O despertador tocou e Gabriela acordou, mas não sentiu vontade de se levantar. Apesar de ter dormido a noite toda, ainda sentia sono. Seus olhos se fechavam e ela precisou fazer muito esforço para levantar. Sentia-se cansada e seu corpo doía.
Não sabia o que estava acontecendo. Fazia uma semana que havia tomado a decisão de separar-se de Roberto, porém não tomara nenhuma iniciativa. Sempre que pensava nisso, era tomada por um desânimo irresistível e acabava deixando para depois.
Durante o dia no trabalho, sentia-se atordoada, a cabeça pesada, confusa, precisava ler várias vezes os contratos para entender o que estava escrito. Não se sentia nada bem.
Renato percebeu e perguntou: — O que você tem, está doente? - Não. Estou cansada. Deve ser conseqüência de tudo que passamos. Agora é que está se refletindo.
- Você está abatida. É melhor procurar um médico. — Não é preciso. Logo vai passar. - Estive no centro ontem, e Hamílton perguntou por você. Disse que não tem ido ao tratamento.
— Não sei se isso adianta. Tenho ido e não melhorei. Decidi parar por algum tempo. À noite, quando chego em casa, ainda tenho que cuidar da família. É muito trabalho e não tenho vontade de sair.
Renato não respondeu. Ele se sentia muito bem fazendo aquele tratamento. Comprara alguns livros e estava estudando os fenômenos espirituais com interesse. Já que ficava em casa cuidando dos filhos, aproveitava para ler, e a cada dia se sentia mais motivado.
Até as crianças haviam melhorado, estavam mais calmas. Ele tinha conversado com os filhos sem omitir nada do que acontecera e pedira que orassem pela mãe, para que ela entendesse a verdade. Célia, que era mais agarrada a Gioconda, agora o procurava constantemente, mostrando-se carinhosa e atenciosa, ouvindo com interesse o que ele dizia.
Apenas Gioconda continuava irredutível, ora com raiva e revolta, ora com depressão e tristeza. Mas em nenhum momento arrependida do que fizera. Aurélio continuava atendendo seu caso, porém com pouco resultado prático.
Renato conversava muito com Hamílton, que o aconselhara a ter paciência e a continuar orando em favor dela. Ele fazia isso de coração. Entendera que Gioconda estava atravessando um processo difícil, do qual só sairia quando conseguisse compreender a verdade.
Gabriela esforçava-se para fazer seu trabalho. As horas demoravam a passar e ela olhava constantemente para o relógio, ansiosa por ir para casa. Uma vez lá, deitava-se no sofá sem coragem para fazer nada.
Roberto preocupava-se com o estado dela, aconselhando-a a pedir uma licença e descansar.
Naquela tarde, ao chegar em casa vendo-a estendida no sofá, aproximou- se dizendo preocupado:
— Você não está bem. Acho que deve procurar um médico. — Não é nada, só cansaço. Ele alisou o rosto dela com carinho, dizendo triste:
— Não gosto de vê-la assim. Você sempre foi disposta, ativa... Alguma coisa está errada.
— Não há nada. Ele insistiu e no dia seguinte não a deixou ir trabalhar, para levála ao médico. Depois do exame, o médico concluiu que ela estava estressada e anêmica, aconselhando-a a tirar férias.
— Não posso. Já perdi muitos dias este ano — disse ela. Porém a cada dia Gabriela sentia-se mais fraca e indisposta. Certa noite Roberto não a deixou ir dormir no quarto de Maria do Carmo.
— Você vai dormir em nossa cama. Lá terá maior conforto e eu estarei a seu lado todo o tempo.
Ela estava cansada demais para discutir. Deitou-se na cama do casal. Quando Roberto se deitou ao lado dela e a abraçou, ela não o repeliu. Sentia- se tão fraca e sozinha que achou confortante sua proteção.
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Ninguém é de Ninguém - Zibia Gasparetto
SpiritualHá quem pense que sentir ciúmes é provar que se ama ardentemente, mas até descobrir que ele transforma a vida amorosa em uma dolorosa tragédia, culminando em amarga separação. Se fizermos as contas, percebemos que sofremos mais com as pessoas que am...