo. Você é uma ótima funcionária. Gioconda é neurótica e você não pode se prejudicar, entrar no jogo dela.

— É que estou me sentindo constrangida. Ela cismou comigo e não terá paz enquanto eu estiver aqui. É melhor eu começar a procurar outro emprego. Se me ajudar, ficará mais fácil.

Renato levantou-se nervoso.

— Não faça isso. Por que a maldade tem que triunfar? Somos pessoas honestas, não temos do que nos envergonhar. Gioconda não está em seu juízo normal.

— É capaz que ela não fique presa muito tempo. Roberto contou-me que se recusou a formalizar uma queixa contra ela. Disse a verdade ao delegado. Ela estava fora de si. Se eu for embora, ela vai ficar calma, e quando sair vocês poderão viver em paz.

— Não, Gabriela. Minha decisão está tomada. Assim que ela melhorar, pretendo formalizar a separação. Nossa vida em comum tornou-se impossível. Não tenho condições de continuar vivendo ao lado dela.

— E as crianças? — Gostaria que ficassem comigo. Mas acatarei o que o juiz decidir. Se ele determinar que fiquem com ela, estarei vigilante para que não os influencie a seu modo. Ricardinho não me preocupa, é maduro, sabe proteger-se muito bem. Mas, como eu já disse, Célia é passiva, insegura, influenciável. A presença da mãe tem-lhe sido nociva, infelizmente.

Ninguém é de Ninguém - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora