Decepção

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"Se você ama alguma coisa ou alguém, deixe que parta. Se voltar é porque é seu, se não, é porque jamais seria."
- William Shakespeare.

- Bom Dia! - Diz, assim que abro os olhos.O vejo apoiado em seus braços, me observando.
- Bom dia! - digo sorrindo - Que horas são?
- Estamos quase atrasados! - diz sem mover um músculo se quer, com aquele lindo sorriso nos lábios.
- Porque não me acordou? - pergunto, já em pé.
- Você tava tão linda... - me puxa pela mão, me segurando.
- Nós vamos nos atrasar, amor! - digo rindo, tentando não seder aos seus encantos.
- Eu poderia passar o resto da minha vida aqui, com você só pra mim - fala me encarando.
Beijo sua boca.
- Eu também, amor, mas precisamos ir! - resmungo.
- Repete! - diz, agora me segurando pela cintura.
- O que?
- "Amor" - sorri.
- Amor, MEU amor - digo.
Ele segura minhas bochechas.
Rio.
- Você é a coisa mais linda do universo! - fala com os olhos brilhando.
- Eu preciso me arrumar, para d ele distrair - corro para o banheiro, fugindo dos seus braços.
Meia hora depois eu já estava pronta.
- Alguém diz pra ela que eu já tô criando raízes de tanto esperar? - Ele diz apontando na minha direção, assim que saio do banheiro.
- É culpa sua! - Rio, tentando me defender - Você não me acordou!
- É verdade, ela tem razão...Só que ela não sabe como é linda quando está dormindo - diz olhando para o celular, provavelmente fazendo storys.
- Rápido, pega suas coisas - digo, já pondo os tênis.
Ele bloqueia o celular, pega suas coisas e vamos para o aeroporto.

(...)

- Não quer ir lá pra casa? - pergunta, me abraçando em frente ao aeroporto. Acabamos de desembarcar em SP.
- É tentador, mas preciso ir pra casa! - digo - Passa mais tarde lá! - lhe dou um abraço apertado.
- Passo sim, eu não aguentaria tanto tempo longe - diz me beijando.
O que me faz lembrar da minha volta pra L.A, o coração aperta.
- Até mais então! - digo, já abrindo a porta do uber.
- Tá tudo bem? - questiona, ao ver meu sorriso sumir.
- Vou estar quando te ver mais tarde - digo, entrando no carro e fechando a porta.
- Eu te amo! - entendo suas palavras através do vidro escuro, mesmo não as escutando.
- Eu também amo você! - digo em voz alta, mesmo não tendo certeza se ele escutaria.

(...)

- Mãe? - chamo, fechando a porta atrás de mim.
Ela está no sofá, com Sofi ao seu lado.
-Chegou cedo! Achei que viria mais tarde - diz virando o pescoço para me olhar - Como foi o pedido de namoro? Vi algumas coisas que Neymar postou.
- Foi tudo maravilhoso... Mas pensando bem agora, como ele soube a largura do meu dedo? - questiono.
Sofi e mamãe riem.
- O que foi? Foi você?
Ela concorda.
- Ele me ligou pedindo - diz me chamando para perto - É prata mesmo! - diz analisando a aliança.
- Tá bom especialista, achei que fosse latão! - Rio, e ela me da um tapa na mão.
- Deixa eu ver, Sam! - Sofi pede.
Mostro o anel a ela.
- Como o papai tá?
- Está bem! Doutor Mandren se desculpou por não ter vindo ontem, disse que teve uma emergência no hospital, e que hoje ele vem sem falta. - explica mamãe.
- Okay, vou subir pra guardar essas coisas - aponto para a mochila.
Subo até meu quarto e separo as roupas sujas das limpas, pego a câmera que Neymar filmou o pedido de namoro e já passo o vídeo para o computador.

"Lelê Pons marcou você e outras 4 pessoas em uma publicação"

Abri o Instagram e tinha uma foto com nós 6 na pizzaria.

"Noite incrível com pessoas incríveis ( 4 latinos e meio + uma americana e meia)"

