Capítulo 11

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Na tarde seguinte, Gioconda arrumou-se e foi ao escritório de Renato. Sem se preocupar com o ar de admiração dos empregados, dirigiu-se ao andar da diretoria. Lembrava-se vagamente onde ficava a sala de Renato. Aproximou-se e entrou.

Gabriela estava ao lado de Renato, esperando que ele assinasse alguns papéis. Assim que Gioconda entrou, eles a olharam admirados. Renato levantou-se assustado.

— Você aqui? Aconteceu alguma coisa? — Não. Por que se assustaram com minha presença? Será que não sou bem-vinda aqui?

Gabriela fez menção de retirar-se. Renato deteve-a, dizendo: - Um momento, Gabriela. Esta é Gioconda, minha esposa. —Voltando-se para ela, continuou:

— Claro que é bem-vinda. Fiquei admirado porque você nunca aparece por aqui. Depois, as pessoas costumam bater antes de entrar. Esta é Gabriela, minha assessora.

Gioconda mediu-a de alto a baixo com curiosidade. Claro que a cartomante dissera a verdade.

Tratava-se de uma mulher muito bonita, de uma beleza picante, como os homens gostam.

- Vejo que está bem assessorado — disse ela com um sorriso, mas em tom que não ocultava uma ponta de ironia.

— Gabriela tem sido muito competente — disse Renato, esforçando-se para conter a irritação.

- Prazer em conhecê-La, senhora — disse Gabriela sustentando o olhar dela com naturalidade. — Com licença. Ao sair, Gabriela ainda a ouviu dizer: — O ambiente desta sala é aconchegante, não sabia que era tão agradável, eu deveria ter vindo antes.

— Não veio porque não quis. Por que está aqui? — Curiosidade. Afinal, você passa mais tempo aqui do que comigo em casa.

— Preciso trabalhar. Se quer dar uma volta pela empresa para matar sua curiosidade, pedirei a Gabriela que a acompanhe.

— Pelo visto você pede tudo a ela... — Não gosto do seu tom. O que quer insinuar? — Nada. É que ela me parece muito eficiente mesmo. Eu vou aceitar o seu oferecimento. Desejo conhecer cada dependência desta empresa.

Renato apertou um botão, Gabriela atendeu: — Sim, Dr. Renato. — Gioconda deseja visitar nossa organização. Gostaria que a acompanhasse.

— Sim, senhor. Gabriela abriu a porta, convidando-a a acompanhá-la. Enquanto percorriam as dependências da empresa, Gabriela ia explicando o que era feito em cada seção, porém Gioconda não estava nem um pouco interessada em suas palavras, apenas observava atentamente a elegância de seu andar, a classe com que ia descrevendo tudo, o leve perfume que vinha dela, seus gestos delicados.

Assustada, reconheceu que aquela mulher era muito atraente. Por isso seu marido andava tão distante nos últimos tempos. Talvez estivessem tendo um caso. Afinal, as secretárias querem subir na vida à custa do dinheiro do patrão.

Tratou de dissimular, sorriu e perguntou com naturalidade: — Faz tempo que trabalha aqui? — Cinco anos. — Você é casada? Tem filhos? — Sou. Tenho dois filhos. — Suponho que gosta do seu emprego, uma vez que está aqui há tanto tempo.

- Gosto. É bom trabalhar aqui. - Imagino! Renato sempre foi um bom patrão. As pessoas abusam dele o quanto podem.

Gabriela não respondeu. Percebia que Gioconda estava com ciúme. Roberto costumava usar o mesmo tom quando queria especular sua vida. Aquela mulher era pior do que havia imaginado.

Pelo que Renato deixava transparecer de vez em quando, imaginava que ela fosse difícil, mas ela ia além, conseguia tornar-se muito antipática. Esfor- çou-se para não demonstrar desagrado. Era a esposa do patrão e precisava tratá-la com consideração. Não tinha nada com as particularidades dela.

Ninguém é de Ninguém - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora