Dancing On My Own

Briga e Discussões

"Quase sempre as mulheres fingem desprezar o que mais vivamente desejam."
— William Shakespeare

《Neymar Jr》

Justin veio ao jogo assim como disse que viria.
Todos ficaram loucos com a nossa vitória, e eu não poderia me sentir tão feliz. Todas aquelas pessoas fanáticas gritando pelo meu nome e pelo do time.
A cada vitória, era sempre o mesmo sentimento, jamais mudou em todos esses anos em campo.

19:30 P.M

Depois de entrar no vestiário e tomar banho, recebi uma ligação do meu pai. Achei que era apenas mais uma ligação para desejar os parabéns como sempre, mas... Não foi bem assim. Ele começou a me contar que o Ricardo havia sofrido um acidente e que estava em coma. E eu só conseguia pensar em Samantha, em como ela estava se sentindo, se por acaso teria ido ao Brasil ou não...
Eu só consegui ter noção de tudo quando eu já estava dentro do avião, rumo ao Brasil.
Não consegui pensar em mais nada, foram apenas reflexos, como se eu apenas vivesse por ela. Nada mais importava para mim, eu só queria estar ao lado dela, e o mais próximo possível de Ricardo. Eu sentia a necessidade de estar lá.

7:00 A.M

Horas depois, chegando ao aeroporto, de longe consegui avistar Raffaela me esperando de encosto no carro.
— Porque tão cedo? — questiona com a cara toda amassada.
Rio.
— Fiz de propósito. Queria ver você de mau humor cedo da manhã. — digo a abraçando.
— Dirige ou dirijo? — pergunta ignorando meu comentário.
—  Olha pra sua cara e me explica como você chegou aqui sem bater esse carro... — digo rindo, entrando no banco motorista.
— Tinha esquecido de como você era engraçado... — diz revirando  os olhos ao entrar no banco passageiro.
— Segurança em primeiro lugar, maninha — dou uma piscadela para ela e acelero o carro.

(...)

— Tem certeza que consegue levar o carro? — pergunto a Raffaela que continua com a cara amassada da cama.
— Eu só quero voltar a dormir. Tem certeza que não quer que eu te espere? — ela pergunta olhando para o hospital atrás de mim.
— Pego um uber depois. Dirija com sabedoria, irmazinha
Ela revira os olhos e acelera o carro se distanciando.
Entrando no hospital, caminho até a moça que atendia na recepção.
— Bom dia! Teria como me informar em qual quarto está Ricardo Wegmann? — pergunto a mulher de cabelos loiros.
— Neymar? — seus olhos arregalados, me deixaram um pouco com medo. — Posso tirar uma foto com você? — ignora totalmente o meu pedido, se aproximando mais do balcão.
Tirei a bendita foto com a loira, depois dela mexer dez vezes no cabelo e então finalmente ela me passou o número do quarto, explicando- me como chegar até ele.

Abri a porta do quarto devagar, e em passos lentos adentrei o local. Ricardo estava deitado em uma maca tendo sua mão segurada pela de Samantha. Sua posição não era à mais confortável, mas o seu semblante era tão suave que aparentava estar dormindo em uma nuvem.
Me sentei na ponta da cama, e  Samantha acabou se mexendo na poltrona. Abriu os olhos lentamente e esquivou para atrás assim que entendeu que era eu quem estava ali.
— O que faz aqui? — pergunta se endireitando no assento.
Olho para seu pai e então ela se da conta de quão idiota foi sua pergunta.

《Samantha Wegmann》

— Você deveria estar aqui?
— O que quer dizer? — pergunta.
— Não tem que trabalhar?
— O jogo de ontem foi o último da temporada.
— Aah... — resmungo.
Um silêncio se instala no local. Ele analisa meu pai e questiona.
— É extremamente grave?
Respiro fundo.
— Pode ser que ele acorde, pode ser que não... — digo encarando o chão.
— Ele vai acordar — diz, tentando me confortar encostando sua mão na minha.
Pensei em tirar, mas as minhas mãos estavam tão frias, e a dele tão quente... a sensação era boa.
O barulho vindo da porta faz com que eu puxe rapidamente a minha mão para o bolso do casaco.
— Ethan? — minha reação é de quem acaba de ver um fantasma. Não que eu tenha a experiência de já ter visto um, mas posso garantir que não fica tão longe de como acabei de reagir agora.
— Oi! — ele diz entrando pela porta. Sua cara é de espanto, assim como a de Neymar quando os dois se enxergam.
— Oi! — Neymar dispara sem saber o que fazer.
— O que esse cara tá fazendo aqui? — Ethan pergunta descrente.
Neymar ri, agora já em pé.
— Eu? — fecha a mão junto do corpo.
— Tá vendo mais alguém aqui?— Ethan diz prendendo o maxilar.
— Parem! — me coloco no meio dos dois.
— Vai defender ele, Samantha? — Ethan pergunta negando com a cabeça.
— Eu não tô defendendo ninguém,  Ethan!
—  Toda essa raiva porque ela preferiu a mim? — Neymar provoca com um sorriso sinico nos lábios.
— Cala a boca! — digo encarando-o e saindo do meio dos dois.
Ethan aproveita a distância que tomei dos dois e dispara um soco na cara de Neymar, que cambalea para atrás.
— Você tá louco? — olho incrédula para Ethan enquanto tento ajudar Neymar a levantar.
Com a boca sangrando, ele me olha nos olhos e sibila "desculpa".
Fico sem entender, até ele se virar para Ethan e partir pra cima dele.
Os dois caem no chão após Ethan bater com as costas em um armário que tinha ali.
— Neymar para! — grito, enquanto tento puxa-lo para atrás.
Sem me dar ouvidos, ele soca a cara de Ethan, que revida novamente.
— Pelo amor de Deus! — grito novamente e eles parecem não me escutar.
Corro até o corredor do hospital e peço ajuda a dois médicos que conversavam ali perto.
Os dois correm para dentro do quarto e separam Ethan e Neymar com uma certa dificuldade. Os médicos puxam os dois para fora do quarto com ajuda de dois seguranças.
Duas enfermeiras chegam para auxilia-los com os machucados.
— Não precisa! — Neymar nega a ajuda e caminha até mim, que estou encarando os dois do outro lado do corredor.
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, meu celular vibra.
Olhando no visor posso ver a foto de Justin, esperando eu atender sua chamada de vídeo.
— É o Justin — digo —, preciso atender!
Neymar da uma risada debochada,  fechando a cara logo em seguida devido ao machucado no canto da boca.
— Claro que precisa! — diz com um certo sarcasmo na voz — Acho melhor eu ir pra casa e voltar amanhã,  quando nenhum dos seus namorados estiver! — diz passando por mim.
Me viro para ele que agora está de costas dando curtos passos para longe.
— Eles te incomodam?
Suas pernas travam.
— Incomodam! — responde sem se virar.
— Por quê? — arqueio a sobrancelha.
Ele se vira para mim e meu coração dispara.
— Acho melhor você atender sua ligação — diz girando nos calcanhares, ficando de costas novamente, sumindo na esquina do corredor.
Suspiro.
Olho para o celular que continua a vibrar e rejeito a chamada de Justin, me escorando na parede do corredor.
Ethan me encarava enquanto a enfermeira passava alguma coisa em seu machucado.
Ele agradece ela, levantasse e vem até mim.
— O que faz aqui, Ethan? — pergunto o encarando, parado a minha frente.
— Sua mãe ligou pra mamãe,  ela me avisou, e eu estou aqui... — explica.
— Meu pai é o único motivo de você estar aqui? — questiono.
— Eu posso ve-lo? — pergunta, ignorando completamente a minha pergunta.
Balanço a cabeça e abro a porta do quarto para entrarmos.
Ele entra e se aproxima do papai.
Justin liga novamente, resolvo atender saindo do quarto.
— Oi
— Oi! Você está bem? Parece um pouco pálida!
— Aconteceu algumas coisas de ontem pra hoje.
— Que tipo de coisas?
—