Referindo-se à Rudy que é metade brasileiro e metade estadunidense e a nos 4, que somos realmente latinos.
Sorrio.
Olhei as coisas em que estavam me marcando e tudo se tratava de Neymar.
Que óbvio.
Resolvi tomar um banho depois do almoço e logo após fui editar o vídeo do namoro, lá em baixo, confortavelmente no sofá.
- Não vai publicar o vídeo de você cantando? - Sofi pergunta, dando um pulo, sentando ao meu lado.
- Como sabe do vídeo? - a olho.
Ela sorri.
- Talvez eu tenha usado seu note ontem a noite...
- E o seu?
- Ta estragado!
- E o computador?
- Ah é... esqueci! - diz rindo.
Reviro os olhos, e no mesmo instante a campainha toca.
- Deixa que eu atendo, deve ser o Neymar - digo, largando o notebook no sofá e correndo até a porta.
- Ah...Oi - digo surpresa, ao ver doutor Mandren na porta.
Ele sorri.
- Oi Samantha - Ele diz,me cumprimentando com um aperto de mão.
- Entra! - digo, e ele passa por mim.
- Tudo bem? - pergunta.
- Meu pai está, aparentemente. - digo rápido.
Ele ri.
Fico sem entender.
- O que foi? - questiono.
- Perguntei se você está bem. - diz, explicando-se.
- Ah, desculpa, estou bem sim - digo fechando a porta - E o senhor?
- Por favor, não me chame de senhor, eu realmente me sinto velho - ri - Pode me chamar de Henrique.
- Oi Henrique! - Sofi aparece de supetão. A um segundo atrás estava no sofá.
Ele sorri para ela, se abaixando para ficar o mais próximo possível da peste.
- Oii, posso saber qual o nome da princesa desse castelo? - ele questiona em um tom sério, mas ao mesmo tempo completamente brincalhão.
- Sofia! - ela diz.
- Muito prazer, princesa Sofia! - Ele diz beijando sua mão, em forma de comprimento.
A campainha toca novamente.
Abro a porta, e lá está ele, sorridente.
Sofia corre para abraça-lo.
- Oi Sofi!
- Oi Neymar!!!
- Neymar, esse aqui é o doutor Mandren - Henrique me olha reprovando - Ou melhor, Henrique.- Rio - E Henrique, esse aqui é o Neymar - os dois se cumprimentam.
- Prazer! - Henrique diz simpático, com o mesmo sorriso convidativo nos lábios.
- Prazer, sou o namorado da Samantha! - Neymar esboça um sorriso cínico para ele, dando ênfase na palavra "namorado".
Henrique desfaz o sorriso, parecendo desconfortável.
- Princesa Sofia, será que a sua alteza poderia me levar até o rei deste Castelo? - Henrique olha para Sofi, que parece adorar o jeito como ele a trata.
- Claro que sim, meu senhor! - ela pega ele pela mão e o guia até o quarto de papai escada a cima.
Me pronuncio depois que os dois somem de vista.
- O que foi isso? - pergunto agora de frente para Neymar.
- Você viu como ele olhou pra você? - diz bravo - Parecia que ia te comer com os olhos.
- Faltou dizer que sou tua propriedade! - reviro os olhos indignada.
- Era o que eu queria ter dito! Quem sabe assim ele pare de te olhar como um pedaço de carne!
- Ele não me olhou assim! - digo.
- Eu sou homem, sei exatamente como ele te olhou, Samantha!
- Tá bom então! - me sento no sofá, pegando o notebook.
Ele senta ao meu lado.
- Me desculpa, ok? Eu só não suporto ver alguém olhando pra você assim...- diz, beijando meu pescoço.
Me esquivo, sentindo cócega no pescoço.
- Eu sinto cócegas no pescoço...
- Ótimo! - diz dando outro beijo.
- Temos quartos lá em cima! - mamãe aparece com um copo de suco na mão.
- Mããeee!!! - digo revirando os olhos.
Ela e Neymar riem.
- Oi, Neymar! - ela diz,o cumprimentando com um abraço.
- Tudo bem, Cinthia? - pergunta ele.
- Tudo certo! - diz mamãe.
- Henrique já está lá em cima! - aviso.
- Quem? - ela questiona sem entender.
- Doutor Mandren.
-Vos subir então! - diz ela, já da escada.
Neymar se volta a mim.
- Acho que esse é o melhor vídeo do teu canal - diz olhando pra tela do notebook, se gabando.
- Concordo com você!
Celular de Neymar toca.
Ele olha na tela e ignora.
- Trote? - pergunto.
- É! - revira os olhos, ficando um pouco tenso.
Sofi desse as escadas saltitando.
- Papai está ótimo! Henrique disse! - Sofi diz sorrindo.
- Não acha melhor contratar outro médico? - Neymar opina.
Reviro os olhos.
- Ele está muito bem, Cinthia! - Doutor Mandren diz descendo a escada ao lado de mamãe - Só precisa não carregar peso! Qualquer coisa me liguem!
- Obrigada, doutor! - mamãe agradece.
- Ao dispor - diz - Boa tarde a todos - diz me olhando com o mesmo sorriso.
Mamãe abre a porta para ele que some assim que ela à fecha.

(...)

