Capítulo 16

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Gabriela acordou assustada e olhou para o relógio. Eram seis horas e o dia já havia amanhecido. Levantou-se rápida. Dormira mais de oito horas. Vencida pelo cansaço, deitara vestida pretendendo descansar um pouco.

Lavou-se depressa, arrumou-se e quando se preparava para sair em busca de notícias uma enfermeira bateu levemente e entrou.

— Aconteceu alguma coisa? — indagou preocupada. — O médico deseja vê-la na sala de consultas. Sabe onde é? - Sim. Com o coração descompassado, Gabriela entrou na sala do médico. — Como está meu marido, doutor? Já acordou? — Infelizmente, D. Gabriela, o estado de seu marido agravou-se esta madrugada. Está em coma.

— Por que não me avisaram? Eu estava cansada, peguei no sono. Meu Deus! Eu não podia ter dormido.

— A senhora estava exausta e foi melhor ter descansado. Vou permitir que visite seu marido.

— Ele vai morrer, doutor? — Seu estado é grave, além disso há uma infecção generalizada que não conseguimos debelar.

A senhora precisa ser forte. Gabriela sentiu as pernas bambearem e o médico amparou-a, obrigando-a sentar-se.

— Se continuar assim, não permitirei que vá vê-lo. — Por favor, doutor. Foi o choque, mas prometo me controlar. Desejo vê-lo. — Está bem. Se desmaiar lá dentro, pode atrapalhar o atendimento ao seu marido.

— Eu quero vê-lo. O médico conversou com ela mais alguns minutos, deu-lhe um calmante e quando a viu mais controlada levantou-se dizendo:

— Venha comigo. Com o coração aos saltos, Gabriela entrou na UTI esforçando-se para controlar a emoção.

Vendo o marido inconsciente, ligado aos aparelhos de controle, respirando de maneira irregular, Gabriela sentiu que as lágrimas desciam pelas suas faces.

Aproximou-se do leito, segurou a mão do marido e inclinou-se, dizendo ao seu ouvido:

— Roberto, neste momento difícil de nossas vidas, eu juro por Deus que sempre lhe fui fiel. Nunca o traí. Não nos deixe agora. Reaja.

Ele apertou a mão dela com força e Gabriela olhou para o médico dizendo admirada:

— Ele ouviu minhas palavras, apertou minha mão. O médico aproximou-se de Roberto, abriu-lhe as pálpebras, os lábios, auscultou lhe o coração, depois disse sério:

— É impossível, senhora. Ele está inconsciente. — Mas ele apertou minha mão. — Deve ter sido algum espasmo. Ele não tem condições físicas de responder a nada.

— Posso ficar aqui com ele? — Melhor não. A enfermeira ficará o tempo todo e nos avisará no caso de alguma mudança.

— Mas eu gostaria de ficar... - Não é bom para ele. Precisa de sossego. Depois, no caso de precisar de um atendimento urgente, sua presença poderá prejudicar. O paciente está em primeiro lugar. Ele precisa de toda a atenção.

Gabriela deixou a UTI abatida. Uma atendente aproximou-se: — Deixei a bandeja do café em seu quarto. A senhora precisa se alimentar. Gabriela foi para o quarto. Sentia um vazio no estômago e muita inquietação, O que seria de sua vida se Roberto morresse? A esse pen- samento sentiu tontura e resolveu reagir. Tinha de ser forte. Seus filhos precisavam dela.

Serviu-se de café com leite, comeu um pãozinho. O que fazer enquanto esperava?

Telefonou para casa e conversou com Nicete sobre as crianças, in- formando-a sobre o estado de Roberto.

- Vou levar os dois para a casa da Alcina e logo estarei aí. — É melhor ficar com eles em casa. — A senhora não pode ficar sozinha agora. Fiquei tranquila, estarão bem lá. Não vou aguentar ficar aqui quando a senhora está passando por tudo isso.

Ninguém é de Ninguém - Zibia GasparettoOnde histórias criam vida. Descubra agora