O meu pai, ele sofreu um acidente de carro, então tive que vir para o Brasil.
— O estado dele é grave?
— Ele está em coma.
— Sinto muito! Você quer que eu vá para ai?  Pego o primeiro vôo que estiver disponível!
— Nao, Justin, na verdade eu quero te dizer que... O que a gente teve nesses últimos dias...
— Nao pode continuar porque você está apaixonada por Neymar e ele por você ! — diz com um meio sorriso no rosto.
— Do que você ta falando?
— Sam, eu nao culpo Neymar por isso,  você é uma garota incrível, seria loucura da parte dele não se apaixonar por você, certo? E está tudo tudo bem!  Foram dias maravilhosos com você, mas no momento que vi como vocês se olham, já sabia o meu lugar!
— Você ta falando besteira demais, Bieber!
— Diz isso pro teu coração. — esboça um leve sorriso, mas eu podia ver a decepção nos seus olhos — Eu preciso ir agora, até qualquer hora, Sam! Melhoras pro seu pai, se precisar, me liga! — e desligou.
Antes mesmo de eu voltar a respirar, meu celular toca novamente.

Chamada de video de Ayla

— Hey!
— Oi, só consegui ligar agora, desculpa! Mas me diz, como estão as coisas?
Expliquei tudo para ela, desde a minha chegada ao Brasil, até a briga entre Neymar e Ethan, e o momento de desabafo com Justin.
— Ele ta ai dentro?
Confirmo balançando a cabeça.
— E ele não disse sobre vocês?
— Não... Você acha que...
— Que ele quer voltar com você? Acho!  Pelo menos é o que perece, pelo jeito ele teve aqui hoje mais cedo.
— Do que ta falando?
— Ele não te contou?
—Nao!? Como assim ele esteve hoje aí?
—Ele passou aqui procurando por você, ai eu contei sobre o teu pai e que você tinha voltado para o Brasil, e ele disse que iria atrás de você !
— Eu vou desligar, depois a gente conversa!
— Nao vai fazer besteira.
Desligo  sem dar ouvidos ao que ela acabara de dizer e entro no quarto.
— Porque você mentiu pra mim, Ethan?
Ele me olha assustado.
— Você me assustou, baby!
— Sem "baby", Ethan!  Tô falando sério, da pra me responder? — autero meu tom de voz.
Ele vem até mim, me pegando pela mão, me guiando até o corredor.
— Me solta, Ethan!
— Da pra você ficar calma?
— Quem brigou a poucos minutos atrás aqui, foi você, não eu!
— Certo! Me escuta, eu não te contei sobre ter passado na casa da Ayla porque o que eu queria, e ainda quero,  é reconquistar você, ficando perto, Sam! Eu me arrependi de ter dito aquelas coisas aquele dia, e eu não posso, eu não consigo viver sem você, então... Achei melhor nao contar nada e apenas ficar por perto, talvez assim, você perceba a burrada que fizemos nos separando por um idiota!
Rio.
— Neymar não é um idiota, Ethan!
— Você mudou tanto em tão pouco tempo!  — diz surpreso.
— Eu mudei? — encaro-o.
— Primeiro você fica com a celebridade do futebol, um mês depois é a celebridade da música! Você quer mesmo continuar me encarando como se eu tivesse falado algo absurdo?
Fico em silêncio.
Ele suspira e volta a falar.
— O que quero dizer... É que quem te ama de verdade sou eu, Samantha. E o que mais quero é realizar os planos que fizemos juntos !
— Ethan... não vai existir mais "nós,  porque eu não vou voltar pra L.A.
— Você só ta dizendo isso por causa do seu pai, Sam! Quando ele melhorar  você vai pensar diferente, eu sei disso, te conheço.
— Não, Ethan, você nao me conhece!  Eu mudei, você mesmo disse isso. Agora por favor, vai embora, o dia de hoje ja foi longo o suficiente pra mim...
Ele confirma com a cabeça, mas antes de ir, diz:
— Só nao esquece, Sam! Eu tentei!
E deu as costas, me deixando sozinha ali, como há um tempo atrás.
Isso se pareceu tanto com a minha adolescência:
Os garotos chegam sem avisar, me machucam, deixam tudo de pernas pra cima e vão embora como se nada tivesse acontecido.

Me deitei na poltrona novamente e cochilei de mãos dadas com papai.