- Terminei! Já tá no canal o vídeo! - digo erguendo as mãos pra cima em vitória.
- Até que enfim, minha bunda já tá quadrada de ficar sentado aqui - Neymar diz reclamando ao meu lado, enquanto assistia tv.
- Por uma boa causa e nem foi tanto tempo assim - digo.
Ele se senta de frente pra mim, seu olhar fica sério.
- O que foi? - questiono.
- Eu ouvi seu papo com a Lele ontem, sobre o Ricardo...Então agora que ele já está bom, você vai mesmo querer voltar pra Los Angeles?
- Eu prometi pra Ayla que voltaria, além disso, o grupo está lá, eu me sinto em casa com eles...
- E nós? - questiona.
- Nós continuaremos juntos, Neymar, isso não muda nada!
- Claro que muda, amor. Eu passo a maior parte do meu tempo em Paris, e se você for pra Los Angeles, vai ser complicado. Eu preciso de você comigo. Vem morar comigo em Paris?
Rio, já ficando nervosa.
- Eu não posso, Neymar! Da mesma forma que você está em Paris por causa do seu trabalho, eu quero estar em Los Angeles por causa do meu!
- Eu não vou suportar ficar longe de você sabendo que até mesmo desconhecidos podem estar mais perto de você do que eu! - Seu tom de voz se altera.
- Se você acha que isso não vai funcionar, porque me pediu em namoro?
- Não pensei que você iria querer voltar pra L.A, droga! - diz irritado.
- Sai do time, para de jogar futebol! - digo.
Ele ri.
- Viu? Foi exatamente isso que você me propôs! - digo irritada.
Ele para pra pensar.
- É melhor eu ir pra casa! - diz pegando o celular e a chave do carro.
Fico em silêncio, apenas assistindo a cena dele saindo pela porta.
Corri para o meu quarto e tranquei a porta, desmoronando em lágrimas.
Segundos depois papai bateu na porta perguntando se estava tudo bem, apenas falei que sim e que queria ficar sozinha. Falei o mesmo para mamãe e Sofi que vieram até o quarto horas depois.

(...)

O vento que vinha da janela, balançava as cortinas fazendo um leve barulho nos sininhos penturados no teto. Um leve barulho que foi o suficiente para me acordar.
Minha cabeça parecia pesar mais que meu próprio corpo. Levantando da cama, fui até o banheiro, tomei um banho e peguei meu celular.
Não havia nenhuma mensagem ou ligação de Neymar, o que me fez ligar imediatamente para ele.
Ninguém atendia!
O que eu esperava? Eram 7 da manhã.
Mas como sou insistente, tentei outra vez.
Alguns segundos depois, seu celular foi atendido.
Sem esperar ele responder, eu apenas soltei as palavras que estavam dispostas a saírem, não importando o preço.
- Oi, eu sei que é cedo, mas eu fiquei a noite inteira pensando, e decidi que aceito ir pra Paris com você! - digo tudo rapidamente, me livrando daquilo que estava preso dentro de mim.
- Oi, o Neymar está dormindo, a noite foi cansativa para nós - uma voz feminina diz, seguido de uma risadinha - Se você quiser, posso acorda-lo... Amor tem gente no telefone - ela diz, mais distante do telefone agora,presumo já que sua voz diminuiu o volume - Desculpa, ele não acorda! - diz rindo.
Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa, desligo o celular, e as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Como se eu fosse uma fonte infinita de água.
- Ótimo! Agora consigo lembrar porque odeio tanto jogadores de futebol! Quanto amor! Depois da primeira briga ele já fosse com qualquer uma! Obrigada por me fazer acreditar nos seus sentimentos falsos por mim, seu babaca!!! - grito as palavras pro vento.
Limpo minhas lágrimas, jogo o celular em cima da cama e pega minha mala no canto do quarto.
Colocando pra dentro dela, o máximo de roupa que eu pude. Tudo que eu mais queria era fugir pro mais longe possível dele.
Nojo! Eu tenho nojo de mim por me deixar acreditar nas palavras dele...
Terminei de arrumar a mala guardando minha câmera e meu notebook.
Escrevi um bilhete num pedaço de papel e coloquei na geladeira.

Motivo?
Eu não queria me explicar pra ninguém, muito menos pra minha família, dizendo que eu tive o namoro mais rápido da história, e que o queridinho deles, era um completo babaca. Eu só queria fugir dos meus problemas e agir de forma covarde como sempre fiz. Nunca fui uma pessoa corajosa, porque eu seria agora?

Fui para o aeroporto, comprei a primeira passagem para Los Angeles e após minutos de espera, embarquei no avião.
Agora eu estava pronta pra fingir que nada dessa história com Neymar havia acontecido e que tudo isso não passava de um horrível pesadelo.


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